Viamão/RS, 4 de novembro de 2005
Quando a história se repete ciclicamente, ela é considerada como farsa. Ou, como disse um ex-petista
Há todo um arsenal de técnicas e serviços que podem
Novembro de 2005 marca o sexto mês de crise política consecutiva deflagrada justamente por uma entre tantas operações executadas por terceirizados da ABIN. E, parece que a capacidade de
Vejamos a
Fugindo ao padrão, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) também se disse ameaçada e sob vigilância. Não haveria motivo aparente para isso, a não
Voltando a oposição, o caso que aparenta
Para
Uma vez que a lista de casos aumenta a cada dia e os fatos são de uso público, parto da premissa que os leitores deste artigo já tem mais detalhes dos ocorridos. Cabe portanto a análise e as relações de
Fora o lado pitoresco da história, há dois debates para serem feitos. O primeiro é bem prático e tem relação direta com a famosa governabilidade. Qual a relação direta da ABIN com esses eventos? Em tese, o cliente preferencial (embora não o único) da Agência é o presidente. Portanto, se estas operações existirem de fato, e essa probabilidade é grande, há uma chance real delas serem executadas pela ABIN. Caso isto se concretize, o único espanto é o fato da Agência e o GSI, ou seja, a parcela mais visível da comunidade de informações,
É até uma hipótese plausível, mesmo porque a estrutura de comando do GSI foi indicada pela caserna e não pelo PT. Este grau de respeito é bem visto pela comunidade e sempre rende bons frutos. Depois da queda do delegado da Polícia Civil de São Paulo, Mauro Marcelo Lima e Silva, assume o cargo de diretor-geral da espionagem brasileira um homem de dentro. Márcio Paulo Buzanelli é profissional de carreira, opera na estrutura do SNI desde meados da década de ’70 e antes de
Se e caso não for a ABIN a coordenadora da vigilância intimidatória, então o núcleo duro está terceirizando mão de obra e contratando esquemas paralelos. É sabido, contatos e empresas nunca faltam para esse tipo de serviço. O maior problema é chamar gente limpa, que não vai vazar informação ou vender fita de conversa grampeada. Uma vez que os partidos de apoio ao governo, o segundo escalão da aliança (PP, PTB, PL e setores do PMDB) já acumularam vários governos estaduais, não é difícil imaginar a contratação de gente que servira nos órgãos de inteligência das secretarias de segurança, assim como nas polícias civis e militares.
Na opinião deste analista, esta hipótese é um pouco mais plausível do que a primeira. Nunca é demais lembrar que o pessoal concursado da ABIN não totaliza 8% de seu contingente. Embora sejam mais que habituados a vigilância política, estes agentes vem de uma longa e duradoura gestão em democracia. Por oito anos o general Alberto Cardoso esteve à frente da inteligência de FHC, concluindo seu governo com a estrutura GSI-ABIN montada. Ao mesmo tempo que os militares indicaram ao general Jorge Félix para o GSI, Alberto Cardoso assegura o prolongamento de sua gestão na forma indireta, garantindo a professora Marisa Almeida Del’Isola e Diniz na direção-geral da ABIN. Já o pessoal dos estados é mais abundante, e por isso mesmo, menos controlável. Mesmo assim, com ou sem agentes da ABIN operando na vigilância de parlamentares, a conjuntura é grave.
O segundo debate é sabermos quais os limites do jogo político. Não nos referimos ao que consta na lei, muito menos nos mandamentos do liberalismo clássico, aquele famoso dos três poderes e da imprensa livre. Se a falta de limite dos operadores da política e das grandes corporações econômicas atuando no Brasil tem pouco ou nenhum limite, então porque se esperar um limite para seu modus operandi?! O maior problema desta idéia tão simples e prática, é que a mesma implica na incorporação de um conceito. Isto é, analisar a política a partir de seu Jogo Real. Ou seja, tudo aquilo que os operadores farão, dentro de um determinado constrangimento da estrutura e das contingências. Lembramos, este contingenciamento tem pouca ou nenhuma relação com os limites legais. Admitir isso, embora seja mais realista, é passarmos a contar que a política brasileira é um simples vale-tudo. Pior até, é muito mais perigoso do que as lutas com esse mesmo nome, até porque a modalidade desportiva tem algumas regras e limites. Limites estes cada vez menos perceptíveis na política brasileira.
Uma das poucas chances deste entrevero se resolver seria a intervenção da PF, entrando com peso e apurando tudo. Considerando o papel de membro do núcleo duro que o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos vem exercendo, a probabilidade disto ocorrer é mínima. Se o clima está quente agora, em novembro de 2005, ficará insuportável em agosto de 2006. Como se pode perceber, a corrida atrás de arapongas e dossiês já começou.
A história da política brasileira torna a repetir-se, como farsa democrática e tragédia para os anseios populares.
Este artigo foi originalmente mente publicado no blog de Ricardo Noblat, no dia 4 de novembro de 2005 (6ª feira). Na versão desta página, aumentei pouco mais de 2 parágrafos da primeira versão.