Atiçando as idéias de ódio no Brasil, Bolsonaro ajuda a incorporar uma antiga alegoria do fascismo tupiniquim, o das galinhas verdes, cujo episódio mais marcante fora a Batalha da Praça da Sé, onde os organismos de auto-defesa dos sindicatos ainda livres fizeram valer as suas vontades políticas pela via dos fatos. Cuidado. O que hoje é uma piada pode voltar a galvanizar a imbecilidade em forma orgânica.  - Foto:mazungue
Atiçando as idéias de ódio no Brasil, Bolsonaro ajuda a incorporar uma antiga alegoria do fascismo tupiniquim, o das galinhas verdes, cujo episódio mais marcante fora a Batalha da Praça da Sé, onde os organismos de auto-defesa dos sindicatos ainda livres fizeram valer as suas vontades políticas pela via dos fatos. Cuidado. O que hoje é uma piada pode voltar a galvanizar a imbecilidade em forma orgânica.
Foto:mazungue

07 de abril de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Jair Bolsonaro é capitão Pára-quedista do Exército Brasileiro, deputado federal em seu sexto mandato e nunca pecou por excesso de zelo. Ao contrário, quem acompanha a sua carreira política e os respectivos pronunciamentos públicos se dão conta de que o próprio construiu para si um personagem de duplo papel. De um lado, porta-se como político profissional que cuida da própria base, acolhendo as demandas e reivindicações dos militares das três forças e corporações auxiliares. De outro, é legítimo viúvo da ditadura, enclausurado em discurso moralista, advogando uma defesa irredutível dos bons costumes da moral conservadora. A “novidade” entre a constatação e o efeito bombástico após sua intervenção no programa humorístico CQC, veiculado pela Rede Bandeirantes na segunda 28 de março, foi a difusão midiática.

Ao fazer a ponte entre a defesa da ditadura e a pregação da cultura do ódio, abre-se uma brecha perigosa, onde alguns demagogos (no sentido weberiano do termo) podem acumular capital político mexendo com os brios de gente com instrução mediana e recalque avançado. Assim o foi na igualmente famigerada Ação Integralista Brasileira (AIB), cujo líder máximo, Plínio Salgado, terminou servindo ao regime defendido por Bolsonaro. Tal como o capitão Jair, o crítico literário Plínio obtivera mandatos de parlamentar federal, sendo os dois últimos pela ARENA, partido admirado pelo deputado Pqd.

Plínio Salgado hoje poderia ser ridicularizado assim como ocorreu com o renomado cardiologista Enéas Carneiro e o moribundo PRONA. Por sorte dos cidadãos, por vezes a extrema direita não chega a ser séria. O Dr. Enéas passou de médico respeitado a caricatura de si mesmo, resumindo sua proposta de tipo Brasil Grande – bem ao gosto da linha dura do anterior regime – a um bordão risível. O integralismo foi bem mais duro e conseqüente do que seus herdeiros da Nova República, sabendo se reciclar ao ponto de disputar eleições no interregno democrático entre o Estado Novo e a Ditadura, atuando através do Partido de Representação Popular.

A diferença entre Plínio Salgado e Enéas Carneiro é que o primeiro organizou um partido de tipo fascista que depois de “reciclado”, adere ao jogo político institucional para seguir operando. Enéas tinha uma sigla, mas jamais uma organização política, assim como Bolsonaro, detentor de mandatos e não de máquinas partidárias. Quando a pregação de intolerância passa de um indivíduo para um grupo organizado, aí termina a piada e começa o perigo.

Artigo originalmente publicado no bolg de Ricardo Noblat

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