Velho amigo da milicada, José Ribamar agora interpreta o tribuno preocupado com as grandes causas que abalam o cotidiano trágico da maioria dos brasileiros.  - Foto:ciadaescola
Velho amigo da milicada, José Ribamar agora interpreta o tribuno preocupado com as grandes causas que abalam o cotidiano trágico da maioria dos brasileiros.
Foto:ciadaescola

14 de abril de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

O Brasil é o país dos paradoxos cuja política é o reino das circunstâncias. As feridas e cicatrizes derivadas da tragédia de Realengo forçam o uso de um instrumento de democracia direta como o plebiscito, no caso, sobre a proibição de comercializar armas de fogo. Nada tenho contra os plebiscitos e sim contra o oportunismo dos mentores.

Não há dúvida, o dia 7 de abril de 2011 marcará para sempre a vida dos brasileiros.
A chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira poderá ter efeitos de longo prazo, tanto para a vida das crianças sobreviventes, como para o imaginário das escolas públicas brasileiras. Pode ter porque sempre existe a possibilidade da experiência traumática não resultar em aprendizado coletivo. Ocorreram outros episódios de mundo cão vividos na capital fluminense já no período democrático e pouco ou nada se fez. O Rio passou pelo seqüestro do ônibus 174, chacinas da Candelária e Vigário Geral, as mães de Acari, os deslizamentos de 1988 e dezenas de outros mais. A cada tragédia, ao invés de se buscar uma saída de longo prazo, o clamor marca o curto prazo da política.

O comportamento dos profissionais da política no Poder Legislativo é dúbio. Suas agendas permanentes são marcadas por acordos de alianças, interesses paroquianos, patrimonialistas e pautas específicas onde se especializam. Já as temáticas emergenciais se orientam pelo agendamento da mídia e o clamor popular, dos redutos eleitorais ou setores representados.

A atividade enérgica do senador pelo Amapá (PMDB), o maranhense José Sarney no episódio materializam os conceitos acima. Nada pode ser mais antidemocrático do que sua trajetória política e a forma como exerce o controle sobre o mui nobre e ilibado Senado da república. Circunstancialmente, após o ato desumano de Wellington Menezes de Oliveira, José Ribamar passa a ser defensor do mais democrático dos mecanismos de consulta, apelando para um colégio de líderes cujos membros querem livrar-se da pecha de pertencerem a “bancada da bala”. Isso se chama senso de oportunidade, tal como na linguagem publicitária, onde se lançam apelos emotivos relacionados com datas temáticas para o consumo.

Infelizmente, trata-se de paliativo. A maioria das armas em mãos criminosas, ou saem dos paióis das forças da ordem ou entram no país de contrabando. A única boa notícia é quanto ao uso do plebiscito. Isto pode dar a partida para uma nova forma de fazer política, onde as decisões fundamentais da sociedade passem pela decisão das maiorias.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.

Obs do autor: Por vezes, uma idéia é tão estapafúrdia que apanha de todos os lados. O caso do plebiscito costurado às pressas pelo “pacifista” José Ribamar e seu entorno, é onde se materializa o conceito. Da OAB ao brioso portal Estratégia & Análise (não comparando as dimensões, é claro), quase todos estamos contra a convocatória desta consulta pública – já consultada recentemente sob outra forma – e muitos somos mais que a favor de uma série de consultas de decisões de tipo fundamental na sociedade brasileira. Com o perdão da redundância, o oportunismo da direita que se encontra no governo e tenta pegar carona na tragédia de Realengo é o mesmo da direita oposta ao governo a criticar os ex-aliados da Arena (Sarney e cia.) que hoje posam de democratas diretos. Será que cada povo tem as direitas que merece? Para os brasileiros e brasileiras, que tipo de sina e via crucis estamos todos a pagar com juros da Selic para tamanha desfaçatez?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *