A coalizão e o apoio de sindicatos e fortes associações civis, encorpa o movimento originalmente composto por estudantes e indignados. Pouco a pouco, o movimento social no coração da besta Imperial redescobre a si mesmo e a potência das raízes radicais da democracia americana.  - Foto:occupywallst.org
A coalizão e o apoio de sindicatos e fortes associações civis, encorpa o movimento originalmente composto por estudantes e indignados. Pouco a pouco, o movimento social no coração da besta Imperial redescobre a si mesmo e a potência das raízes radicais da democracia americana.
Foto:occupywallst.org

07 de outubro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Se algo é essencial em qualquer estrutura de domínio, além de forjar o consentimento da maioria silenciosa, é afirmar símbolos comuns. Os ícones representam mais que a si mesmos, sendo síntese de uma proposta civilizatória. Para o capitalismo praticado em escala global e propagado através dos Estados Unidos, o epicentro do poder está no número 11 de Wall Street, cidade de Nova York, onde se localiza a Bolsa de Valores (NYSE). A ocupação simbólica deste espaço geográfico pode não ter conseqüências políticas diretas, mas representa um soco no fígado do capital financeiro.

É curioso observar como a ação começa. Tem momentos em que a vida imita a arte, ou ao menos, as versões mais agitadas desta. Numa passagem do filme Capitalismo: uma história de amor (2009) de Michael Moore, o diretor enrola a entrada da sede Bolsa de Valores de Nova York com fita de isolamento para cenas de crime, e antes tenta executar uma prisão – como cidadão – da diretoria da empresa de seguros AIG. Obviamente que Moore é reprimido e chega até a apanhar da segurança privada. De tão relevante, a idéia permaneceu.

Na edição de 13 de julho, o grupo de ativistas culturais Adbusters.org publica na contracapa do número 97 de sua revista impressa uma convocatória para que, no dia 17 de setembro, milhares de cidadãos estadunidenses ocupassem a Wall Street, reproduzindo em Nova York um momento como da Praça Tahrir, de Cairo, capital do Egito. Para espanto dos proponentes e desespero dos entusiastas da especulação financeira, 5000 pessoas marchavam neste dia, atendendo a convocatória despretensiosa. De lá para cá, o movimento segue ativo, espalhando-se por outras cidades da superpotência e defrontando-se com a espiral do silêncio da mídia corporativa deles e, como era de se esperar, uma escalada repressiva.

A revolta das pessoas com um nível de informação razoável é saber que as máximas: “grande demais para falir” (too big to fail) e “grande demais para ir preso” (too big to jail), são simplesmente reais. Isto foi demonstrado em reportagens de fôlego por centros de jornalismo cidadão como Propublica.org e IwatchNews.org. Neste bojo, documentários como Trabalho Interno (Charles Ferguson, 2010) e o predecessor sobre a falência fraudulenta da empresa de energia Enron (Alex Gibney, 2005) sedimentaram um terreno mais que fértil para a revolta cidadã.

Diante dos efeitos nefastos que a “fraude com nome de crise financeira” vem causando, não se pode desconsiderar a acumulação de forças que um ato como a ocupação de Wall Street traz consigo.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

Obs1: o portal Estratégia & Análise, com a modéstia e a tenacidade de sempre, soma-se às palavras de Noam Chomsky, empunhando lanças contra o gangsterismo do capital financeiro e seus asseclas midiáticos.

Obs2: diante do dever de ofício e do posicionamento junto às barricadas do pensamento crítico, membros deste portal participam de um esforço do Grupo de Pesquisa Cepos (Comunicação, Economia Política e Sociedade) em decifrar e denunciar a “fraude com nome de crise” e tomaram a iniciativa de fundar, dentro do Grupo, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG). Posicionamo-nos ao lado dos 99% mirando nas teses e enunciados fraudulentos dos 1% dominantes.

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