15 de outubro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Fico à vontade para tecer críticas sobre a realização de grandes eventos esportivos no Brasil porque, nesta publicação, desde o fatídico Pan de 2007 no Rio, venho analisando as estruturas de poder que faturam – e muito – nestas ocasiões.
Ao mesmo tempo, seria leviano afirmar que organizar competições dessa magnitude seja pouco relevante tanto para o esporte brasileiro como para a projeção do país e o desenvolvimento de nossa auto-estima. O problema é outro e diz respeito aos modelos de negócios implantados pelas entidades internacionais e o abrir mão de soberania dos Estados anfitriões.
Não vale à pena entrar aqui em detalhes contratuais e tampouco retomar uma periodização histórica para provar que a complexa realização de um grande evento internacional opera como rolo compressor na interna de um país. Basta recordar um caso. Se organizar algo desta envergadura fosse redenção nacional, o México já teria completado seu ciclo de “modernização”.
A capital mexicana recebeu os Jogos Olímpicos de 1968, e dezenas de cidades foram sedes das Copas do Mundo de 1970 e de 1986. Nenhuma destas ocasiões modificou as formas de domínio interno. Justo ao contrário.
O conceito se materializa no mórbido Massacre da Praça de Tlatelolco – exemplo latino-americano de terrorismo de Estado – que ocorrera em 2 de outubro de 1968, faltando apenas dez dias para as Olimpíadas.
No Brasil atual, vivemos o pacto de governabilidade e um elevado grau de contenção social. Portanto, os poderes de fato não devem temer a rebeldia de seus cidadãos e sim, ao contrário, é a cidadania que deveria chocar-se com os desmandos dos governantes e os oligopólios econômicos a estes associados.
No caso da Copa do Mundo, o problema ultrapassa os contratos super faturados e os orçamentos infindáveis.Trata-se da aplicação de mecanismos de chantagens caso os poderes legítimos da república não acatem as determinações da “mui nobre e ilibada” FIFA, vide o último processo sucessório e o affaire Joseph Blatter e Andrew Jennings.
O modelo de negócios imposto por esta entidade é um contrato de porteira fechada, onde os patrocinadores oficiais do evento subordinam a vontade popular antes e durante sua realização. Não espanta tamanha polêmica para a aprovação da Lei Geral da Copa e as terríveis conseqüências para países sede em termos de déficit e incapacidade de manutenção dos equipamentos esportivos. Realizar a Copa sob comando da FIFA e da CBF é como reabrir os portos para as “nações amigas” e os aliados internos.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.