Em meio aos protestos contra Wall Street, um grupo em Nova York defende que os clientes dos megabancos transfiram seu dinheiro para cooperativas financeiras locais e sem fins lucrativos. - Foto:Devin Smith (CC-BY)
Em meio aos protestos contra Wall Street, um grupo em Nova York defende que os clientes dos megabancos transfiram seu dinheiro para cooperativas financeiras locais e sem fins lucrativos.
Foto:Devin Smith (CC-BY)

24 de novembro, de Nova York, Amy Goodman


Menos de um mês após o início do Occupy Wall Street, um grupo de pessoas se reuniu no histórico Washington Square Park, em Nova York. Tratava-se de um momento de ascensão do movimento, com cada vez mais participação de milhares de estudantes que vão às universidades da zona da Baixa Manhattan. Tomou-se a decisão de marchar em direção às filiais locais de dois dos bancos “grande demais para cair” com o objetivo de que alguns ativistas encerrassem suas contas e os demais realizassem ali uma assembléia para falar sobre os problemas que estas instituições irresponsáveis geraram.

Segundo uma ação federal apresentada esta semana em Nova York, Heather Carpenter é uma jovem que estuda para obter seu diploma de auxiliar de enfermagem e trabalha como assistente terapêutica de pessoas com deficiências mentais numa casa comunitária em Long Island para poder pagar seus estudos. Seu namorado, Julio José Jiménez-Artunduaga, é um imigrante colombiano em busca do sonho americano, que trabalha como garçom. Ambos marcharam de Washington Square Park até a filial mais próxima do Citibank. Ao chegar no banco, Heather se dirigiu ao caixa para encerrar sua conta após explicar sua decepção com a nova tarifa mensal de 17 dólares que o Citibank cobra às contas com saldos inferiores a seis mil dólares.

Como descreve a ação, a assembléia começou com os “participantes anunciando o montante de suas dívidas. Falaram também de suas experiências com empréstimos estudantis e enumeraram estatísticas vinculadas à dívida dos estudantes já egressos”. Quando o banco chamou a polícia, Julio saiu para evitar qualquer tipo de confusão. Heather encerrou sua conta e também se mandou. Nesse momento, apareceu um grande número de oficiais do Departamento de Polícia de Nova York, entre eles o Chefe de Departamento, Joseph J. Esposito, que, assim como outros policiais, estava vestido de civil. A polícia entrou no banco, trancou as portas e começou a prender quem estava participando da assembléia.

Apesar de Heather já estar do lado de fora, um oficial vestido de civil a identificou como manifestante e lhe disse para voltar ao banco. Ela falou que era uma cliente e mostrou seu recibo. Para seu espanto, como documentam as câmaras de vídeo, o oficial a pegou por trás e a empurrou para obrigá-la a voltar ao local. A estudante começou a gritar e, em questão de segundos, apareceu no saguão cercada por uma dúzia de policiais onde foi algemada à força e presa. Julio também foi tratado com brutalidade e preso. Tudo isso por encerrar uma conta no Citibank.

O casal ficou por mais de 30 horas em custódia policial e foi acusado de resistir à prisão e de invadir propriedade privada. Um mês depois, o escritório da Promotoria do Distrito de Nova York afirmou que vai retirar as acusações quando Heather e Julio comparecerem ao julgamento. De todo modo, os dois querem ver no tribunal o Chefe Esposito e os demais oficiais que os prenderam para exigir-lhes uma explicação pelo uso excessivo de força exercido pelos policiais, além da prisão ilegal.

Semanas depois de sua prisão, que ocorreu no dia 05 de novembro, milhares de pessoas de todo o país participaram do chamado “Dia da Transferência Bancária”. Kristen Christian estava furiosa com o anúncio de que o Bank of America iria cobrar uma comissão mensal de cinco dólares pelo uso do cartão de débito. Criou um evento no Facebook e o compartilhou com seus amigos. Em pouco tempo, o Dia da Transferência Bancária contava com 85 mil seguidores na Internet.

Kristen informou que nesse dia foram criadas novas 40 mil contas em cooperativas de poupança e crédito sem fins lucrativos em todo o país. Afirmou que a cota de cinco dólares, que o Bank of America tinha eliminado até então, “mostra o pouco contato que os executivos dos grandes bancos possuem com as pessoas… No caso do Bank of America, a cota só se aplicava a titulares que tinham menos de 20 mil dólares depositados na soma de todas as suas contas. Não podia apoiar uma empresa que tem como alvo direto de seus lucros os mais pobres e a classe trabalhadora”.

Pouco depois da crise financeira de 2008, ativistas do estado de Oregon começaram a defender a criação de um banco público na região, tomando por modelo o único banco estatal dos Estados Unidos, o de Dakota do Norte. Atualmente, as cidades de Portland e Seattle consideram sacar suas grandes contas municipais dos bancos de Wall Street. De acordo com um relatório, o Bank of America poderia perder U$ 185 bilhões de clientes que encerrassem suas contas.

Em janeiro de 2010, foi criado o Move Your Money Project, um projeto que estimula as pessoas a passarem suas economias para bancos locais sem fins lucrativos a fim de acabar com o financiamento dos megabancos de Wall Street. Seus criadores publicaram um vídeo inspirado no filme de 1946 “Que belo é viver!” (It’s a wonderful life), no qual o protagonista, George Bailey, luta para proteger os consumidores do mesquinho presidente do banco, o senhor Potter. Como Bailey diz na película: “Esta cidade necessita desta miserável e insignificante instituição ainda que seja tão somente para que as pessoas venham a este lugar sem ter de cair de joelhos ante Potter”. O vídeo do Move Your Money acaba com a seguinte mensagem: “Se deixa seu dinheiro nos grandes bancos, eles o usarão para pagar seus lobistas e assim evitar que o Congresso modifique o sistema… Não apenas assista ‘Que belo é viver!’… Saque seu dinheiro do banco”.

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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2011 Amy Goodman

Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps y Democracy Now! em espanhol,

Esta versão é exclusiva de Estratégia & Análise para o português. O texto em espanhol é traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto e revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.

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