02 de março de 2012, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Neste artigo, exponho o conceito de desinformação como elemento chave para compreender como a narrativa midiática criminaliza o ato de protesto social. Dá carne ao conceito o ocorrido no fim de tarde da última segunda-feira, 27 de fevereiro, quando um grupo aproximado de 300 pessoas em sua maioria adolescentes estudantes secundaristas, saiu do colégio Júlio de Castilhos em marcha contra o aumento da passagem de ônibus em Porto Alegre. A passeata seguiu pelas ruas dos bairros próximos, culminando na prefeitura da capital.
O ato de protesto implicava uma entrega de reivindicações da coordenação de entidades estudantis, sociais e sindicais que dali participava, para o poder público do município. O resultado da negativa do representante do prefeito José Fortunati (PDT) em receber a carta de reivindicações foi um empurra-empurra entre manifestantes e guardas municipais, concluindo com a chegada do 9º BPM, terminando com uma dose generosa de spray de pimenta e cacetadas.
O saldo foi um sindicalista de cabeça rachada e uma celeuma quanto “a baderna”, vociferada pela mídia local, com destaque especial para alguns jornalistas que se arvoram em defensores da ordem e da paz social.
Na manhã da terça, 28 de fevereiro, através dos microfones locais, os agredidos se tornam agressores e a força policial militar, cuja campanha salarial implicou em ações de sabotagem, quando dezenas de bonecos e pneus foram queimados em ruas e estradas do Rio Grande, é alçada à condição de guardiã da “democracia”.
Imediatamente após o ato, vem uma interpretação falsa, afirmando que o movimento teria fins eleitoreiros, já que estamos em ano de pleito. Ora, toda autoridade eleita quando é convocada a defender seu governo de turno também promove seus candidatos e legendas.
Além do mais, é direito político do cidadão se organizar para causas coletivas em partido, movimento, sindicato. O conceito de partido político ultrapassa e muito a rotina eleitoral, não sendo “natural” a relação entre organização política e a finalidade de eleger representantes.
Para completar a narrativa absurda, o ato contra o aumento das passagens ocorre há pelo menos uma década em Porto Alegre; bastando uma simples interpretação de cores e agremiações para concluir que as forças não eleitorais do ato, eram ao menos a metade de sua composição.
Curiosa ironia. Num país onde ninguém é de direita, quando a esquerda aparece, os políticos profissionais e suas mídias de confiança são os primeiros a reclamar.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.