Em 2009, a então senadora Ideli Salvatti (PT) trocou afagos com o presidente do Senado Federal, o sempre vivo e bem articulado José Sarney (PMDB). Qualquer semelhança do fato com a ideia de governabilidade não é mera coincidência. - Foto:Jorna Pequeno
Em 2009, a então senadora Ideli Salvatti (PT) trocou afagos com o presidente do Senado Federal, o sempre vivo e bem articulado José Sarney (PMDB). Qualquer semelhança do fato com a ideia de governabilidade não é mera coincidência.
Foto:Jorna Pequeno

22 de março de 2012, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Tem momentos que a análise política cansa. Não o trabalho de mergulho ou o estudo de profundidade, pois esta modalidade – embora mais trabalhosa – sempre empolga. O problema é analisar o dia a dia do presidencialismo de coalizão somado ao pacto de governabilidade.

Entra ano e sai ano e digitamos laudas sem fim do mesmo dilema: a barganha política acalma as partes, mas opera como lobotomia ideológica, exterminando o que restara de idéias coletivistas após anos de governo de centro-esquerda não classista.

Desculpem a falta de paciência,mas entendo que a lógica que operara o suposto Mensalão – do ponto de vista da tal da governabilidade – está correta. Afinal, esperar o que ao dividir orçamentos, contratos, compras de governo, possibilidades de licitação, preenchimento de milhares de cargos de confiança, tudo através de acordos na macro-política tecidos com relações pouco ou nada republicanas?

Para aqueles que julguem como exagero, convido a analisar o embate entre PT e PR, a “rebeldia” da base aliada – em especial a de ex-arenistas a pulular no PMDB e PP – assim como a motivação factual da maioria das trocas de ministros de Dilma até o momento.

Alguns colegas dirão tratar-se da real politik – conceito elevado às alturas da ciência por Lênin -, outros citarão o exemplo da fábrica de salsichas e o parlamento e os mais eruditos evocarão autores que “naturalizam” as oligarquias partidárias. Puro conformismo de ocasião.

É triste constatar que o governo de Dilma, assim como o de Lula, promoveram um aumento da renda do brasileiro e sua qualidade de vida, mas não se preocuparam em alterar a natureza das formas de se fazer política profissional no Brasil.

Alguns colegas – analistas e estudiosos acadêmicos da política – escrevem artigos e teses justificando o modus operandi como única forma de convívio tolerável com o modus vivendi de caciques partidários. Pode até ser, mas isto opera como efeito narcotizante da boa política.

Governar a qualquer custo e com qualquer um que aceite entrar na disputa interna por nacos de poder (na corrida de porcos por lavagem, segundo a ciência política dos EUA), mesmo que para o bem de todos, não conforma necessariamente um bom governo, mas apenas o melhor possível desde que o andar de cima da pirâmide social não se sinta incomodado.

Conforme já disse em outras ocasiões, há diferença substantiva nas realizações da Era Lula com a de FHC. Porém a cultura política é exatamente a mesma, assim como a sanha dos “aliados”.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

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