08 de abril de 2012, Bruno Lima Rocha
As conversas gravadas entre o senador pelos Democratas (DEM) de Goiás, Demóstenes Torres e o empresário de jogos ilegais, conhecido como Carlinhos Cachoeira nos oferece uma verdadeira aula de comunicação e política, dando chance de pôr carne nos conceitos. Ao mesmo tempo, gera a irresistível especulação de fim do estilo da antiga União Democrática Nacional (UDN), herdeira dos discursos inflamados de Carlos Lacerda, gênio da política que gerara termos como “o mar de lama”.
A legenda de Demóstenes, o DEM, seria hoje a face “puro sangue” da UDN. Vale lembrar que o diminutivo é uma renovação do combalido Partido da Frente Liberal (PFL), racha civil dos apoiadores da ditadura que se aliaram a Tancredo. A diferença entre os antigos aliados se dá no fato de que os pefelistas – à altura de um Antônio Carlos Magalhães – se mantiveram na oposição ao governo de centro-esquerda, mordendo mais duro que o tucanato recalcitrante, seus aliados de oito anos. O antigo PDS que apoiara Paulo Maluf no Colégio Eleitoral incorporara o estilo de seu líder nacional – o próprio já citado – assim como oligarcas, tipificados no impagável pernambucano Severino Cavalcanti. Esse emblema mais fisiológico deixou a direita ideológica nas mãos do DEM, combinando defesas de um liberalismo duro com o moralismo republicano inegociável.
Sabe-se que há uma autonomia relativa entre discurso e prática política, sendo que esta reflete sobre a imagem pública de tributos e chefes de homens e recursos. Por sorte no Brasil não nos intrometemos na vida privada dos políticos, ao contrário dos EUA, por exemplo. Mas, há limite para esta tolerância. Não é possível transformar a aparência em evidência sem pagar um preço alto. Um tribuno da moral, acusador incansável, não pode ser flagrado como o foi Demóstenes. Seria o mesmo que filmar um pastor neopentecostal numa festa de arromba (como os da “saudosa” Mary Jeane Corner). Quem não se lembra da oração dos aliados de Arruda após receberem uma parcela do Mensalão do DEM? Judicialmente pode até não dar em nada, mas o alvo de investigação torna-se um cadáver político, ou homem bomba, se seguir o “saudável” exemplo de Roberto Jefferson.
Pelo visto Demóstenes Torres não cairá atirando, e tampouco levando consigo correligionários e conterrâneos de Goiás e arredores. Mesmo assim, é possível que deste baque, o DEM sobreviva, mas jamais consiga ressuscitar o espírito da UDN, tão bem encarnado no procurador de Justiça amigo do empresário de atividades heterodoxas.
Obs final: piada infame, mas irresistível. Aqueles que com Dimas feriram – embora não concluíssem a execução política – se afogam em cachoeiras de lama!
Este artigo foi originalmente publicado, com outro título, no blog do jornalista Ricardo Noblat, no dia 04 de abril deste ano.