O pastor e deputado federal pelo PSC de São Paulo, Marco Feliciano, tem trajetória no mínimo polêmica e é alvo da revolta de grupos de defesa dos DDHH e movimentos reivindicatórios.  - Foto:jorgenilson
O pastor e deputado federal pelo PSC de São Paulo, Marco Feliciano, tem trajetória no mínimo polêmica e é alvo da revolta de grupos de defesa dos DDHH e movimentos reivindicatórios.
Foto:jorgenilson

14 de março de 2013, Bruno Lima Rocha

 

Parece piada, mas é tragédia. O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é mais uma das faces grotescas, embora coerentes, da política profissional brasileira. Coerentemente, a maioria dos parlamentares, dirigentes partidários e ocupantes dos primeiros escalões dos três níveis de governo atua segundo os critérios da sobrevivência e da conveniência. Quando o alagoano Renan Calheiros foi eleito para a câmara alta e o potiguar Henrique Eduardo Alves para comandar a mesa dos deputados federais, o Brasil viu-se de joelhos perante uma legenda operando como federação de oligarquias e coligação de interesses.  

Agora, o Legislativo expõe suas vísceras ao indicar um criacionista para uma Comissão que deveria defender o pensamento de vanguarda. Vale lembrar que Feliciano é pregador da Igreja Assembléia de Deus estando à frente do Ministério Tempo de Avivamento. Este ramo foi fundado por ele “através de uma visita do senhor de forma sobrenatural” segundo o domínio da internet que leva seu nome. Quando alguém afirma tamanho absurdo e é eleito deputado federal, pouco resta a comentar além da indignação.   

 

Nada disso aconteceria, e este tipo de político jamais seria eleito, se o país tivesse uma severa Lei Anti-Seita e não houvesse tamanha permissividade na venda de horários nas grades de programação nos canais de TV privada. Vale a mesma crítica em escala maior, pois o Brasil convive com canais inteiros sob controle de entidades religiosas, dedicando boa parte ou a totalidade de sua programação para o proselitismo da fé. Em uma sociedade de iletrados, onde o analfabetismo funcional atravessa as opções pelo voto, pregar crendices como se fossem bênçãos é mais fácil do que explicar os mecanismos inflacionários ou os fatores estruturais da desigualdade. A ignorância transformada em poder político fortalece a bancada neopentecostal. 

 

Feliciano é outro reflexo do abismo ideológico, pois a sensível melhoria da qualidade de vida dos brasileiros não veio acompanhada de um câmbio de mentalidades nas classes baixas. O resultado é esta combinação grotesca de representação política baseada no conservadorismo popular e teologia da prosperidade. No vale tudo pela tal da governabilidade, o loteamento de cargos e funções indicou o pregador da ignorância para um posto sensível. Ainda bem que houve reação popular. Agora é questão de tempo até que seja derrubado da referida presidência para salvar a imagem de aliados e correligionários.  

 

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

 

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