Região Metropolitana do RS, Dijair Brilhantes (estreando) e Bruno Lima Rocha
A CBF e a Copa
Escrever após a derrota que causou a eliminação brasileira em mais uma Copa do Mundo, é muito complicado. Afirmamos isso não por achar que o futebol é tudo na vida, e que uma derrota é o fim do mundo. O problema vai muito além e passa pela forma de quem comanda a paixão dos brasileiros. A Confederação Brasileira de Futebol e seus dirigentes, temos certeza, não estão nem um pouco preocupada com os sentimentos do povo. O que importa se vamos rir ou chorar, se para o senhor Ricardo Teixeira o futebol não passa de um negócio?
E um baita negócio diga-se de passagem! Mesmo sendo eliminado nas 4as de finais, o time do Sr. Teixeira faturou na África do Sul a nada menos do que R$ 24,9 milhões dos R$ 53,4 possíveis pagos pela FIFA. Detalhe. Conforme seu estatuto, o órgão máximo do futebol brasileiro é uma entidade sem fins lucrativos. Logo, se supõe que o azul no caixa deveria ser reinvestido nas seleções de base, em fundos de fomento para o futebol amador, escolar, estudantil, varzeano, para simpósios técnicos, e, porque não, para socializar a riqueza com os desportos olímpicos ou as federações estaduais mais pobres. E, como sabemos, não acontece nada nem parecido com isso. Então, onde vão parar estes milhões? Não seria uma ilação absurda associar o caixa superavitário com a vida nababesca da cartolagem. Tampouco é uma inverdade afirmar que Ricardo Teixeira, presidente “vitalício”, a se perpetuar no cargo de presidente da entidade por mais de vinte anos, não está mais pobre e jamais perdeu patrimônio como executivo da entidade. É certo, mais um título mundial seria importante para os cofres da Confederação, mas existem outras fontes de ótimo rendimento. No ano de 2009, a CBF “sem fins lucrativos”, teve um saldo positivo R$ 72 milhões, através de patrocinadores e cotas de jogos amistosos. Fica a dúvida cruel. Alguém viu o balanço da entidade com a destinação de recursos correspondentes ao seu próprio estatuto?!
Dunga x Globo
O futebol tem seu preço e quem paga é o torcedor, tratado como produto por quem o comanda. O esporte bretão tem altos custos ao consumidor, não podemos esquecer que este é considerado o esporte mais popular do Brasil. A cada quatro anos multidões se reúnem para assistir os jogos da seleção. A expectativa criada é do tamanho da decepção com a derrota. No caso, já era visível o que viria a acontecer. O extra-campo pesou muito nas decisões de Dunga, o atrito entre os dublês de animadores eletrônicos e “jornalistas” (Tadeu Schmit, Alex Escobar, entre outros) da poderosa emissora da família Marinho interferiu no seu trabalho. Após a decisão (acertada, diga-se de passagem) de proibir entrevistas exclusivas a Rede Globo de Televisão, Dunga passou a ser o único alvo. A entrevista coletiva após a derrota para a Holanda foi constrangedora devido ao abatimento do técnico brasileiro, que tinha a certeza que a resposta seria dada dentro de campo, o que não ocorreu. Já a evidência reveladora da absurda relação entre a executiva da CBF e da Globo está no silêncio da omissão. Até agora não houve nenhum pronunciamento público do Sr. Teixeira. Parece que ele não tem ligação alguma com o futebol brasileiro, apenas com os ótimos lucros que este rende aos cofres da “sua Confederação”.
Por que perdemos a copa
Acreditamos ainda que, mesmo com todas estas disputas fora de campo, perdemos a Copa porque pensamos errado o futebol. Não é de hoje que dizemos o óbvio; aliás, nós e a maior parte dos milhões de brasileiros entendedores do jogo. Abrimos mão do talento, através de um treinador com uma carreira relâmpago. Dunga foi agraciado com o cargo de técnico da seleção mais importante do mundo, sem nunca ter dirigido time algum. Sua inexperiência custou caro, mal havia começado e já chega o fim da 2ª Era Dunga. Num país que só valoriza os vencedores, terá ele o apoio de seus padrinhos gaúchos, Emídio Perondi e Chico Novelleto, visando novas empreitadas futebolísticas? Sinceramente, a carreira de Dunga é apenas problema dele, desde que não retorne para a seleção. Para nós torcedores sua vida privada não fará diferença. Agora só nos resta esperar mais quatro anos, até a Copa de 2014. Até lá, atenção total para o calendário de obras a começar em breve. Afinal, a paixão das empreiteiras (e os respectivos nexos político-criminais) com o dinheiro público é tão grande quanto o conhecimento acumulado dos brasileiros a respeito das mutretas, dentro e fora das quatro linhas.
Dijair Brilhantes (estudante de jornalismo) & Bruno Lima Rocha (editor da página)