29 de julho de 2010, da Vila Setembrina de Farrapos traídos em Ponche Verde e Lanceiros Negros apunhalados pelas costas em Porongos, Bruno Lima Rocha
Sempre que entramos em período de campanha, nos deparamos com o fenômeno dos chamados partidos nanicos. Quase sempre o neologismo político brasileiro é depreciativo. Assim o foi na era dos políticos biônicos, depois dos pianistas e contemporaneamente, com mensaleiros e albergueiros. É uma das pautas obrigatórias em ano de Copa do Mundo, uma vez que os iniciados em política percebem este fenômeno como no mínimo indesejável.
Semana passada um periódico eletrônico rio-grandense entrevistou-me a respeito, junto a outros colegas, e não por acaso entramos em acordo conceitual. O primeiro esforço de definição está em não confundir quando se trata de representação e postos de governo, as legendas nanicas, tristemente reconhecidas como siglas de aluguel, com os pequenos partidos políticos. Vejamos as diferenças.
Os chamados partidos nanicos seriam aqueles desprovidos de representatividade institucional e tampouco teriam a devida base social ou coesão ideológica. Dentre os três problemas, o primeiro é transitório. Partidos que hoje ocupam postos de governo em toda a América Latina, o Brasil incluído, já tiveram uma ínfima expressão em parlamentos e níveis de governo. Já os dois outros problemas, além de não serem passageiros, também se revelam em grandes legendas. E talvez aí esteja o nó da questão. Se a democracia eleitoral e representativa (portanto indireta) está com dificuldades de legitimação dado o afastamento entre representante e representado, entre eleito e eleitores, imaginemos a noção de legitimidade de uma legenda desconhecida e quase igual às demais? Quando a semelhança se parece com a não virtude, o que resta?
Quanto menos significado tiver uma sigla, mais parecido com um “ensopado de letrinhas” ficará a política que elege como arena única a disputa eleitoral. Ajudando a gerar um sentido de ainda maior confusão, os partidos nanicos contribuem para aumentar o fosso entre as carreiras de candidatos profissionais (ou aventureiros) e a cidadania ativa. Os valores da cultura política brasileira já estão por demais atravessados pelo comportamento fisiológico, patrimonialista e com relações de clientela. Portanto, a associação de que o naniquismo partidário implicaria em oportunismo de baixa intensidade, ajuda a rebaixar a apreciação da concorrência através do voto.
Já os partidos pequenos, embora não sejam exclusivamente de esquerda, tem a maior incidência desta tradição. É o caso atual de PSTU, PCO e PCB. A diferença destas legendas para as nanicas, além da coerência ideológica, é a inserção social. Todas têm frentes de trabalho para além do calendário eleitoral, tais como em sindicatos, meios estudantis, de moradia e lutas específicas. Nestes ambientes, estas agremiações são obrigadas a conviver e disputar com outras correntes e organizações, eleitorais ou não. Desse modo, sua presença em determinados setores de classe torna-se característica, dando conteúdo substantivo para os respectivos programas.
A atuação dos pequenos partidos de esquerda é mais coesa e permanente, tendo vida interna e incidência todo o ano. Desse modo, acabam por isolar as chamadas nanicas, resumidas em apenas mais do mesmo. A diferença é apenas em escala, sendo Ou seja, repetidoras de tamanho diminuto das contumazes das mazelas da política brasileira.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat