11 de setembro de 2010, da Vila Setembrina dos Farrapos traídos e enganados pelo desaparecimento da memória da epopéia Missioneira, Bruno Lima Rocha
Antes do início da corrida eleitoral deste ano, muito se especulou a respeito de usos e benefícios advindos do ambiente da internet aplicado na política. A perspectiva era – como de costume – sempre superior das reais possibilidades de ampliação do debate e da intervenção do eleitorado através desse meio. Embora não esteja dentre os céticos, longe disso, entendo que o diferencial cognitivo ainda é superior ao aumento de tráfego de dados e velocidade de banda. Diante dessa consideração, faço dois alertas nos seguintes quesitos: a rede como forma de aumentar a absorção e circulação de informações e a possível interatividade entre candidato e eleitor.
O primeiro relativiza o espaço da internet como meio de informação e de campanha eleitoral no pleito de 2010. Isto porque a rede já tem espaço grande e a tendência é que cresça de forma exponencial. Mas a minoria que faz uso político dela também é a mesma que já vem da leitura de mídia impressa em geral. Assim, a web tem, no momento, dois espaços concomitantes no que diz respeito à política. Um, massivo, que circula por redes sócio-digitais e plataformas como o Youtube, fazendo uma aproximação da imagem dos candidatos parecida com a da TV. Já os pormenores, detalhes e disputas de fatos e versões circulam por blogs especializados, oficiais e oficiosos das equipes de campanha. Reconheço que o veículo é fantástico, mas por si só não aumenta a capacidade de assimilar informação e produzir compreensão dos mecanismos de governo. Isto ocorre porque o efeito da internet já se dá a partir e sobre os formadores de opinião.
O segundo alerta diverge com os grandes otimistas da rede e aborda o tema da interatividade entre candidato e eleitor e a capacidade de se criar um fórum permanente de debates. No momento, a interatividade na comunicação política ainda é secundária, isto se comparada com a difusão de imagens. O eleitor genérico, desorganizado e com apego a personagens e não a programas, está sempre em situação desfavorável e distante do cerne da política. A imagem do candidato interessa a quem concorre e não para quem vota. Para os votantes, a necessidade seria o acompanhamento das promessas de campanhas anteriores e o conhecimento do perfil detalhado do voto do candidato, caso este já tenha ocupado função legislativa. A mesma relevância tem a informação precisa de sua trajetória pregressa, com destaque para a postura nos momentos críticos do país, incluindo as alianças já realizadas. Isto pouco ou nada ocorre. Já o espaço de interatividade, este ainda tem de ser criado, para além da equipe de campanha. Até porque é humanamente impossível dar conta de relação direta com alta porcentagem do eleitorado. Imagino que algo factível seja um chat aberto, regular e obrigatório, inclusive promovido pelo TSE. Se isto vier a ocorrer (em eleições futuras, porque agora já não dá mais), teríamos uma aproximação da interatividade entre candidato e eleitor. Do contrário, as ferramentas de interação serão sempre apenas mais uma peça de difusão do político profissional.
Já a observação trata da expectativa em excesso do uso das redes sociais e a decorrente participação – supostamente elevada – dos jovens nas campanhas para cargos executivos e legislativos. Levantou-se no primeiro semestre a tese de que a internet deveria ter como foco os jovens entre 16 e 24 anos, pessoas que se relacionam essencialmente através deste meio e estabelecem alguns vínculos de afetividade, socialização e sentido de grupo com a rede mundial de computadores. Como venho dizendo, infelizmente, a forma que esses jovens se comunicam entre si não aumenta necessariamente tanto o volume de informação como a capacidade analítica. Os candidatos, por economia de esforço, tendem a investir neste nicho apenas o essencial e o necessário para retro-alimentar as próprias redes e em sua linguagem mais consagrada. O problema é que a maior parte das informações expostas em período eleitoral associa o candidato com um produto e não existem propostas de longo prazo sendo apresentadas. Considero que os três anos e meio anteriores e posteriores as campanhas são mais importantes para aumentar o interesse dos jovens pela política do que a chamada corrida eleitoral.
Enfim, se a euforia com a internet aplicada na campanha é o aumento de circulação de símbolos e associações diretas e indiretas entre a imagem dos candidatos e a identificação de voto, é válido o discurso de entusiastas apologéticos. Já se o problema de fundo é aumentar a capacidade cognitiva e equilibrar o poder entre políticos profissionais e eleitores, a balança ainda pende – e muito – para os primeiros. Vejo a rede mundial de computadores como fundamental para mudar esta correlação, embora ainda estejamos anos luz dessa meta.
Este artigo teve sua versão original publicada antes no blog de Ricardo Noblat