21 de outubro de 2010, Vila Setembrina dos Farrapos e Lanceiros Negros traídos por letifundiários em Porongos e condenados ao segundo desaparecimento por mentirosos midiáticos que omitem a epopéia missioneira, Bruno Lima Rocha
Se há algo polêmico e ainda não comprovado é a credibilidade das chamadas pesquisas de opinião e intenção de voto. Particularmente me somo aos críticos e com este artigo, tenho certeza de que irritarei a maioria dos marketeiros, proprietários de institutos de pesquisas e coordenadores de campanha. Não questiono aqui a intencionalidade original de quem as organiza e nem faço ilação de que as mesmas são fraudadas. O problema é de outra ordem e trata da razão de ser das mesmas e suas variáveis analíticas. Uma vez que as aferições são sempre contestadas, e ainda assim tem repercussão midiática, a atividade fim, a de demonstrar as intenções de voto, torna-se secundária. Hoje no Brasil, a pesquisa de opinião opera como fato político. Seus resultados são oportunistamente elogiados por quem sobe e refutados pelos que descem.
Na inversão das funções, as pesquisas passam a incidir sobre as intenções de voto, a partir do momento em que estas são midiatizadas e constituem-se como enunciados das campanhas e candidaturas. Vive-se assim um paradoxo. Cada vez mais, menos operadores políticos e analistas manifestam crença real nos resultados das pesquisas. Simultaneamente, estas aferições são utilizadas como peças de propaganda. Ao fazerem parte do arsenal do bombardeio midiático, mesmo sendo muito questionadas, tornam-se parte fundamental da corrida rumo ao Planalto e aos executivos estaduais.
Ao final do primeiro turno, houve erros crassos em escala nacional e nos estados. O detalhe é que estes erros são recorrentes, trazendo à tona um questionamento quanto à eficácia dos instrumentos das pesquisas. Elencando três argumentos óbvios, o primeiro destes é a amostragem. Se já é difícil a totalização de um censo com questionário fechado, que dirá uma aferição instantânea da opinião transitória? O segundo ponto fraco é a materialização do objeto de estudo. Ou seja. Como é possível aferir algo instantâneo, passível de mudanças e que goza de poucos elementos de convicção? Sim, porque o que está em disputa se dá sobre a maioria silenciosa, na busca do senso comum através de um léxico passível de compreensão em um país de semi-analfabetos e analfabetos funcionais como o nosso.
O terceiro argumento é a própria identificação entre o eleitor e sua preferência de voto. Qualquer analista com formação sólida julgará que a opinião condensada como opção pelo voto, apoiando uma ou outra candidatura, é a resultante de um processo com distintas variáveis incidentes. Assim, o pertencimento seria um fator mais influente para a definição do voto do que as estripulias de marketeiros. Entra fatores como o interesse direto, implicando em escolha de servidores de carreira optando por uma candidatura vinculada à expansão da capacidade de investimento do Estado; a identificação por lealdade partidária ou religiosa; a faixa etária marcada por elementos culturais; as identidades geradas através do fator território de moradia, dentre outros cortes de identidade. Convenhamos, é impossível incluir todas estas variáveis em uma amostra de entrevistados, o que torna as pesquisas passíveis de muitas falhas.
Concluo reafirmando o óbvio. A difusão de pesquisas opera mais como gerador de factóides eleitorais, criando fatos políticos através de sua exposição midiática, do que como uma medição das opções de voto do eleitorado. Eis o absurdo.
Obs: antes que algum desavisado associe este texto com a subida ou descida de um dos dois candidatos à Presidência, peço que desista de semelhante desvario. A posição da página e deste analista é sabida e fica a galáxias de distância da democracia limitada e indireta hegemônica hoje.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat