Asmaa Mahfouz, do Movimento Juvenil 06 de abril, publicou um vídeo no Facebook no dia 18 de janeiro, convocando os jovens do Egito a irem às ruas contra Mubarak - Foto:loveandtrash.com
Asmaa Mahfouz, do Movimento Juvenil 06 de abril, publicou um vídeo no Facebook no dia 18 de janeiro, convocando os jovens do Egito a irem às ruas contra Mubarak
Foto:loveandtrash.com

Não silenciarão a juventude egípcia

“Em nome de Christoph Probst, Hans Scholl e Sophie Scholl”, dizia um cartaz na parte superior do bem acessado blog do dissidente egípcio Kareem Amer. E continua: “Decapitados em 22 de fevereiro de 1943 por terem se atrevido a dizer não a Hitler e sim à liberdade e justiça para todos”. O cartaz do jovem blogueiro recorda o valente grupo de propaganda antinazista que se autodenominou Coletivo Rosa Branca. Este grupo redigiu e distribuiu secretamente seis panfletos denunciando as atrocidades nazistas. Em um deles, declaravam: “Não nos calaremos”. Sophie e seu irmão Hans foram capturados pelos nazistas, julgados, processados e decapitados.

Kareem Amer, que ficou quatro anos preso no Egito por escrever em seu blog, desapareceu das ruas do Cairo depois de abandonar a Praça Tahrir com um amigo, segundo o site cyberdissidents.org. O grupo supõe que Amer encontra-se agora entre as centenas de jornalistas e ativistas de direitos humanos detidos pelo regime do ditador egípcio deposto Hosni Mubarak, e acaba de lançar uma campanha para exigir sua libertação.

Amer desapareceu justamente antes de Wael Ghonim ser libertado. Ghonim é um executivo da Google de 30 anos de idade que ajudou a administrar a página do Facebook, que teve um papel decisivo na organização dos protestos do dia 25 de janeiro no Egito. A página chama-se “Todos somos Khaled Said” em homenagem a um jovem assassinado pela polícia em Alexandria em junho de 2010. Uma foto do cadáver de Said apareceu na internet. Tinhas sinais de ter recebido golpes brutais no rosto.

Ghonim foi ao Egito para participar dos protestos e acabou preso e detido de modo secreto pelo governo egípcio durante 12 dias. O canal de televisão egípcio Dream 2 entrevistou-o logo após sua libertação. Na entrevista, Ghonim desmoronou e rompeu em prantos na frente das câmeras quando lhe mostraram as fotos de diversas pessoas assassinadas nos protestos. “Dissemos que lutaremos por nossos direitos e por nosso país. Não sou um herói. Somente estava utilizando o teclado na Internet. Nunca pus minha vida em perigo. Os verdadeiros heróis são os que estão aí fora”.

A libertação de Ghonim fez com que a multidão, que naquele momento ainda exigia o fim do regime de 30 anos de Mubarak, aumentasse na Praça Tahrir. Tahrir, que significa “libertação” em árabe, é o corpo e alma do movimento democrático no Egito, mas não é o único lugar onde se reúne gente valente contrária ao regime. Enquanto escrevia esta coluna (traduzida para o português dias depois da renúncia de Mubarak), instala-se um novo acampamento em frente ao Parlamento egípcio e seis mil trabalhadores estraram em greve no Canal de Suez. Enquanto a ditadura cristalizada ainda afirmava estar fazendo concessões, suas forças de choquem desatavam uma onda de violência, intimidação, detenções e assassinatos.

O setor da população egípcia composto por uma juventude pujante é o que está liderando a revolução. O Movimento Juvenil 06 de Abril se formou no ano passado em apoio aos trabalhadores têxteis em greve na cidade egípcia de Mahalla. Uma das fundadoras do movimento, Asmaa Mahfouz, que acaba de completar 26 anos, publicou um vídeo no Facebook no dia 18 de janeiro, pouco depois da revolução da Tunísia provocar a queda do ditador desse país.

Asmaa disse: “Estou fazendo este vídeo para lhes passar uma simples mensagem: queremos ir à Praça Tahzir no 25 de janeiro. Vamos aí exigir nossos direitos humanos fundamentais. Simplesmente queremos nossos direitos humanos e nada mais. Eu vou no 25 de janeiro, e vou distribuir panfletos nas ruas. Não vou fugir da raia. Se as forças de segurança querem me tirar da luta, que venham e o façam. Se você se considera homem, vem comigo ao 25 de janeiro. Quem diz que as mulheres não deveriam ir às manifestações porque vão lhe bater, que poupe a honra e a hombridade e venha comigo ao 25 de janeiro”.

Sua convocação para a ação foi outra faísca. A partir da Internet, as pessoas começaram a se organizar nos bairros, superando a barreira digital com panfletos impressos e o boca a boca. Depois do 25 de janeiro, o primeiro dia épico de protesto, Asmaa Mahfouz publicou outra mensagem de vídeo: “O que aprendemos ontem é que somos nós quem temos o poder, não os valentões. O poder está na unidade e não na divisão. Ontem vivemos os melhores momentos de nossas vidas”.

Na primeira semana de protestos, quebrou-se o que muitos chamam de “a barreira do medo”. Desde que começou a ofensiva violenta do governo em 28 de janeiro, segundo o Huma Rights Watch, ao menos 302 pessoas foram assassinadas no Cairo, Alexandria e Suéz.

O Presidente Obama continuava insistindo dias antes da queda de seu títere que os Estados Unidos não podem eleger o líder do Egito, mas que o povo egípcio pode fazê-lo. É verdade. Mas o governo de Obama continuava dando ajuda econômica e militar (até os últimos minutos) ao regime de Mubarak. O selo “Feito nos Estados Unidos” estampado nas latas de gases lacrimogêneos utilizadas contra manifestantes na Praza de Tahrir enfureceu a população que estava ali. Durante os últimos trinta anos, os Estados Unidos gastaram bilhões de dólares para apoiar o regime de Mubarak. É preciso deter agora mesmo o fluxo de dinheiro e de armas.

(Obs. dos tradutores. E os jovens egípcios não silenciaram. A ditadura de Mubarak chegou ao fim na sexta-feira, 11 de fevereiro, com o anúncio da renúncia do agora ex-presidente, após dezoito dias de forte mobilização popular. As Forças Militares, por meio do marechal Mohamed Hussein Tantawi, 79 anos, assumirão o governo do Egito. Segundo documento diplomático americano, que fora divulgado pelo WikiLeaks, Tantawi é “velho e resistente às mudanças”. O experiente militar participou dos conflitos do Canal de Suez em 1956, da guerra dos Seis Dias em 1967 e da guerra do Yom Kippur em 1973. Curiosamente, assim como antigos oficiais do período da independência e do orgulho nacional, sua trajetória militar é o oposto da política externa dos governos de Mubarak e Sadat. Será que o marechal mudará outra vez, ou seguirá com posturas conservadoras e títeres para com o Império? A luta política no Egito está agora começando).

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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman

Texto en inglês traducido por Mercedes Camps, editado por Gabriela Díaz Cortez y Democracy Now! en español, spanish@democracynow.org

Texto em espanhol traduzido por Rafael Cavalcanti Barreto, revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.

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