O delegado titular da DRACO, Claudio Ferraz, passou de algoz a alvo (como represália que sofrera) e daí a pivô da cadeia de acontecimentos que levou ao pedido de demissão do ex-chefe de Polícia Civil delegado Allan Turnowski. No Rio de Janeiro, tem o lado certo da vida errada e o lado errado da vida supostamente certa. Dentro do aparelho de segurança, ser idealista é ser republicano e jacobino.  - Foto:sidneyresende.com
O delegado titular da DRACO, Claudio Ferraz, passou de algoz a alvo (como represália que sofrera) e daí a pivô da cadeia de acontecimentos que levou ao pedido de demissão do ex-chefe de Polícia Civil delegado Allan Turnowski. No Rio de Janeiro, tem o lado certo da vida errada e o lado errado da vida supostamente certa. Dentro do aparelho de segurança, ser idealista é ser republicano e jacobino.
Foto:sidneyresende.com

17 de fevereiro de 2011 – da Vila Setembrina de Farrapos ludibriados por escravagistas, Bruno Lima Rocha

Quando da operação no Complexo do Alemão, li e ouvi muitas denúncias de abuso das forças policiais incluindo saque e botim dos bens e armas de pessoas ligadas ao narcotráfico. Óbvio que no meio do bombardeio midiático e do aparato de propaganda institucional era difícil romper o cerco e trazer à tona esta carga de realidade. Triste paradoxo para uma cidade que, através de duas obras de “ficção”, literárias e cinematográficas, difundira nacionalmente formas de convivência entre a segurança pública e as redes de quadrilha típicas de um Estado falido.

A Operação Guilhotina da Polícia Federal e a desastrosa ação da Corregedoria Geral da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro trouxeram para as escaladas de noticiários televisivos situações que entendo como já estruturais. Qualquer um que tenha convivido minimamente tanto com a segurança pública fluminense como com suas áreas de atuação, incluindo as assim chamadas comunidades carentes, tem a exata noção de que os filmes de José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2) e os livros recentes de Luiz Eduardo Soares e os demais co-autores (Elite da Tropa 1 e 2) são tudo menos ficcionais.

Os fatos falam por si. A Operação Guilhotina vem de investigações prolongadas, munidas de provas obtidas através de autorização judicial, e com a colaboração de parte do aparelho de inteligência policial do estado. Já a ação da Corregedoria da Polícia Civil, acusando os até então prestigiados policiais lotados na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Organizadas (DRACO), teve sua origem em uma carta anônima. Mesmo que não tenha sido uma resposta, o ato autorizado pelo ex-chefe de Polícia Allan Turnowski soou como tal. Não há como provar e menos ainda inferir o envolvimento do delegado demissionário com o esquema apurado pela PF. Ao mesmo tempo, constata-se o óbvio. O até então prestigiado delegado em chefe da polícia judiciária, pôs ele próprio a cabeça na guilhotina, elevando o custo político de sua manutenção no cargo.

Também é impossível negar o enorme custo institucional dessa crise. Sou natural do Rio e pude comprovar que havia a “percepção” de confiabilidade nas instituições de Estado. Óbvio que tal comportamento era fruto das operações de UPPs e da brilhante propaganda da Secretaria de Segurança. Mas para além das aparências tem uma essência nada boa. Admira-me que operações como esta não tenham sido antes executadas. No Rio, a ficção e a realidade das mazelas do aparelho de segurança pública são exatamente as mesmas.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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