Ganso e Neymar lideram uma geração santista vencedora. O Santos que chegou a ser um time em decadência nos anos ’80 e ’90, dá a volta por cima após o vice-campeonato no Brasileiro de 1995 e ruma para a galáxia, desde e quando espantem os abutres de terno e gravata que rondam os  CTs da Baixada Santista.   - Foto:lanceactivo
Ganso e Neymar lideram uma geração santista vencedora. O Santos que chegou a ser um time em decadência nos anos ’80 e ’90, dá a volta por cima após o vice-campeonato no Brasileiro de 1995 e ruma para a galáxia, desde e quando espantem os abutres de terno e gravata que rondam os CTs da Baixada Santista.
Foto:lanceactivo

Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

Termina mais uma edição da Copa “Santander” Libertadores

Na noite desta quarta-feira terminou a 51ª edição da Taça Libertadores da América (chamada de Copa pelo banco espanhol que patrocina até o paletó do terno do Pel)é, que pela 16ª vez ficou com um time brasileiro. Ao final da partida, Édson Arantes do Nascimento teve o seu dia de Pelé ao buscar o técnico santista Muricy Ramalho e levar até o meio de campo para ser ovacionado pela torcida do Peixe. Mas alguém reparou que o Édson estava com um terno vermelho conforme já indicamos no parêntesis acima?

O que representa a Taça Libertadores da América para os times sul-americanos? Muito. Comecemos pelo nome, o tradicional, que tanto serve para metaforicamente designar as partidas desse torneio, que por mais que não tenha o hino ou todo o “ritual” da européia Champions League, tem a raça e a garra demonstradas dentro de campo. O detalhe é que temos um grau elevado de latino-americanização dos clubes, com presença de jogadores do Cone Sul em times de todo o Continente. O Brasil, por exemplo, torna-se um “Eldorado” possível para los hermanos do sul do mundo.

Um pouco de história
Comecemos por onde todo livro de História Geral pode contar. Em 1492 o genovês Cristóvão Colombo aportou na ilha que veio a ser denominada de San Salvador, onde hoje se localizam as Bahamas. O navegador que pôs o ovo em pé, aportou em terras estranhas tomando-as depois em nome dos Reis Católicos da Península Ibérica, súdito que era de Isabel de Castela. Anos mais tarde, seria a vez de Pedro Álvares Cabral, sob patrocínio do reino português, fazer o mesmo no atual território brasileiro.

Enquanto os Estados Unidos eram colonizados por britânicos, o Brasil era colonizado por Portugal – com alguma presença da França e da Holanda -, as demais regiões da América, com povos indígenas de desenvolvimento cultural superior, eram colonizadas por espanhóis. Mas o que isso tem a ver com a Libertadores?

Pois bem, o nome do torneio é uma homenagem às pessoas que lutaram contra a opressão espanhola no território, caso de Simon Bolívar, José Artigas, José de San Martín, Francisco de Miranda, Abreu e Lima, Antonio José de Sucre e tantos outros próceres (para aprofundar no tema, ver a seção Clássicos deste portal) que percorreram as Américas para libertar os seus moradores da opressão de Espanha através dos agentes dos Vice-Reinados. Ah, para variar, o Brasil ficou de fora desta epopéia, uma vez que aqui a solução foi um pacto de elites, transacionando a unidade territorial pela manutenção do escravagismo.

A história em campo e fora dele
51 edições depois a história, desta vez do futebol, reaparece no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em São Paulo – o mesmo estádio que foi “excluído” da Copa de 1950 porque a torcida vaiou a seleção brasileira após empate contra a Suíça em 2 a 2 na segunda fase daquele mundial. De um lado o Santos, marcado pela “era Pelé”, com dois títulos da Libertadores e mundiais em 1962 e 1963. Do outro, o Peñarol, o clube com mais participações e primeiro campeão do torneio, e que repetiria o feito em outras quatro edições, a última em 1987.

Os dois times se enfrentaram na decisão de 1962 que, como a mídia tanto repetiu nos últimos dias, necessitou de três partidas para encerrar graças a uma garrafa jogada no árbitro da segunda partida, na Vila Belmiro, quando o Peñarol vencia por 3 a 2. O Santos empataria o jogo, o que lhe daria o título, já que venceu o primeiro jogo no Centenário por 2 a 1. Porém, só dias depois a Conmebol anularia o resultado e marcava a terceira partida para a Argentina, quando o Santos, com Pelé no time, venceria por 4 a 0.

A diferença primordial daquela partida, além dos jogadores, estrutura, transmissão televisiva, pode ser reparada também de forma metafórica com a alteração no nome do torneio: Copa Santander Libertadores e não mais a boa e velha pauleira da Taça Libertadores da América.

O principal torneio de futebol sul-americano, que homenageava os coirmãos que libertaram a América do julgo espanhol, tem na sua nomenclatura um dos maiores bancos do mundo, com sede na Espanha! Os libertadores são agora “lembrados” ao lado de um símbolo financeiro importante dos seus antigos colonizadores contra quem tanto lutaram. Ah, detalhe, sugiro que os leitores porcurem ssaber quem é Alfredo Saenz, conselheiro-delegado (alta hierarquia da holding do Grupo Santander, na posição de segundo vice-presidente) da administração do Banco e sua condenação no Tribunal Supremo de Espanha por mau uso de fundos e gestão perigosa quando estava à frente de outro banco, o Banesto.

Já não é de hoje que citamos esse fato – o do nome de “batismo” – repetindo a ladainha em outros textos da “Além das Quatro Linhas”, motivados pela ironia mercadológica dessa mudança. Mas no futebol midiatizado e com altas quantias de recursos financeiros em jogo, não é nenhuma novidade que o principal patrocinador do torneio passe a ter a sua marca colocada entre o nome do próprio. É assim que nasce mais um bebê de Rosemary. Negócios são negócios, e o futebol há muito tempo passou a ser um.

A própria Libertadores já foi Copa Toyota Libertadores (ui!), há a Copa Kia do Brasil (ai!), o Campeonato Brasileiro Petrobras (dói igual)… E para não ficar muito longe, o Gauchão Coca-Cola (uahhhh, essa é de lascar o couro do guasca, faz o taura virar pinto molhado em dia chuva em meados de julho!).

Santos “tricampeão” da Libertadores – ué, quando éramos crianças (parte de nós ao menos, ser tri era ganhar três campeonatos seguidos, correto?)
Na noite de 22 de junho, o confronto começou pegado, como todo bom jogo da Taça Libertadores da América, ainda mais em caso de decisão. Após 90 minutos de zero a zero no Uruguai, os primeiros 45 de São Paulo terminaram da mesma forma. O Santos dominava a posse de bola, quase 70% do tempo, mas pouco criou de efetivo. Já o Peñarol mostrou que se arriscaria nos contra-ataques, mas depois da metade da etapa pouco mostrou.

Logo no início do segundo tempo, o volante Arouca, que tanto errara passes no primeiro tempo, fez uma excelente jogada, desestabilizando totalmente a marcação uruguaia. Após tabela com Paulo Henrique Ganso, tocou para Neymar – que só havia aparecido no primeiro tempo para tirar com uma solada González, seu marcador, da partida – tocar no canto de Sebastián Sosa para marcar o seu sexto gol da competição.

A partir daí o Peñarol partiu para o ataque e abriu muitos espaços na defesa para contra-ataques santistas. O ritmo do jogo mudou de lado. Quando o segundo tempo estava pela metade, o lateral-direito Danilo, que mal subira ao ataque para ajudar na marcação, fez uma bela jogada na ponta-direita e chutou rasteiro. Santos 2 a 0, título garantido…

…não num jogo da Taça Libertadores da América. Aos 35 minutos, numa jogada sem qualquer perigo, o zagueiro Durval foi tentar interceptar cruzamento e a bola acabou entrando no gol. O Peñarol tentava, mas a marcação montada por Muricy Ramalho, seu grande trunfo no comando desse time do Santos, afastava qualquer perigo. Muito mais chances teve o time santista para aumentar o placar que o time uruguaio para empatar o jogo. Até que acabou – uma hora sempre acaba, a não ser quando alguém mela o campeonato…não dessa vez, a zona começou depois.

Fim de jogo e final de fardo. Pelé (de vermelho, assim como no ano passado no Beira Rio!) voltou a campo para “apresentar” Muricy à torcida. Acabava o “fardo” da “era Pelé”. O Santos 48 anos depois de sua geração, finalmente conseguia conquistar outro título sul-americano. Mas se até a Libertadores ganhou um codinome espanhol, o terno do Rei do Futebol indicava que ele também era patrocinado pelo banco. Poderíamos chamá-lo de Édson Santander Arantes?

Filho de Delegado invade campo e provoca confusão – ou a história de sempre, quando apenas um moleque metido a galo para imaginar que uma equipe charrua não iria descontar a raiva na derrota dando chutes voadores, vingando na trava da chuteira a derrota na bola….
A festa da vitória santista acabou sendo manchada. Uma briga generalizada tomou conta do gramado, jogadores e comissão técnica de ambas equipes entraram em confronto após o apito final do árbitro da partida. O pivô da briga foi o torcedor santista Eric Del Delbosque, 18 anos, filho do Delegado Osvaldo Nico Gonçalves, titular da Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista.

Após serem provocados, os uruguaios partiram para cima do torcedor, o que causou revolta nos boleiros da baixada santista. Alguns jogadores do alvinegro praiano chegaram a declarar que time do Peñarol não sabia perder. Mas o filho do Delegado parece que não sabe ganhar. Ao invés de comemorar o título da Libertadores (de preferência fora de campo) fato que não ocorria a 49 anos, o “torcedor” resolveu provocar. Chama a atenção à demora da Polícia Militar, para entrar em campo e tentar controlar a situação. Ou será que a “briosa” PM de São Paulo – onde o mesmo Choque que policia os estádios operou na repressão da rebelião do Carandiru em 2 de outubro de 1992 – se recordou do embate Brigada Militar X Peñarol, durante a Supercopa de 1993, quando o elenco Manya Aurinegro peitou os brigadianos de chuteira em riste?!

As perguntas que ficam: Quem autorizou a entrada do filho do Delegado? Que punição o mesmo sofrerá?

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