Dijair Brilhantes & Anderson Santos
Janela fechada para quem vem
No dia 20 de julho encerrou-se o prazo para a contratação de jogadores vinculados a clubes de fora do país. Para muitos, o Campeonato Brasileiro começa agora, após a final de Libertadores, a volta dos atletas da Copa América e, principalmente, com os reforços contratados, ou resgatados, do exterior.
O fechamento da chamada janela ficou marcado pela frustração de alguns negócios dados como bem encaminhados, mas que acabaram não saindo, e a troca de farpas entre os clubes brasileiros.
Ética?
Ética é uma palavra inexistente no dicionário dos cartolas (algumas outras, como honestidade e transparência, também). É comum ver empresários de atletas fazerem leilões com os jogadores e os homens do futebol entrando no jogo e “atravessando” negócios.
O exemplo mais claro foi a contratação do meia Martinuccio pelo Fluminense. Mesmo com um pré-contrato assinado com o Palmeiras, com multa no valor de R$ 50 milhões, e aviso do time paulistano, o tricolor das Laranjeiras, amparado pela patrocinadora Unimed, fez uma proposta com valores superiores, o que levou o jogador a optar por jogar no Rio de Janeiro.
O alviverde paulista promete recorrer à FIFA após seu presidente ter declarado, enquanto o atravessamento do Flu era só boato, que confiava na diretoria tricolor – time que já havia feito a mesma coisa em 2007, quando o meia Thiago Neves, atualmente no Flamengo, tinha assinado pré-contrato com o Palmeiras e levado R$ 400 mil de luvas.
Falando no Flamengo, outra que parece desconhecer a palavra ética é a presidenta Patrícia Amorim. Bastava um clube especular um nome que ela tentava entrar no negócio. Ocorreu no caso do jogador Kleber, também do Palmeiras – que parece viver em outro mundo, que não o do futebol de negócios.
O “Gladiador”, que poucas vezes deixou de entrar em campo este ano, geralmente por conta de terceiro cartão amarelo, teve uma “lesão” que sempre o tirava do sétimo jogo pelo clube, o que o impediria de atuar em outro time da Série A. Nos bastidores, pressão dele e do seu empresário por um aumento salarial.
Enquanto isso, o Flamengo esperava. A presidenta, que fez uma proposta pelo atleta no início do Brasileirão, teria aumentado o valor na véspera do jogo entre os dois clubes, realizado na quarta-feira da semana passada. O atacante palmeirense pôs um fim na novela após pedir para não jogar e depois ser convencido pelo técnico Felipão a entrar em campo.
Alguns agiram na normalidade…
Internacional, Atlético-MG e São Paulo foram às compras no exterior, aproveitando-se das melhores condições econômicas brasileiras, tanto para resgatar jogadores brasileiros quanto para trazer atletas de outros países da América do Sul, cujos salários não chegam a ser tão altos por aqui, já que são estabelecidos pelo preço do dólar.
Os colorados repatriaram o atacante Jô. Aos 24 anos, revelado pelo Corinthians e com passagem pela seleção brasileira, é um dos poucos atletas jovens a retornar ao Brasil, após passagens pela Rússia e pelo Manchester City, novo-rico inglês, que emprestou o jogador ao Inter.
Semelhante ao caso de Jô está o atacante André, ex-Santos, que foi contratado pelo Atlético-MG. O atleta de apenas 20 anos, que já marcou gol em sua estreia, vai ser comandado por Dorival Junior, o mesmo técnico que o revelou no time paulista na temporada passada. Em pouco menos de um ano na Europa, André passou pelo Dínamo Kiev, da Ucrânia, e pelo Bordeaux, da França. Em ambos não marcou sequer um gol.
O São Paulo, após uma longa novela para contratar o zagueiro uruguaio Coates, de 20 anos, acabou desistindo do negócio. O meia argentino Cañete foi contratado na última hora, após longa negociação com Boca Juniors e Universidad, e anunciado na última quarta-feira. Além dele, o lateral-direito paraguaio Ivan Píris também se juntou ao tricolor.
O clube paulista ainda resgatou um jogador formado nas suas categorias de base e com pouquíssimas atuações no time profissional. O jovem volante Denilson volta ao clube após alguns anos no gigante inglês Arsenal, onde chegou até a ser titular.
Alguns voltam após fazer o “pé de meia”
Nos últimos anos o futebol brasileiro fez grandes contratações. Jogadores tidos como estrelas no Brasil e na Europa optaram por voltar ao cenário nacional, geralmente para resgatar o bom futebol e a credibilidade perdidas. Claro que há casos que é só para encerrar a carreira “mais perto da família” mesmo.
Adriano (que parece ter dificuldade de se adaptar à noite europeia) voltou há algum tempo, mas ainda não entrou em campo pelo Corinthians, seu terceiro time brasileiro nos últimos anos.
No Grêmio foi um pouco diferente. A chegada do experiente Gilberto Silva, campeão mundial com a Seleção, foi pouco badalada. O atleta que chegou em plena forma física, entrou bem e já virou uma referência em campo do ainda fraco elenco do tricolor gaúcho.
Outro que veio para encerrar a carreira por aqui foi o meia Juninho Pernambucano, que já no seu primeiro jogo marcou um gol, mostrando que continua a ser um exímio cobrador de bolas paradas. O atleta, após ser destaque do aparecimento e domínio do Lyon na França, estava no futebol árabe e há anos era especulado de volta para o Vasco, clube que o projetou no futebol nacional principalmente por conta do título da Libertadores de 1998.
Um dos jogadores mais regulares da era “Robinho e Diego” no Santos, o volante Renato voltou ao Brasil após muitos anos no espanhol Sevilla. Ele atuará no Botafogo, que conta com a dupla de ataque sulamericana com o uruguaio “El Loco” Abreu e o argentino Herrera.
O Mercadão da Bola continua, só que para a saída
O futebol brasileiro é um legítimo feirão de atletas. Basta surgir um jovem talento que o jogador passa a ser cobiçado por clubes da Europa. Há casos dos que saem após poucas partidas como titulares nos clubes, quando entram em campo aqui no Brasil.
Para ficar nos exemplos do Rio Grande do Sul, onde os times geralmente têm que vender uma revelação por ano para manter os projetos de categoria de base, temos atletas como Lucas Leiva (Liverpool), Nilmar (Villareal, que já voltou e já saiu do país), Anderson (Grêmio), e o atacante Alexandre Pato (Internacional). Os dois últimos nem chegaram a disputar um Gre-Nal.
Neste ano, do lado do Olímpico, foi a vez do zagueiro Neuton ser vendido à italiana Udinese mesmo sem ter se garantido como titular do Grêmio.
Para não falar do atacante Lucas Piazon, que disputou o Mundial sub-17 pelo Brasil, eliminado pelo Uruguai nas semifinais. O atacante há algum tempo pressionava para sair do São Paulo e, mesmo sem atuar no time titular, foi vendido ao inglês Chelsea.
Foco em Neymar
Não são só as empresas que estão de olho neles para comerciais. A dupla Neymar e Ganso, destaques do Santos, há muito tempo são alvo de boatos de saída, inclusive para times do Brasil, que serviriam como “barriga de aluguel”, de forma a baixar o valor a ser pago.
Em meio à Copa América, o santista Neymar era o nome da vez. A imprensa internacional dava como certa a ida do jovem santista ao Real Madrid, com direito a acertos de bases salariais entre o clube e o seu empresário, Wagner Ribeiro – o mesmo que já foi de Kaká e Robinho –, e reunião entre as diretorias dos dois clubes em Paris.
Nada foi confirmado, até mesmo porque o atual campeão da Libertadores quer manter o time para o Mundial Interclubes e estabelece isso como cláusula de venda. O Barcelona, que está dedicado à compra de outros jogadores, já deixou claro que pretende contratar o atacante no início do ano que vem.
Mas o Real, com a ajuda de Ronaldo Fenômeno, continua como favorito e quer porque quer tirar o jogador já nesta janela – que só fecha no dia 31 de agosto.
O presidente santista declarou que irá pedir auxílio à presidenta Dilma Roussef para manter o craque na Vila Belmiro (não faltava mais nada).
Outro atleta que pode sair ainda nesta janela europeia é o atacante colorado Leandro Damião, que apesar de não ter sido convocado para a Copa América (ou por causa disso), continua como foco de investimento de clubes europeus.
Para se ter uma ideia, o técnico do Barcelona Joseph Guardiola disse que observaria o jogador na partida contra o Internacional por um torneio de pré-temporada na Alemanha, a Copa Audi (lá pelo menos os nomes de empresas vêm em torneios amistosos) onde, por sinal, foi muito bem.
Algo mudou
Tevez quase voltou ao Corinthians por uma proposta baseada num dinheiro futuro oriundo dos direitos de transmissão, mas não houve tempo. Seria a prova que faltava para constatar que as relações mudaram um pouco, por mais que ainda os nossos “futuros craques” continuem saindo.
O país, por conta de um bom momento financeiro de forma geral, virou um local para jogadores bons atuarem, em especial se levarmos em conta os demais países sulamericanos. O problema continua na formação dos atletas, que saem daqui cada vez mais cedo.