O péssimo estado dos equipamentos esportivos em escolas públicas de ensino fundamental e médio deveria ser a primeira preocupação, junto com a mão de obra especializada, na massificação do desporto escolar no Brasil. Após mais de oito anos com os ex-comunistas à frente da pasta, os resultados neste sentido foram ínfimos.  - Foto:apasantamaria
O péssimo estado dos equipamentos esportivos em escolas públicas de ensino fundamental e médio deveria ser a primeira preocupação, junto com a mão de obra especializada, na massificação do desporto escolar no Brasil. Após mais de oito anos com os ex-comunistas à frente da pasta, os resultados neste sentido foram ínfimos.
Foto:apasantamaria

20 de outubro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Nunca antes na história deste país se prestou tanta atenção ao desporto como um todo. O Ministério do Esporte, por onde já passara Edson Arantes do Nascimento (em gestão irrelevante durante o primeiro governo FHC), muda de status. De pasta com pouca expressão torna-se vitrine mundial e base de diálogo com jovens, aficionados e desportistas de todo o país. Além da projeção, com a realização de grandes eventos internacionais (Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016), o Ministério tem uma série de programas com razoável volume de verbas (ínfimas se comparadas com o montante gasto na rolagem da dívida interna) e capilaridade social. Mas, há problemas.

Estou bem à vontade para retomar a crítica a gestão contínua do PC do B (primeiro com Agnelo Queiroz e agora com Orlando Silva) à frente da pasta, pois venho fazendo-a aqui desde 2006. São dois problemas permanentes. O primeiro, passa pelas estruturas de poder (até a pouco intacta) dominantes no desporto em geral e no futebol profissional em particular. Se agora as relações com o comando da cartolagem estão tensas com o Planalto, tal fato não ocorrera nos oito anos anteriores. O segundo está na aplicação do modelo de popularização da prática desportiva no Brasil, cujos reflexos o atual ministro sofre como alvo de denúncias de um correligionário desafeto.

Reconheço, nem tudo anda mal. A honestidade intelectual me obriga a admitir os méritos das duas últimas gestões. A cada competição ampliamos o número de modalidades representadas e, em igual proporção, as chances de medalhas. Quanto ao alto rendimento olímpico, há pouco para ser contestado se comparado com governos anteriores. Já a massificação, esta deixa muito a desejar. Na entrevista coletiva de 2ª (17/10), Orlando Silva afirmara a suspensão dos convênios como ONGs para repasse de verbas públicas, dando total prioridade às ações conjuntas com poderes municipais e estaduais, além de universidades estatais. Acontece que os repasses para entidades privadas nunca deveriam ter existido.

Se houvesse um mínimo de coerência entre o imaginário deste partido e o estilo de gerir a pasta, os ex-comunistas deveriam buscar inspiração no modelo cubano de desenvolvimento esportivo – onde a base é o desporto na escola e como política pública universal – e não na reprodução pífia de terceirização das funções de Estado. Para tristeza geral, esta crítica reproduz apenas o consenso entre os especialistas. Será que é necessário passarem oito anos e meio para se descobrir o óbvio?

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *