A possível aliança entre o antigo radical de esquerda PT e o “sem lado” PSD, de Gilberto Kassab, fortalece a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. A nova parceria é uma tática coerente com a estratégia petista de vencer nas urnas e garantir maioria no Parlamento à base do custe o que custar. - Foto:correiodobrasil
A possível aliança entre o antigo radical de esquerda PT e o “sem lado” PSD, de Gilberto Kassab, fortalece a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. A nova parceria é uma tática coerente com a estratégia petista de vencer nas urnas e garantir maioria no Parlamento à base do custe o que custar.
Foto:correiodobrasil

24 de fevereiro de 2012, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

A última instância nacional do PT foi seguida de uma enxurrada de editoriais e comentários críticos, em geral apropriados, abordando o tema da política de alianças visando a vitória eleitoral na maior parte das capitais em outubro próximo.

Chama a atenção a iminente dobradinha em São Paulo, entre a legenda de José Dirceu e a de Gilberto Kassab, o PSD. É possível que na boca da urna eletrônica, tal aproximação até gere votos. O debate é o preço destes e as consequências que os mesmos acarretam.

Ao contrário da maior parte de meus artigos nesta publicação, desta vez não critico a contradição do Partido dos Trabalhadores em seu giro à direita, e sim a coerência desta manobra.

Para quem não se lembra, "a tal da governabilidade" já cobra o preço da dissidência, do racha interno, ainda no primeiro ano de governo Luiz Inácio. Tal movimento veio a gerar a criação do PSOL, racha a CUT definitivamente, e abre o espaço na cúpula da legenda visando a aproximação com o partido de José Sarney e Renan Calheiros.

Antes mesmo do PMDB adentrar o primeiro mandato de Lula, lembro que deste já faziam parte PP (um dos herdeiros da Arena), PTB (a legenda cujo controle fora um lance de gênio de Golbery) além do extinto PL, partido do então vice-presidente José Alencar.

Se retrocedermos um pouco mais, ainda no ano de 2002, a Carta ao Povo Brasileiro já continha os elementos básicos do programa a ser implantado e das alianças ("parceiros" na gíria contemporânea) a dividir glórias e desgraças planaltinas.

Se antes de chegar ao Planalto o paradigma era o teto eleitoral, após a posse o obstáculo a ser superado seria exorcizar o fantasma de um parlamento golpista, ou no mínimo, tranca pauta. Avaliara-se que governar com tranquilidade era (e é), assegurar maioria folgada em ambas as casas do Congresso, pagando-se o preço que for preciso.

Junto do escândalo do Mensalão – que alguns ex-stalinistas insistem que não existiu, tal como os Gulags, outra "suposta invenção" – a sociedade brasileira conheceu a face da nova política.

Pragmatismo, possibilismo e inclusão social caminhando de mãos dadas. Vale o paradigma da transição lenta gradual e restrita que o PT tanto combatera; transitar entre quase todos para atingir os grandes objetivos.

Diante de tal quadro, aconselhar-se com Delfim Netto foi a cereja do bolo do desencanto da política, onde um governo recheado de ex-guerrilheiros – tal como a presidenta, de comportamento digno dentro e fora das masmorras do regime – e sindicalistas autênticos, dividia o poder com arenistas e tomava notas do pensamento do ex-ministro todo poderoso de Médici e Figueiredo!

Por fim, na garantia da permanência do projeto, consolida-se a aliança com o PMDB e a sigla de Orestes Quércia indica Michel Temer como vice-presidente.

A frieza analítica me obriga a constatar. Outras circunstâncias já foram dignas de muita indignação, senão com o legado do maior partido de "esquerda" da América Latina, ao menos com o classismo que o motivara em suas origens.

Após quase uma década de sucessos governamentais e desastres ideológicos, aliar-se com o PSD revela coerência com as escolhas anteriores, e gera apenas a indignação contra o pragmatismo de momento.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

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