Os Mártires de Chicago, em sua maioria operários de credo anarquista e origem alemã (nativos ou de segunda geração imigrante), marcaram o embate entre a força de trabalho e as forças da ordem capitalista. O 1º de Maio é o marco da luta de classes em todo o mundo, com exceção dos EUA, quando o feriado do trabalhador é em outra data.  - Foto:cucoco.ar
Os Mártires de Chicago, em sua maioria operários de credo anarquista e origem alemã (nativos ou de segunda geração imigrante), marcaram o embate entre a força de trabalho e as forças da ordem capitalista. O 1º de Maio é o marco da luta de classes em todo o mundo, com exceção dos EUA, quando o feriado do trabalhador é em outra data.
Foto:cucoco.ar

03 de maio de 2012, Bruno Lima Rocha

O 1º de maio é uma data internacional de luta pelos direitos dos que vivem de sua força de trabalho. Sua história começa na greve geral de Chicago (Illinois, EUA), iniciada em 1º de maio de 1886 e cuja repressão implica na prisão de dezenas de sindicalistas e a condenação a morte de cinco operários anarquistas, daí conhecidos como Mártires de Chicago. A exceção dos Estados Unidos, o dia converte-se em um momento onde o mundo reconhece o conceito de classe trabalhadora. E, obviamente, desde o século XIX que as correntes do socialismo enfrentam-se para tentar definir o que significa e quem organiza tudo isso.

Como se não bastassem as disputas na base da pirâmide social, o andar de cima há mais de vinte anos partiu para a ofensiva, exacerbando a lógica da indústria cultural de atuar nas horas de lazer. Antes bastava oferecer a arte na forma de mercadoria para gerar entretenimento e adesão aos valores do sistema. Agora, as fronteiras entre a vida privada e a atividade produtiva são tênues, quase inexistentes. Esta doutrina de economia neoclássica circula na forma de um neoliberalismo vulgar, exacerbando o individualismo, gerando empatia onde havia conflito (transformando trabalhador em “colaborador”) e associando a realização pessoal com o consumo suntuoso.

No Brasil o embate segue, estando os sítios de internet das centrais sindicais explicando a posição de suas direções quando ao significado da data, oscilando a denominação do 1º de maio entre a perspectiva classista (dia do trabalhador) e a trabalhista (dia do trabalho, reinvenção esta feita por Getúlio Vargas). CUT, Força Sindical, CTB, UGT, NCST, CGTB, dentre outras, disputam concepção com Intersindical e Conlutas (ambas não alinhadas ao governo) quanto às definições e capacidades de organizar a força de trabalho no Brasil. O dilema é intenso, tendo a década com o governo de centro-esquerda gerado enorme desorganização social, apesar do aumento do emprego de carteira assinada e a mobilidade social através de ingresso salarial, crédito para o consumo e acesso à educação pública. A massa melhorou de vida, mas por fora do conflito sindical.

O problema de tanta colaboração de classe é quando o caldo entorna e é preciso reagir pela garantia de direitos. No caso da Europa hoje, é certo que se os sindicatos não fossem tão atrelados ao jogo político partidário e cúmplices do pacto social, as condições de vida da maioria não piorariam tanto em tão pouco tempo. Que sirva de alerta se a maré virar por aqui.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

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