Com o descrédito da política institucional, representantes que fazem o mínimo da sua obrigação executiva ou legislativa se tornam heróis da moral nacional. É a lógica do
Com o descrédito da política institucional, representantes que fazem o mínimo da sua obrigação executiva ou legislativa se tornam heróis da moral nacional. É a lógica do “rouba, mas faz”, que imortalizou o ex-governador de São Paulo e fumante Adhemar de Barros.
Foto:Cananet

14 de junho, Bruno Lima Rocha

“A mulher de César não basta ser honesta, mas também parecer honesta”. Pois bem, hoje no Brasil, está ocorrendo justamente o inverso dentre aqueles e aquelas que optaram por cursar uma carreira na política tradicional. O depoimento dos governadores de Goiás e do Distrito Federal levanta suspeições de alto calibre, onde no mínimo, a fronteira entre a vida pública e privada é tênue e frágil.

Nota-se também que as relações “heterodoxas” entre contratantes e fornecedores não foram suficientes para garantir a convocação do governador fluminense. Este fora blindado assim como os contratos da nobre construtora com o Palácio dos Bandeirantes tampouco entraram nos autos da CPMI.

Mais uma vez nos colocamos diante de um paradoxo, com perigos e armadilhas. Ou admitimos que o papel de governante e representante do povo é atravessado por vias de corrupção e locupletamento particular, ou então podemos nos deparar com uma cruzada de tipo conservadora, abrindo margens para uma espécie de macarthismo tupiniquim. Ambas as escolhas são furadas.

Por outro lado, é preciso ser comedido com esta história de quebra de sigilo telefônico. Ao mesclar as conversas privadas com temas de tipo coletivo, a conduta de um indivíduo pode ser julgada por temas absolutamente irrelevantes.

Assuntos como opção sexual, forma de lazer, hábitos de consumo, usos e costumes, não deveriam ser usados como arma política. Neste sentido somos até mais sadios (ou menos enfermos) do que o Império em decadência.
Podemos ser o trópico dos pecados, mas não um país de hipócritas, regidos por falsos moralistas como os arautos da política estadunidense.

Voltando ao drama dos negócios públicos, o mais relevante seria um mecanismo de vigilância perene, onde os fornecedores do Estado teriam de abrir contas bancárias, expor movimentação financeira e receber periodicamente uma visita de equipe de peritos contábeis.

Estes, preferencialmente motivados por uma ideologia republicana de tipo “jovens turcos”, munidos de planilhas e softwares para rastreio do dinheiro. Do contrário, episódios como os de Cachoeira e Delta permanecerão rotineiros.

Do jeito que a coisa vai, teremos o lema de Adhemar de Barros (“rouba, mas faz”) como o padrão do “menos pior”, sendo a nova versão do voto útil no século XXI.

Vivemos um momento transitório, onde a obrigação torna-se virtude, e como quase ninguém cumpre aquilo que é dito, apenas ser consequente entre palavras e atos já transformam um hipotético tribuno em paladino da justiça.

Texto publicado originalmente no Blog do Noblat.

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