31 de agosto de 2012, Bruno Lima Rocha
Poucas vozes têm feito uma relação lógica entre o Plano Nacional de Logística (PNL) e o real intento de um governo – cujos quadros são oriundos do movimento sindical – em enfraquecer o poder dos sindicatos e representações classistas. Alegando buscar uma maior agilidade na realização do aumento da infra-estrutura, tendo como motivação um bismarckismo tupiniquim, o governo de Dilma esconde a outra face da diminuição do tamanho do Estado.
Abundam eufemismos e interpretações cruzadas. Concessão é privatização, assim como “Parceria” Público Privada (PPP) também o é. Uma das facetas menos desnudas do ato de privatizar o patrimônio é diminuir o potencial decisório do voto e da participação direta. Isto é, partindo de uma lógica gerencial, onde o Estado entra com os recursos coletivos e os capitais privados (nacionais ou não) entram executando aquilo que lhe foi dado pelo poder concedente, simplesmente o exercício de democracia (pela via da pressão social) perde seu poder de barganha. O mesmo no que diz respeito da democracia no local de trabalho. Esta é outra virtude do sindicalismo, embora ainda pouco exercida.
É certo que o movimento sindical dos servidores públicos por vezes descamba para demandas corporativas e em função da isonomia, confunde luta de trabalhadores com desembargadores. Mas, a solução oposta, a privatização a moda petista, não é saída para oxigenar o aparelho de Estado. Ao contrário, quanto maior a participação de capitais privados, menos democrático será o mundo do trabalho e ainda menos permeável às demandas societárias.
Como em toda a América Latina, associa-se idiotamente a “ineficiência” com a gestão pública da coisa pública! Custo Brasil não deveria ser apenas associado aos encargos e os enervantes tempos burocráticos para fazer andar processos e tramitações. Os custos mais elevados para a sociedade brasileira localizam-se no vergonhoso repasse de recursos coletivos, cujo grosso do montante é fruto do aumento do endividamento público ou taxação sobre o consumo e salário, destinando deveres e atribuições de um Estado com raízes nacional-desenvolvimentistas (aquele período varguista que FHC tentou trucidar) para os capitais privados de sempre.
Se houvesse um pouco mais de ousadia política, a greve dos servidores federais poderia começar uma larga campanha contra o PNL e o kit de felicidades empresariais. Se bem posicionado, o movimento sindical é uma forma de contrabalançar os poderes de classe dominante e elites dirigentes transitórias.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat