As oligarquias políticas têm a tendência a agir por conta própria, mas para isso, sempre contam com a conivência de quadros médios partidários. - Foto:solosemensaio.blogspot.com
As oligarquias políticas têm a tendência a agir por conta própria, mas para isso, sempre contam com a conivência de quadros médios partidários.
Foto:solosemensaio.blogspot.com

02 de outubro de 2012, Bruno Lima Rocha

O processo do chamado Mensalão sendo julgado no Supremo traz um debate de fundo. Este é o da responsabilização da militância pelas decisões tomadas por cúpulas partidárias. A saber, não me refiro apenas aos episódios que se tornaram públicos em 2005, mas também outras mazelas da política brasileira, como a manipulação do fundo partidário pelo PP (daí derivando o termo “malufar”) e os mecanismos semelhantes de formação de maioria nos governos de Minas Gerais (Mensalão Tucano, cujo alvo é o ex-governador Eduardo Azeredo, PSDB) e o do DEM no Distrito Federal (tendo como alvo o ex-governador distrital José Roberto Arruda). A tendência de parlamentares e comentaristas é tentar preservar as instituições partidárias e demonizar dirigentes. Não é tão simples.

Qualquer estudioso da política sabe que o fenômeno das oligarquias partidárias é tão sério como antigo. A tendência ao insulamento, quando um grupo de dirigentes com dedicação a tempo completo isola-se dos demais quadros e consegue neutralizar os mecanismos de controle, é real. Mas, como todo estudante de ciências sociais em suas primeiras armas já sabe, toda estrutura é estruturante, e para que esta não se retro-alimente é necessário não apenas o debate interno, mas os embates pelo controle coletivo também. O problema é o pragmatismo político. É lugar comum pressupor a defesa da instituição, preservando sigla e legenda, mesmo que em detrimento de um programa histórico (no caso brasileiro, refiro-me a ex-esquerda outrora reformista). Daí a um racha, uma secessão fruto de incompatibilidade (incongruência) entre plataforma de campanha, política de alianças, missão de partido e formação de bloco de governo é inevitável. Qualquer semelhança com o racha do partido de Luiz Inácio e Dilma Rousseff não é nenhuma coincidência.

Muitas vezes, para evitar uma dissidência e o racha subsequente, atura-se a quase tudo em nome de alguma unidade de ação. Quando o pacto de convivência é mera convergência de interesses, o preço político é mais baixo. Tal é o caso da direita escancarada. Mas, quando o mesmo pacto implica em uma exposição de motivos preocupados com o bem-estar coletivo e alguma ideia de bom governo para a maioria, o pragmatismo político torna-se insustentável. É por isso que o que sobrou de militância no PT paga um preço alto pelo Mensalão, enquanto os aliados do PP e os opositores de PSDB e DEM passam despercebidos, mesmo estando “fichados” em atos semelhantes.

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