“Pela defesa do tatu-bola” numa semana recheada
Foto:Latuff

Por Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

Árbitro que atrasa mais de 15 minutos uma partida em Recife para obrigar torcida a retirar faixa que de ofensa não tinha nada; atitudes ofensivas de torcidas de Coritiba e Corinthians contra “inocentes” torcedores; reeleição de Carlos Artur Nuzman no Comitê Olímpico Brasileiro para fechar em 2016 21 anos no alto comando do esporte no país; a defesa da Brigada Militar gaúcha, com apoio da Guarda Civil Metropolitana, do boneco da patrocinadora da Copa do Mundo FIFA; o McDonald’s expulsando as baianas de acarajé do entorno da (nova) Fonte Nova; e, por fim, o apagão do Superclássico das Américas. Ufa!

Comecemos pelo fim, mas sem prometer tratar de todos os assuntos com maior profundidade, já que isso seria impossível para uma coluna semana. Após quatro décadas, a CBF e a AFA, ambas agora presididas por senhores de idade a quem esta coluna opta por nem falar mais os nomes, resolveram resgatar a Taça Roca, torneio anual que servia para apimentar a rivalidade entre Brasil e Argentina com dois confrontos anuais.

Porém, diferentemente dos tempos de Friedenreich até Pelé, os confrontos pelo Troféu Júlio Grondona – sério, que alguém se esforça por um troféu com este nome, por mais bonito que seja (parecido com o quiquito do Festival de Cinema de Gramado) – só podem contar com atletas que atuam no Brasil e na Argentina, por serem realizados fora de datas-FIFA.

Os “gênios” que comandam o futebol, falando agora mais especificamente de América do Sul, conseguiram banalizar um dos maiores clássicos do futebol mundial. Pergunte a qualquer amante do bom futebol se era esse Brasil x Argentina que eles gostariam de ver?
Seleções descaracterizadas, com alguns nomes que dificilmente disputarão a próxima Copa do Mundo FIFA. Sem falar que as camisas que já foram vestidas por verdadeiros craques dos dois países, estão no corpo de jogadores tecnicamente limitadíssimos. Nem brasileiros nem argentinos precisavam disso. A rivalidade está sendo apagada mais uma vez por outros interesses.

O apagão de Resistência

O primeiro jogo foi realizado em Goiânia, com vitória da seleção brasileira com um gol de pênalti de Neymar nos últimos minutos de jogo. 2 a 1 sobre uma Argentina cujos principais jogadores atuam no Brasil (Guiñazu, Barcos e Martínez).

Tudo bem que a Argentina não tem tantas opções de locais para realização de jogos como o Brasil – a ponto de o país excluir Goiânia e Belém de uma Copa para dar lugar a Cuiabá e Manaus –, mas qualquer um@ deve ter estranho a escolha da cidade de Resistência para a realização do jogo de volta.

Tudo parecia pronto. Uma bela execução dos hinos nacionais, com direito a cantor argentino interpretando o hino brasileiro, times em campo com um pouco daquela rivalidade entre as duas seleções. Torcedores nas arquibancadas? Não tantos quanto um jogo desse naipe merece.

Porém, a bola não rolou. Logo após os hinos, parte dos refletores apagaram. Primeiro, sugeriram que o ônibus da seleção brasileira havia derrubado um filme – com efeitos horas depois né? Depois, acharam uma imagem de bombeiros tentando apagar o fogo no gerador do estádio. Com quedas constantes durante a noite, a energia não suportou.

Os times aqueceram por mais de quarenta minutos em campo e o árbitro consultou ambos os goleiros, que não concordavam em começar a partida com baixa luminosidade. Os jogadores voltaram ao vestiário para aguardar o retorno da energia. Os responsáveis pelas grades de TVs estavam em pânico, telenovela sendo antecipada e nada do jogo começar.

Por volta das 23:10, no horário de Brasília, veio o comunicado oficial do árbitro que o jogo seria cancelado. E tome crítica da emissora de TV brasileira. A crítica era sim procedente, afinal não nos recordamos na história recente do futebol um jogo entre seleções desse porte cancelado por falta de energia elétrica, nem mesmo nos torneios da boa e velha várzea isso ocorre. Mas ouvimos criticas contra o árbitro. Comentaristas queriam que o jogo ocorresse de qualquer maneira. Os mesmos comentaristas que costumam cobrar bom senso das pessoas que vivem no meio do futebol.

Soltando o verbo de novo

O diretor de seleções Andrés Sanchez resolveu falar suas verdades de novo (viva!). Após o cancelamento da partida entre Argentina x Brasil, Sanchez disse que quando se mistura política com futebol dá nisso, e que era um desrespeito com o torcedor.

Sanchez se referia ao que muitos chamam de “kirchnerismo”, devido o jogo ser marcado em um modesto Estádio Centenário na cidade de Resistência, cerca de mil quilômetros de Buenos Aires. A escolha do lugar, contudo, teria sido mais política do que esportiva. O mandatário máximo do Sarmiento, Jorge Capitanich, é também governador da província de Chaco e adepto do "kirchnerismo", e seria amigo íntimo da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner. A partir daí, o acanhado Estádio Centenário mostraria na noite de quarta-feira que não tinha as mínimas condições de receber um evento desse porte.

Incrivelmente o defensor e amigo do Ricardo Teixeira está coberto de razão, misturar política com futebol não dá certo, embora seu amigo fez muito isso, mas quando Sanchez resolve falar…

O troféu acabou ficando sem dono, e a seleção brasileira segue sem empolgar o torcedor, indo parar no ranking FIFA atrás das “super potências” Colômbia e Grécia.

Enquanto isso, no Brasil

No final de semana passado, torcedores do Coritiba praticamente bateram numa jovem de 13 anos e no seu pai porque ela, fã de Lucas (até dezembro no São Paulo), ganhou a camisa do jovem jogador no Couto Pereira. A polícia pouco fez para protegê-los, ela conseguiu a camisa de volta depois, a convite do São Paulo, mas recebeu ameaças por mídias sociais. A promessa? Nunca mais ir ao Couto Pereira.

Em São Paulo, um escocês resolveu ver o jogo do Corinthians contra o Sport com a camisa do Celtic. Olha, ele não estava na geral, no tobogã ou no meio de alguma organizada. Em meio às arquibancadas mais caras, foi obrigado a vestir algo que cobrisse a camisa verde e branco na vertical (!!!), com sugestão da polícia.

Com Copa do Mundo FIFA 2014 por aqui, veio a notícia que, por conta da Lei da Copa, aprovada após muitas discussões sobre a perda de soberania do Brasil, as baianas que vendem acarajé (patrimônio cultual) próximo ao Estádio Fonte Nova, em Salvador, não poderão vender seu produto. Será que os estrangeiros prefeririam McDonald’s às cocadas e acarajés? Contra a concorrência, devem ficar os sanduíches industrializados. Quem ganha com a Copa mesmo?

Quem ganha são poucos e já vemos quem está perdendo com desocupações e até mesmo com a proteção ao patrimônio privado. No Rio Grande do Sul, a Brigada Militar (como chama a PM por aqui) optou desde cedo a proteger o tatu-bola, ainda sem nome (ridículo), com a marca da patrocinadora de refrigerantes que tod@s conhecem.

A manifestação em “Defesa da Alegria”, organizada sem partidos políticos e que combate a privatização de praças, parques e espaços culturais de Porto Alegre ia bem até que os manifestantes resolveram dançar em torno do boneco. Os brigadianos defenderam o bichinho de plástico de todas as formas possíveis e imagináveis. No final das contas, a culpa na mídia ficou aos manifestantes, que esvaziaram um tatu-bola de uma marca após receberem agressão dos militares – 60, entre brigadianos e da guarda civil, metropolitana, só para isso!!!

Ainda vimos o espaço de comentários em sites nacionais sendo transformados em batalhas de gaúchos contra paulistas e cariocas, quando o assunto principal é a constante afronta à soberania brasileira e aos direitos de seus cidadãos. Estes, lembrados só nos discursos a cada dois anos quando @s polític@s precisam de votos…

Para finalizar, a Apesar de denúncias do deputado federal Romário, do presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Gelos e a polêmica do roubo de dados de trabalhadores do COB nas Olimpíadas de Londres, Carlos Artur Nuzman assumiu mais um mandato à frente da maior entidade esportiva nacional – acumulando o cargo com o de organizador dos próximos Jogos de verão, como Teixeira era da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa.

Mais uma vez Nuzman não teve chapa de oposição. Em período de eleição, não permitir oposição é uma alternativa bem mais viável que a utilização da máquina de administração.

Ufa! Será que vivemos em Brasis mesmo? Quando confrontos o período eleitoral com o esporte brasileiro, vemos que há muito mais semelhanças…

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