O treinamento para a política seria parte da educação pública, massiva e universal. - Foto:debatendo-a-educacao.blogspot.com
O treinamento para a política seria parte da educação pública, massiva e universal.
Foto:debatendo-a-educacao.blogspot.com

24 de outubro de 2012, Bruno Lima Rocha

Um tema recorrente quando se debate a política municipal brasileira é o baixo nível político dos representantes locais. Trata-se de uma evidência, irrefutável.

A baixa compreensão da política nota-se de forma exagerada, especialmente em momentos de campanhas, com destaque na disputa para vereança.

Embora reconheça este aspecto como uma deficiência de nossa democracia, o problema não se supera por decreto. É preciso uma série de movimentos, dentre eles a polêmica necessidade de uma formação política prévia. Idealmente, uma república formaria cidadãos plenos de direitos e deveres, e seria dotada de instituições formadoras de uma cultura cívica. Assim, o treinamento para a política seria parte da educação pública, massiva e universal, incluída nos currículos escolares, ao menos do ensino médio.

Ao massificar a compreensão das disputas sociais por poder e recursos, as maiorias estariam em condições de se contrapor às oligarquias partidárias, quebrando a estrutura que tende a reproduzir elites políticas.

Entendo ser simplesmente impossível o aumento da participação política se esta não for precedida de no mínimo três aspectos: formação massiva, tendo como base os direitos constitucionais; a organização social, promovendo as lutas reivindicativas e mecanismos institucionais de consulta pública, como plebiscitos e referendos para as decisões fundamentais de uma sociedade.

Pois bem, o tipo-ideal de formação para a política narrado acima é justamente o oposto do que ocorre no mundo real.

Para piorar o modelo, a massificação da concorrência política se verifica nas disputas municipais, onde impera o senso comum e a cultura política dominante. Esta é, hegemonicamente, paroquiana, localista, clientelista e movida por interesses e pautas imediatas.

A contradição está aí. As minorias organizadas, em tese, teriam de transformar a sociedade, e não simplesmente reproduzir os comportamentos já estabelecidos.

No jargão da política profissional, os candidatos a vereança “amassam barro com poeira”, recrutando as energias sociais existentes (como clubes de mães, times de várzea, escolas e blocos de carnaval), muitas vezes apelando para interesses familiares no apoio a suas candidaturas. É esta a base do clientelismo de baixa intensidade.

Romper com este mecanismo cruel é condição prévia para melhorar o nível da política brasileira. Sem a massificação de uma cultura participativa, teremos a permanência e a naturalização dos grotescos espetáculos observados nas campanhas municipais do país.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.

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