O conflito entre as duas Coréias é uma permanência do período da Guerra Fria que se mantêm nos dias atuais; para sair da encruzilhada em duas arenas simultâneas, a metade Norte precisa continuar pressionando Seul e Washington.    - Foto:noticias.uol
O conflito entre as duas Coréias é uma permanência do período da Guerra Fria que se mantêm nos dias atuais; para sair da encruzilhada em duas arenas simultâneas, a metade Norte precisa continuar pressionando Seul e Washington.
Foto:noticias.uol

06 de maio de 2013, Bruno Lima Rocha

 

Ao completar sessenta anos do fim da Guerra da Coréia, o mais longo conflito do planeta ultrapassou o período da bipolaridade como um marco permanente da Guerra Fria na Ásia. A península da Coréia é a zona de maior concentração de tropas profissionais do mundo e vive em estado de guerra, com nível de alerta alto, desde a divisão em dois países. Neste contexto, ambas as sociedades foram recriadas dentro de uma lógica de modernização urbana. Para a metade norte, a capacidade bélica é essencial como fator dissuasório de uma guerra de conquista do Sul e a conseqüente liquidação do regime e, por conseqüência, deste modelo de sociedade. Esta é a razão fundamental para a escalada das ameaças beligerantes. Como herdeiro e neto do patrono do país, Kim Il-sung, o atual mandatário Kim Jong-un necessita do ambiente de conflito embora não deseje a guerra.

Caso o confronto venha a ocorrer, talvez a Coréia do Norte não resista sequer uma semana aos ataques aéreos e por tanto necessita de alguma vantagem tática. Esta seria a mobilidade de seus lançadores de mísseis nucleares, que com certa constância aparecem em manobras militares de forma bastante ostensiva. Estes lançadores móveis (acoplados em caminhões militares de seis a oito eixos), podem lançar mísseis contra alvos distantes até 10.000 kms. O Japão e algumas bases dos EUA são alvos prováveis. Seul, em caso de ataque, não poderia ser quase totalmente destruída. Somente esta possibilidade aponta para algumas alternativas de resposta pelos sul-coreanos, dentre estas uma de tipo fulminante.

 

Uma possibilidade é que o aliado dos EUA aceite de um cessar fogo, alcançando a vontade política do novo governante norte-coreano de permanecer para assim provar ser capaz de exercer um Poder Executivo forte diante de generais contemporâneos de seu avô, fundador do país. Simultaneamente, Pyongyang intenta congelar as projeções de poder dos EUA sobre a existência de um Estado que já fora satélite da União Soviética e da China. Hoje a sociedade norte-coreana sobrevive de ajuda humanitária, emissão de recursos de cidadãos emigrados econômicos, assim como de algumas empresas estatais, a maioria pertencendo as Forças Armadas do país. Da antiga geopolítica do planeta no período anterior, segue existindo estreita relação entre Beijing e Pyongyang, tanto através de auxílio, relações comerciais, como de livre fluxo de mercadorias e bens que cruzam pela fronteira seca de 1600 kms entre os dois países.

 

Da parte da Coréia do Sul, no caso de um conflito com a metade setentrional da península, haveria a chance de unificar o país, dobrar a área territorial sob jurisdição de Seul e, por fim, alçar-se à condição de potência regional também na arena militar. Com esta possível unidade coreana, haveria uma elevação de gastos centrais e uma realidade semelhante da Alemanha pós-unificação.

 

É fato, numa escalada de tensão e aumento de manobras militares, a contenção nunca é total. A probabilidade de guerra, embora pequena, é sempre real.

 

Artigo originalmente publicado no jornal quinzenal Jornalismo B, de Porto Alegre; edição da 2ª quinzena de abril, página 3

 

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