Romancista, teatrólogo, crítico e autor de perfis, Diogo Mainardi termina por substituir a Paulo Francis na figura caricata do mccartismo tupiniquim; Guerreiro Ramos explica tamanho recalque em sua obra

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Tive a chance de ver e ouvir atentamente a entrevista de Diego Casagrande junto a um de seus ídolos, Diogo Mainardi. Em escala diferente, ambos têm muito em comum. Para Mainardi, a América Latina não existe. Falou isso com todas as letras e na frente de mais de uma centena de outras pessoas em evento na PUCRS. Porque será?

A idéia de modernização é inerente a da política. Quase todo autor, intérprete ou interlocutor se vê como porta-voz de alguma novidade. Ácido em suas críticas a Lula, vê na figura do ex-sindicalista que nunca foi socialista como uma ameaça à liberdade de imprensa. Dotado de carisma, Luiz Inácio opera como um peemedebista clássico, mas com apelo popular. Junta ao pior do pior do Brasil. Base social, assistencialismo e corrupção. O argumento não está de todo errado, à exceção de quem o pronuncia e com quais propósitos.

Nosso Continente foi o primeiro lugar no mundo a criar uma república abolicionista. A revolução das 13 colônias da costa leste separou-se da Inglaterra ainda antes da Revolução Francesa. Não eram abolicionistas e tinham uma idéia de federação bem distinta do federalismo artiguista. Após a Revolução Francesa, país onde não havia escravidão embora a vida nos campos fosse um inferno, a revolução que a sucedera foi na Ilha de Hispaniola, na colônia do Haiti. Abolicionista, republicana e dividindo riquezas. Foi o suficiente para o escândalo e horror da restauração.

O “grande medo” se abatera sobre mentalidades coloniais, colonizadas e colonialistas de norte a sul da América. O patriarca da independência brasileira José Bonifácio de Andrade, de convicção abolicionista, sabia que o protagonismo dos afro-brasileiros libertos fragmentaria as duas colônias – do Brasil e do Grão-Pará – unificadas e sob a bandeira do Reino Unido com Portugal e Algarves. Passou o bastão a seu filho adotivo, também rebento este de Maria Louca, quase rainha do Vice-Reinado do Prata. O medo esse campeava por todos lados.

As “massas atrasadas” e libertas seguiriam ao primeiro demagogo, mudando as coisas de lugar. Abrir os portos para as nações amigas, sim. Entender que quem criou a riqueza brasileira se forjou na chibata, no tronco, no pelourinho, na capoeira e no quilombo. Mainardi reflete o grande medo da vontade popular. Não entende que Luiz Inácio e seu governo de todos junto a todos é do mesmo padrão da Abertura Lenta, Gradual e Restrita. Lula é seu aliado, seu, dos bancos e de Diego Casagrande. O problema é que a UDN nunca aprende. Louve sua carga ideológica, grotesca e sincera. Chorem seus financiadores de sempre. Para quem acha que exagero, assista ao vídeo no link.

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