20 de maio de 2009, Bruno Lima Rocha, do Rio Grande de São Sepé
O Rio Grande arde sob a crise política do atual governo. Um dos fatores da crise remonta ao que Graham Greene, um dos autores clássicos da literatura de espionagem, classifica como “fator humano”. É quando as motivações individuais transcendem os processos onde estes atores políticos estão inseridos. Na luta entre Yeda Crusius e Paulo Feijó ocorre algo semelhante.
É por isso que em poucas situações a noção de “fogo amigo” se viu tão escancarada como na peleia interna da direita gaúcha. A edição dessa semana da revista Veja (20 de maio 2009, págs. 62-63) atira mais gasolina na fogueira da política do pago. A matéria de Igor Paulin estampa um email do então candidato a vice-governador Paulo Feijó, onde este afirma haver recebido a quantia de R$ 25.000,00 em espécie da GM. Quem supostamente lhe passou o volume é Marco Kraemer, gerente de relações institucionais da montadora instalada em Gravataí. Este dinheiro, ainda segundo a correspondência de Feijó, teria sido repassado para o tesoureiro oficial do PSDB na campanha e atual vice-presidente do Banrisul, Rubens Bordini. Tanto Bordini como Kraemer confirmam os emails como sendo deles, mas negam seu conteúdo. Se houve este repasse em dinheiro e o mesmo não foi contabilizado, já existe fato para investigar a fundo as contas da campanha de Yeda para o Piratini em 2006.
Assim, constata-se que os emails confidenciais trocados por Feijó ao longo da campanha foram devidamente arquivados e estão saindo aos poucos. Pelo que deu a entender o vice, em entrevista ao jornal Zero Hora, o volume de correspondência sensível é enorme. Pelo visto, haverá “fogo amigo” em abundância. Um leitor atento perguntaria, porque tamanha rivalidade entre pessoas com afinidade política? Para compreender a crise política e a berlinda onde se meteram os tucanos do Rio Grande é preciso observar a luta direta entre duas pessoas que em tese teriam quase tudo em comum. Os problemas entre eles remontam ao momento da campanha para o governo estadual e jamais foram superados. Sendo rigoroso na análise, ambos compartilham de uma mesma base ideológica neoliberal, e por conseqüência, da mesma receita de Estado mínimo como fonte de financiamento para empresas privadas gaúchas, brasileiras e transnacionais. Ou seja, a disputa é de ordem pessoal.
Tudo é muito parecido com o fator motivacional da crise política do Planalto em 2005. Naquele fatídico ano, as análises mais lúcidas classificavam a luta fratricida, dentro do governo Lula, como disputa por parcelas de poder e não de projeto de sociedade. Dentro da base “aliada” no Piratini acontece o mesmo.