A Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo demonstrou uma capacidade de luta e barganha poucas vezes vista na última década. Durantes às 6 horas corridas entre a meia-noite de 6ª 30/03 para o sábado 31 de março, esta categoria exerceu o direito e a vontade política de controlar os tempos de seu ritmo de trabalho. Trancando a circulação de pessoas-chave para conduzir o país, garantiram suas pautas e foram além do chavão clássico de “chamar a atenção para a sociedade”. Se a meta fosse apenas esta, já estaria mais que cumprida.
Exercitar controle do tráfego aéreo é diferente de interferir diretamente em toda a aviação comercial do Brasil. Quando se viram na berlinda, os controladores executaram uma manobra que é regra da arte da estratégia. Se um agente está acuado sem nenhuma saída, ou ele se rende, ou parte com tudo para o ataque, mesmo que seja uma manobra desesperada. A manobra veio sendo ensaiada, portanto, não foi desespero, mas sim cálculo. A conta saiu certa.
Se o governo assinar o acordo, está reaberto o precedente. Com os altos mandos da FAB acuados, a desmilitarização é quase certa. E, por incrível que pareça, esta ferramenta – a de tomada dos meios e rotinas produtivas – não é novidade, só não vem sendo aproveitada. Conceito que não se pratica é ferramenta inutilizada, sistematicamente transformada em “inútil”. Retomado o seu uso, pode servir de exemplo a ser aplicado em distintas situações e categorias.