A bola está picando entre o ex vice governador em exercício, Paulo Afonso Feijó, e o Procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, Geraldo da Camino.

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Embora não seja do gosto deste politólogo, por momentos somos obrigados a debater as chances dentro das possibilidades e constrangimentos. Ou seja, o debate que se dá por dentro, com as ferramentas que são usadas a partir do parlamento e dos partidos oficiais. Mesmo com esse constrangimento, parto das premissas de análise do Jogo Real, aquele realmente existente, o do ser e não do dever ser. Vamos ao tema.

A maior possibilidade que a oposição estadual tem para derrubar a governadora Yeda Crusius é obter uma prova material que ligue sua pessoa física aos desvios e mal uso de verbas públicas. Até agora, tudo não passa de especulação. É preciso aparecer algum dado de movimentação bancária, um depósito, um cheque, ou algo por estilo. Se este dado for um cheque em torno de R$ 2 milhões de reais assinado por alguém do quilate de Delson Martini, eis a abertura do caminho para sua queda.

O cheque famoso esse, ou o depósito bancário, não precisa necessariamente ser para Yeda. Se for de alguma pessoa física ou jurídica de relação direta com a governadora, destinado para uma conta bancária sob controle de Eduardo Laranja da Fonseca. Como se sabe, o empresário da construção civil, dono da Self Engenharia, era proprietário da atual residência de Yeda Crusius. Em tese, a casa teria sido comprada por R$ 400 mil; outras teses levantam o valor da casa de R$ 750 mil. De qualquer modo, estes valores não passam de um terço do valor real de mercado imobiliário para o mesmo bairro e rua. No bairro Menino Deus, alguns apartamentos alcançam o valor de R$ 2 milhões. Uma casa na mesma rua é avaliada por cerca de R$1,3 a R$1,5 milhão. A difusão de uma peça midiática, com a escritura – documento de fé pública – da casa de Yeda comparada com uma casa vizinha e dotada das mesmas benfeitorias seria fundamental. Porque até agora não foi feito, é mais um mistério da trama Planaltina com o Piratini. Em suma, haveria de perguntar para Tarso Genro, homem forte do RS no Planalto.

Voltando ao tema da compra da casa, o ex-proprietário Eduardo Laranja da Fonseca é dono da Self Engenharia, e assim como a maioria dos médios e grandes empresários gaúchos, faz parte do time dos devedores da Receita Estadual. Portanto, o fato contábil dele estar em dívida com o fisco estadual pode ser de mão dupla. Se a meta é atingir Yeda, acabará alcançando Paulo Afonso Feijó também. Dever para a Receita e para o Banrisul faz parte do pacto de governância entre operadores políticos e empresariado do pago. É uma conjectura possível de ser feita, e uma “verdade” passível de ser difundida, de que Laranja trocara a dívida com o Banrisul e a Receita pela casa com preço inferior (declarado) ao de mercado. A diferença entraria por fora, e para comprovar a tese do delegado Tubino (PCRS) é urgente que alguém apresente a comprovação deste fato bancário. Se Feijó tiver esta prova – o que é uma possibilidade real – o governo balança através dos humores e cálculos políticos do político-empreendedor.

O brete para o Piratini e seu Gabinete de Crise está na difusão do calote. Assim, o contra golpe a ser aplicado em Feijó, apontando suas dívidas com a Receita estadual e com o Banrisul, poderia ser um tiro no pé, porque atingiria a direção das entidades empresariais. Federasul, Fiergs, Farsul e Fecomércio-RS veriam suas bases de empreendedores desesperados com a difusão do nome dos devedores para os cofres do RS. O impasse anunciado é o ambiente para a não difusão. Portanto, duvido que o tema da dívida empresarial seja utilizado.

Uma possibilidade é a defecção, se um dos membros da quadrilha apontar os mandantes e através destes, se atingir a governadora. Até agora, a tática da investigação da PF não vem dando certo no sentido da “delação premiada”. Estão todos se segurando como podem, resistindo à exposição midiática e cobrando as lealdades devidas e compradas pelo silêncio, isolando José Otávio Germano. A investigação busca atingi-lo de forma indireta, apontando em seu irmão e suas relações diretas por dentro do PP RS. O mesmo acontece com Lair Ferst (tesoureiro informal de Yeda no 2º turno) e Marcelo Cavalcante (ex “embaixador” do Rio Grande em Brasília). Acima deles tem um “Zé Otávio”, mas até agora ninguém bateu nada. Pode ser que seja o próprio Delson Martini – e aí entra a jogada de abalá-lo psicologicamente quando o ex-homem forte de Yeda for depor se expondo para a sociedade riograndense.

Mas, a julgar pelo comportamento do ministro da Justiça Tarso Genro, o verdadeiro Chefe Político do PT RS atual, tudo será levado em banho maria. Tarso mandou o superintendente Ildo Gasparetto deixar a investigação do grosso das novas denúncias e relações com a Polícia Civil do RS, que está rachada, dividida, subordinada à Brigada do coronel Paulo Roberto Mendes. Esta movida de Tarso é um lance de sair pela tangente. Se não fosse a ofensiva federal através da PF RS, nada haveria acontecido.

E agora, a bomba atinge o colo do PDT, aliado circunstancial e provisório do PT RS, através da atuação de João Luiz Vargas no Tribunal de Contas do Estado. Se o esquema da aliança de governo implica sociedade política e de negócios, a presença do ex-prefeito de São Sepé na presidência do Tribunal de Contas implica na “parceria” dele, através de seu filho, Eduardo Wegner Vargas, operando na ala de Ferst das sistemistas. Pressionar Vargas pode ser uma forma de atingir a Lair, mas como outro efeito, pode retirar o PDT da linha de ataque na CPI.

Fora das ruas, o próximo lance de força está com Paulo Afonso Feijó e seus dossiês sem fim. Quando Feijó for depor, de forma voluntária, na CPI do Detran-RS, será jogada a próxima etapa da possibilidade de impedimento de Yeda. Por dentro do jogo parlamentar-jurídico-institucional, tudo depende de um fato contábil comprovável ou das fitas do ex-vice governador em exercício.

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