Viamão, 29/07/2005

Os 16 anos de administração do PT em Porto Alegre ficaram conhecidos nacionalmente. Instalados uma série de mecanismos de mediação e participação controlada, como o Orçamento Participativo (OP) e os Conselhos Regionais Temáticos, o conjunto da experiência conforma uma “escola de governo” reproduzida Brasil adentro. Com a derrota eleitoral de Raul Pont para José Fogaça, em outubro de 2004 o PT viu por terminado o sonho dos 20 anos no poder.

Ao contrário da capital, o PT foi vitorioso em algumas cidades da Região Metropolitana. Em uma delas, na cidade de Gravataí, a ala direita deste partido ganhou o terceiro mandato consecutivo. Cidade distante apenas 22 kms. de Porto Alegre, é um importante parque metalúrgico e tem população de mais de 230 mil habitantes. Lá o PT ganhou em 1996 e 2000 com Daniel Bordignon e emplacou o sucessor, Sérgio Stasinski.

Se encararmos a experiência municipaiL como “escola de governo”, sem dúvida Gravataí é marcante. Eleito para prefeito de Gravataí em 1996, Daniel Bordignon marcou sua gestão por aliança de classe e pragmatismo político. A trajetória política individual deste político se confunde com a própria administração da cidade e os rumos da legenda no Rio Grande. Antes membro da DS, Bordignon mudou de corrente, entrando na Rede. Esta, é hegemônica na ala direita no Rio Grande e encabeçada por Tarso Genro.

No quesito segurança, marcou um golaço. Em seu primeiro mandato, articulou com o inimigo de morte do PT, o então governador Antônio Brito. O fruto desta parceria foi uma nova unidade da Brigada Militar gaúcha, o 17º BPM. O principal articulador deste feito, foi o então Secretário Municipal de Assuntos de Segurança Pública, o hoje prefeito Sérgio Stasinski. Sua secretaria foi uma das pioneiras ao abrir uma instância de governo municipal para tratar de segurança pública. Desde então a Guarda Municipal de Gravataí e a Brigada trabalham lado a lado. Há que se notar que nos 16 anos de governo em Porto Alegre, Guarda Municipal, EPTC (trânsito, também municipalizada) e Brigada Militar mal se coordenaram. Enquanto isso, um petista, Stasinski, era condecorado como o “patrono do 17º “.

Em julho de 2000, Bordignon consolida sua marca, participando na inauguração da fábrica da GM em sua cidade. Alvo de polêmicas, a montadora instala-se no Rio Grande às custas de isenção de ICMS, doação do terreno já preparado para a obra e custeio do uso de energia elétrica. Olívio questionou na Justiça os pré-contratos que a Ford firmara com Brito e a fábrica não foi instalada em Guaíba, partindo para a Bahia. Bordignon foi mais rápido, e inaugura antes da própria fábrica a Avenida General Motors. Enquanto a RBS declarava guerra ao governo Olívio Dutra, o prefeito de Gravataí torna-se um nome de consenso para a grande mídia e a FIERGS. Maldosamente, os sindicatos da região começam a chamá-lo de “o prefeito da GM”.

Não por acaso, simultaneamente ocorre uma debandada dos sindicalistas da CUT na região. O alvo de disputa é a poderosa base metalúrgica. A CUT reivindicava a base territorial metropolitana, onde os metalúrgicos da GM estão vinculados a Federação com sede na capital. Já a Força Sindical, aliada da empresa, tenta rachar esta base, criando um sindicato próprio de Gravataí. As forças se dividem, parte das lideranças históricas do município vão para a Força Sindical, mas a CUT ganha a base territorial. Dentro da GM, os intentos de greve fracassam, e os trabalhadores que impulsionam o movimento foram demitidos.

Em 2002, as prévias internas do PT para o governo do estado marcam a presença de Bordignon e Stasinki na política estadual. Disputa acirrada entre seu candidato Tarso Genro e o então governador Olívio Dutra. A contagem era parelha até serem contabilizados os votos de Gravataí. Surpreendentemente, uma cidade de porte médio, levou mais de 1000 pessoas para votarem. Todos devidamente embandeirados, com camiseta, lanche, bonés e adesivos apoiando a candidatura de Tarso. Quem viu não se esquece, e fez lembrar os comícios de Antônio Ermírio de Moraes concorrendo pelo PTB ao governo de São Paulo em 1986. Seus comícios eram simples. As unidades da Votorantim paravam, os funcionários eram “embandeirados” e levados em ônibus da empresa para as atividades de campanha. Qualquer semelhança com Gravataí não é mera coincidência.

Na corrida eleitoral de 2004, emplacar o sucessor foi algo relativamente fácil. Aliado ao PL através de seu vice Décio Becker, também representante da classe empresarial do município, Stasinski arrecadou mais de 500 mil reais declarados para sua campanha. Sua receita foi o dobro da arrecadada pelo segundo colocado. A maior parte deste valor veio da própria família Becker, através de suas pessoas físicas e jurídicas. Até a Pirelli doou gordos R$ 25 mil reais para a campanha. Com todo este apoio, somados aos mais de 8 anos de presença anteriores, foi fácil derrotar o candidato do PTB, Abílio Santos, representante do senador Sérgio Zambiasi e fiel reprodutor de seu estilo assistencialista.

Já Bordignon, prova que é um nome em alta e duro na queda. O ex-prefeito de Gravataí resistiu no segundo escalão da Casa Civil após a saída de José Dirceu. Só mudou de função, passando de SubChefe da Casa Civil para Assuntos Federativos para Assessor Especial da ministra meio mineira e meio gaúcha, Dilma Roussef. Para o pleito eleitoral do partido, segue junto ao chefe político Tarso Genro. Tem seu nome inscrito na chapa “Construindo o Novo Brasil”, candidato ao Diretório Nacional. Na medida que Tarso subir, Bordignon e seu grupo sobem juntos, sem nenhuma coincidência.

Originalmente publicado no Blog de Ricardo Noblat

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