Confrontando soldados portugueses, tropas leais do Rio de Janeiro e mercenários navais ingleses, a massa cabana defendera a independência do Grão-Pará e o controle da Amazônia por seus moradores integrados ao meio natural. - Foto:
Confrontando soldados portugueses, tropas leais do Rio de Janeiro e mercenários navais ingleses, a massa cabana defendera a independência do Grão-Pará e o controle da Amazônia por seus moradores integrados ao meio natural.
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A Cabanagem foi a revolução popular da Amazônia. Pioneira na sublevação de indígenas, na fusão cultural típica do que hoje é conhecido como a regionalidade paraense, demarcou um Brasi amazônico com identidade e anseios próprios. Infelizmente, como na maior parte das rebeliões e revoluções do período do 1º reinado e regência, a Cabanagem tinha uma direção heterogênea e vacilante. Tanto é, que como um padrão de comportamento político, todas as elites políticas rebeldes vacilaram perante as negociações imperiais. Mesmo com as contradições, a revolta do povo das cabanas na beira dos rios igarapés e igapós marcou um princípio de poder popular constituído, onde as massas indígenas, negras, caboclas e cafusas experimentaram um exercício de poder direto. Eduardo Nogueira Angelim, fez de sua própria trajetória, a marca da Cabanagem em solo amazônico. É mais um herói semi-anônimo, "regional" e pouco estudado na Históri a oficial brasileira.

por fontes abertas da web

"Os monstros da tirania cortaram cabeças e alimentaram-se de sangue! Tiveram forças para matar o corpo, mas… com suas baionetas e torturas não puderam matar a idéia, porque esta é sagrada e tão grande como o mundo! … A idéia não morre".

Eduardo Nogueira Angelim , 14 de agosto de 1881

A chegada de Eduardo Nogueira Angelim no Grão-Pará remonta a década de 1820, fugindo de uma seca que assolou sua região de origem nestes anos. Devido ao seu espírito de luta, foi apelidado de "Angelim", por ser esta madeira muito resistente. Já com 19 anos, participava ativamente da política da Província. No Brasil do século XIX lutou pela autonomia da província do Grão-Pará – atual estado do Pará – para que esta se mantivesse separada do Império do Brasil, cujas estruturas políticas monarquistas e planos de governo nada tinham de vantajosos em relação aos dos portugueses recém afastados, prosseguindo no isolamento e marginalização da Amazônia, aliás visíveis ainda hoje, comparando-se aos grandes centros urbanos do Brasil.

Sempre contou com o apoio de sua senhora, Eloísa Clara que, diz-se, aconselhava-o sempre que Angelim agia. Revolucionário, partidário da Cabanagem sendo inclusive o terceiro presidente cabano. Preso no Acará em 20 de outubro de 1836 em meio ao labirinto aquático da Amazônia, foi conduzido a capital Belém, pelas tropas do marechal Francisco Soares Andréa, e enviado à julgamento no Rio de Janeiro, seguindo para a ilha de Fernando de Noronha, onde foi exilado. Retorna ao Pará em 1851, fixando residência na cidade de Barcarena.

Quando do seu retorno não mais se envolveu em política. Morreu em 20 de julho de 1882, sendo enterrado na capela do Engenho de Madre de Deus, na Ilha de Trambioca em Barcarena, mesmo local onde descansaram os restos do famoso João Batista Gonçalves Campos, um dos autores intelectuais do movimento da Cabanagem.

O Movimento

Na noite de 6 de Janeiro de 1835 os rebeldes atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Sousa Lobo e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da Província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou por muito tempo, pois enquanto Malcher, com o apoio das classes dominantes pretendia manter a província unida ao Império, Francisco Vinagre, Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.

Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante 10 meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a Província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocou seu enfraquecimento. Em março de 1836, o brigadeiro José de Sousa Soares Andréia foi nomeado para presidente da Província. A sua primeira providência foi a de atacar novamente a capital (abril de 1836), em função do que os cabanos resolveram abandonar a capital para resistir no interior.

As forças navais sob o comando de Grenfell bloquearam Belém e, no dia 10 de maio, Angelim deixou a Capital, sendo detido logo em seguida. Entretanto, ao contrário do que Soares Andréia imaginou, a resistência não terminou com a detenção de Angelim. Durante três anos, os cabanos resistiram no interior da província, mas aos poucos, foram sendo derrotados. Ela só cederia com a decretação de anistia aos revoltosos (1839). Em 1840 o último foco rebelde, sob liderança de Gonçalo Jorge de Magalhães, se rendeu.

Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu.

Em homenagem ao movimento Cabano um monumento foi erguido na entrada da cidade de Belém: o Monumento à Cabanagem.

Pesquisa e redação de Camila Reinheimer

Revisão de Bruno Lima Rocha

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