16 de maio de 2011, do Recife, Heitor Scalambrini Costa, Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco
As mudanças climáticas relacionadas com a degradação ambiental será o tema dominante a ser discutido nos próximos anos pela humanidade. Níveis crescentes de emissões de dióxido de carbono e gás metano na atmosfera têm provocado conseqüências desastrosas à raça humana, resultando no aumento da intensidade e da freqüência dos fenômenos como terremotos, furacões, erupções, tornados, inundações, entre outros.
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Boa parte dos atuais problemas é provocada pelas atividades humanas, particularmente devido ao modo de produzir e consumir. O que esta levando o planeta a uma situação tal, que poderá se nada for feito, provocar uma alteração irreversível no clima com conseqüências físicas, econômicas e sociais catastróficas. São as fontes energéticas atuais como o petróleo/derivados, gás natural, carvão mineral responsáveis por mais de 2/3 das emissões de gases de efeito estufa no mundo.
O atual momento de investimentos e crescimento econômico que passa o Estado de Pernambuco deve ser analisado criticamente, pois obedece a uma mentalidade desenvolvimentista, ainda calcada na visão do século passado do “crescimento a qualquer custo”, ignorando a dimensão sócio-ambiental. Temos que posicionar contra clichês alardeados e flagrantemente falsos, que diz respeito ao modo de governar o Estado, de ser o novo, de se proclamar como exemplo para “um novo caminho para um novo Brasil”.
Alem do desmatamento permitido (mangues e o pouco que resta de fragmentos da Mata Atlântica) para a ampliação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, o governo do Estado tem incentivado e justificado empreendimentos de geração de energia elétrica, como a implantação das termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. Em maio de 2010 foi anunciado pelo grupo finlandês Wärtsilä, a construção da usina termelétrica Suape II, com uma potência instalada de 380 MW, em um terreno localizado às margens da rodovia PE-60, funcionando com óleo combustível: uma sujeira só para o meio ambiente. O projeto do tipo “chave na mão” (turnkey) pertence a um grupo formado pela Petrobrás e a Nova Cibe Energia (Grupo Bertin), prevendo o início de operação comercial para 1º de janeiro de 2012.
O óleo combustível, que dentre os combustíveis fósseis é o que mais contribui ao efeito estufa e para as mudanças climáticas, emite para cada 0,96 m3 de óleo consumido 3,34 toneladas de CO2, segundo a Agência Internacional de Energia. Estima-se que a emissão anual desta instalação será de pelo menos 2 milhões de toneladas de CO2.
A construção no município do Cabo da Usina Termoelétrica Suape II, e com previsão de outra Termoelétrica a Suape (III ?) também movida com óleo combustível, são exemplos de empreendimentos que vão na contramão do grande desafio atual que é da substituição dos combustíveis fosseis pelas fontes renováveis de energia.
Em nome de alavancar o desenvolvimento do Estado, com investimentos sendo realizados na região e a criação de novos postos de trabalho e geração de renda, se perpetua um modelo predatório, cujas conseqüências podem ser traduzidas na aceleração da degradação ambiental e no aumento das emissões de gases de efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas; além de pressionar os problemas econômicos e sociais com mais concentração da riqueza gerada.
Apesar do discurso pela busca de sustentabilidade entre empresas e governo ser cada vez mais recorrente, Pernambuco tem aumentado a produção e o consumo de energia suja. Aqui o crescimento econômico não combina com preservação ambiental, pois tem gerado um aumento da poluição, que torna seu desenvolvimento insustentável.
Comentário dos editores
Não surpreende a relação ambígua entre o discurso de “sustentabilidade|” e a geração de energia suja promovida a qualquer custo, vide o caso – no nosso entender criminoso – da Usina de Belo Monte e das hidrelétricas no estado de Rondônia. Este princípio de promover a geração de energia poluente vai ao encontro dos modelos de fusão e joint-ventures onde os recursos do Estado terminam por fortalecer a concentração econômica em pequenas e poderosas empresas, aumentando o perfil de capitalismo de oligopólios, como temos aqui no Brasil. É urgente implantar esta pauta como exigência mínima para as políticas públicas e os licenciamentos no país. Do contrário, na esteira da Copa do Mundo, viveremos o vale tudo empresarial brasileiro em seu modelo mais selvagem, incluindo a geração de energia.