13 de maio de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
O fantasma do Mensalão ronda a cena política brasileira, podendo ressuscitar inclusive o fôlego do tucanato. Desta vez o flanco aberto não vem da política profissional, mas sim de um Procurador da República no Rio Grande do Sul, Manoel Pastana, representando contra Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-Presidente é alvo de uma ação de improbidade administrativa onde supostamente teria favorecido o Banco BMG para operar empréstimos consignados a aposentados e pensionistas do INSS. Ao invés de fazer coro com a oposição que está mais à direita do governo de turno, entendo haver a necessidade de uma reflexão sobre o episódio.
Refletir implica em compreender desse processo qual sua relevância. Se as acusações forem provadas como verdadeiras, o fato em si caracteriza uma relação promíscua entre Estado e empresas, onde se entende que os custos transacionais de negociações significam um comportamento político no mínimo pouco ou nada republicano. Até aí nenhuma novidade para a política brasileira, com a exceção dos protagonistas, então neófitos no Planalto e supostamente portadores de atitude distinta perante a coisa pública. O cinismo de se aceitar as regras do jogo e a aliança com alguns jogadores para mudar aspectos secundários do próprio jogo resulta em pragmatismo político.
O problema do pragmatismo político supera qualquer situação de conflito ideológico. A ação pragmática repete o antigo slogan de “não importa a cor do gato, importa que ele coma os ratos”. Ledo engano. Quando um “gato” se parece tanto ao gato anterior que torna impossível diferenciá-los, é porque o mais antigo conseguiu reproduzir seu padrão de comportamento no novato, impedindo a renovação de quadros e estruturas. Ou então é pior, como demonstra Norberto Bobbio, dá-se a renovação para perpetuação.
Ao incorporar métodos dos adversários, uma agrupação política deixa de ser o que era quando se constituiu para tornar-se igual ou semelhante aos que mais combatiam. Este conceito, o de mimetismo como reforço da permanência de uma cultura política paroquiana, patrimonialista e marcada por relações de clientela, é a tumba de qualquer transformação radical na sociedade brasileira. A tal da governabilidade no modelo de presidencialismo de coalizão cobra seu preço batizando o processo político, recrutando personagens do governo FHC e blindando os cardeais no Congresso, incluindo aqueles que serviram como braços civis de apoio da ditadura. Este é o aprendizado político do episódio do Mensalão.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat