02 de junho de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Tem situações que se apresentam como um cheque-mate conceitual já em seu ponto de partida. A analogia acima se aplica perfeitamente na relação entre o PMDB e o governo de Dilma Rousseff, desde que a aliança fora articulada ainda por Lula, seguindo a recomendação do ex-homem forte de seu primeiro governo, José Dirceu de Oliveira e Silva. Era visível o fato de que a coligação de oligarquias estaduais aglutinada sob a legenda da ex-oposição oficial a ditadura militar iria pôr, em todos os momentos necessários, o Planalto – ou o “seu governo” – contra a parede. Enfim, foi o que ocorreu na semana anterior e vale repetir a ladainha, “não foi por falta de aviso”.
Como uma analista comentou em rede nacional de TV durante a crise de 2005, o PMDB é para profissionais e eles não brincam em serviço. Para tanto, os correligionários de Michel Temer se aproveitam de circunstâncias de tensão, ocasionadas pela votação na Câmara Federal do relatório escrito pelo deputado ex-comunista Aldo Rebelo. Ora, se já é difícil conseguir disciplina partidária entre membros de um mesmo diretório municipal, o que dirá através do pulso firme de um ministro enfraquecido (Palocci), tentando emparedar o vice de um governo composto por uma colcha de retalhos?!
A parábola do título do artigo traz consigo uma crítica rotineira de minha parte ao chamado pragmatismo político. O preço pago pela tal da governabilidade, atendendo ao presidencialismo de coalizão, é a mesma do sapo a transportar o escorpião para cruzar um charco. É da natureza da política a relação de força e o aproveitar-se de situações extremas para pressionar elementos mais fracos do aliado de ocasião. Pois é disso que se trata, ao menos da parte majoritária do PMDB e de boa parte dos petistas arrependidos do de seu passado militante.
Temos de reconhecer a sinceridade de ex-arenistas quando declaram publicamente ou ao forçar alguns vazamentos indiscretos e inconvenientes. Quando se vêem contra a parede, executam suas manobras sem muito cuidado ou preservação das aparências. Os peemedebistas hoje pedem a cabeça de Palocci numa bandeja, e não o criticam por sua conduta como consultor. Trata-se somente da disputa por orçamentos e cargos, a queda de braço é para ver quem coage primeiro a presidenta, se o PMDB, se o próprio ex-prefeito de Ribeirão Preto ou Luiz Inácio, convocando-se, mais uma vez, como salvador da pátria. Lição política. Ninguém mexe com a turma de Temer e Sarney impunemente, custe o que custar, incluindo o “seu governo”.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat