Anderson Santos (editor), Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha
O maior clássico do país!
Em rodada do Campeonato Brasileiro repleta de clássicos, finalmente vimos o maior deles aparecendo nos estádios brasileiros: Ricardo Teixeira e cia. versus o torcedor brasileiro. Já era hora!
Dérbi, Gre-Nal, San-São, Vovô, dos Milhões… A última rodada do primeiro turno (27 e 28 de agosto) do Brasileirão deste ano foi repleta de clássicos estaduais, oito, mais um Ceará X Bahia para marcar o espaço da região Nordeste.
Mas, para muitos torcedores e pitaqueiros do esporte bretão, a grande disputa não se daria entre as torcidas de Corinthians X Palmeiras – com polícia usando projéteis à vera no lugar das balas de borracha –, ou entre Vasco X Flamengo – desejando recuperação do treinador Ricardo Gomes –, ou um Grêmio X Internacional. O grande confronto ocorreria em todos ao mesmo tempo, como em tempos de Copa do Mundo, “torcidas reunidas num só coração”.
E qual é a principal função do coração? Bombear sangue. E qual deveria sempre ser uma das principais funções das torcidas organizadas dos clubes brasileiros? Protestar contra tudo e contra todos que fizessem desse jogo que tanto amamos um simples instrumento de captação de dinheiro, independentemente dos meios para se fazer (Obs: ainda estamos devendo um longo estudo a respeito da estruturação interna das chamadas organizadas, ou uniformizadas, ou mesmo a cópia das barras bravas, fenômeno este rio-grandense. A primeira pergunta poderia ser: onde está a democracia interna?).
Após a formação e os protestos oriundos da Frente Nacional dos Torcedores, com direito à posição de destaque dentre os tópicos mais comentados na rede social Twitter, foi a vez das torcidas organizadas. Estas, geralmente tão criticadas, tiveram seu momento de glória.
A Confederação Nacional das Torcidas Organizadas (Conatorg) fez o chamado e algumas das principais torcidas do país protestaram contra Ricardo Teixeira em jogos bastante importantes. A decisão foi tomada em Seminário sobre o Estatuto do Torcedor, que juntou 27 delas em junho passado, em Brasília.
FEDERAÇÃO “AMIGA” TENTOU IMPEDIR EM SANTA CATARINA…
Assim que soube que a torcida Gaviões Alvinegros, do Figueirense, convocava seus associados a protestarem contra o presidente do CBF no clássico contra o Avaí, a Federação Catarinense de Futebol, através de nota oficial na quinta-feira, anunciou o seu “repúdio” a manifestações contra o presidente da CBF, ameaçando quem o fizesse com a retirada do Orlando Scarpelli.
Para a FCF, tais protestos feriam o artigo 13 A, inciso VI, do Estatuto do Torcedor, que não permite portar símbolos ou objetos com “mensagens ofensivas – seria este o caso -, inclusive de caráter racista ou xenofóbico”. Quaisquer atos contra a “parceira e amiga” CBF ou o seu presidente seriam tomados como infração a este artigo. Muito bom saber que quando se precisa para fins próprios o Estatuto é (mal) lido pelos dirigentes brasileiros…Nota-se que não se trata de novidade quanto a desmandos e atitudes de tipo coronelísticas na outrora República Juliana. Para quem pensa ser um exagero da crítica, sugerimos ler o blog Tijoladas do Mosquito (tijoladas2.blogspot.com)….e o pior é que é tudo a mais verdadeira das verdades…mas, de volta aos problemas do mundo da bola.
O Ministério Público Federal logo reagiu com um pedido de ação pública enquanto medida cautelar que proibisse que torcedores fossem expulsos dos estádios. O procurador Mário Sérgio Ghannagé Barbosa chegou a dizer que tal fato era tragicômico, pois esta “determinação abusiva ressuscita a ditadura no estado de Santa Catarina”. O artigo do Estatuto do Torcedor nada fala sobre protestos contra entidades.
Torcedores do Figueirense levaram duas faixas, a mais criativa delas dizia: “Globo, CBF, FCF: Tudo a ver”, um velho bordão da Vênus Platinada, que se nada falou sobre a proposta dos protestos, menos ainda falaria depois deles. Não é exagero, para a emissora líder, não se trata de um bem cultural, de um patrimônio imaterial do povo brasileiro, mas sim, como bem falou o herói da sinceridade, o presidente mosqueteiro Andrés Navarro Sánchez, “apesar de serem o que são, sou amigo deles….)
EM RIO E SÃO PAULO TENTOU-SE FAZER ACORDOS
No Rio de Janeiro, as torcidas organizadas se uniram, mas contra protestos de seus afiliados perante o presidente da CBF, sendo o único Estado de clássicos sem manifestação das organizadas contra ele. O máximo que houve foi no clássico entre Flamengo e Vasco, quando membros da Associação Nacional dos Torcedores, cerca de quinze torcedores, entregaram panfletos com o dizer “FORA RICARDO TEIXEIRA”. Ilação: será que as “organizadas” cruzmaltinas e rubro-negras têm, entre todas, vínculos em demasia com a cartolagem de seus próprios clubes de modo a não poder – ou mesmo quererem se manifestar?
Em São Paulo, o “amigo dos gângster” Andrés Sánchez até teve reunião com a Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, clamando para que eles não protestassem. Ainda assim, no clássico contra o Palmeiras em Presidente Prudente, a Estopim da Fiel e a própria Gaviões levaram faixas contra o amigo do presidente do clube – e deveriam ter levado em contra seu próprio comandante em chefe, mais que cotado para substituir a Ricardo Teixeira, e antes ao posto de Euricão da Fiel, como o dirigente de maior influência no país.
POLICIAIS TENTARAM IMPEDIR DUPLA GRE-NAL E SÃO-PAULINOS
A Brigada Militar gaúcha havia anunciado que vetaria qualquer manifestação contra Teixeira, mas, provavelmente por conta do pedido do MPF na vizinha Santa Catarina, desistiu. Torcedores do Internacional levaram faixas que formavam unidas o “FORA RICARDO TEIXEIRA”. Não nos espanta saber que o Corpo Auxiliar de Polícia Imperial siga em suas mesmas perspectivas de interpretação, mesmo agora sob comando de um governador de centro-esquerda, aliado de todos e mais alguns, em nome da tal da governabilidade (enquanto isso, a Agenda 2020 continua…..)
Já na Vila Belmiro, onde jogaram Santos e São Paulo, o problema veio da Polícia Militar – àquela mesma que usa o nome de um Bandeirante como denominação de seu regimento tático especial, a ROTA. Os policiais não queriam permitir a entrada dos torcedores tricolores com pequenas faixas de plástico em que se tinha a inscrição “FORA RICARDO TEIXEIRA” por serem “inflamáveis”.
Como provam as imagens das arquibancadas, a torcida conseguiu entrar com as faixas. Segundo matéria veiculada no programa Domingo Espetacular – de uma Record cada vez mais arqui-inimiga dos amigos de Globo/Ricardo Teixeira – deste domingo, alguns torcedores chegaram ao ponto de esconder as faixas nos tênis para conseguirem entrar. Ou seja, quando eles querem, fazem bonito e desafiam as autoridades constituídas não por fins de macheza (coletiva, diga-se de passagem) ou qualquer outra babaquice pedante e desmiolada, mas sim para pelear por democracia e transparência nas estruturas de poder da maior paixão dos brasileiros.
PEDIDO E MOSAICO
No clássico do Nordeste em Fortaleza, foi a vez da torcida organizada do Ceará não só torcer para o time, como deixar sua mensagem: “Copa c/ prestação de contas e s/ Ricardo Teixeira…”.
Para finalizar a lista de torcidas, a do Palmeiras, que já usou o mosaico, tão comum às torcidas organizadas cariocas, até para zoar os corintianos após mais uma eliminação na Libertadores, criou a manifestação de maior destaque dentre os jogos do final de semana. Com balões de ar, formou-se a bandeira do Brasil, porém, em vez do “Ordem e Progresso” lia-se “FORA RICARDO TEIXEIRA”.
Os ventos mudam de lugar e direção. E pensar que as mesmas organizadas de São Paulo levaram faixas de apoio a PM Bandeirante logo após o Massacre do Carandiru, “proeza” esta comandada por oficiais dos Batalhões de Choque, dando exemplo e matando a valer os “zés” do Pavilhão 9. Será que a partir de agora não tem mais richa idiota e nem manipulação de cartolas e corneteiros vocacionais
E O FUTURO
Como diria o ex-presidente que se reuniu com Ricardo Teixeira num almoço na semana passada, numa clara mostra da tentativa de aproximação do último com o governo de turno, “nunca na história desse país” um dirigente do futebol nacional, em especial o dito cujo, sofrera tamanha pressão, com a união de algumas das principais organizadas do país com protestos convincentes.
Já se especula nomes para assumirem a CBF após a Copa do Mundo, já que não há esperança que RT saia antes disso. Dentre eles, há a opção de Romário, que vem surpreendendo a muitos de nós como deputado federal (pelo PSB fluminense), em sua peregrinação para descobrir certas coisas sobre a entidade e fiscalizar as obras da Copa. O mesmo já negou de forma veemente que venha a se candidatar a tal cargo.
A segunda opção é o já citado, e ultra-sincero, Andrés Sánchez. O presidente do Corinthians deixa o cargo no clube no final deste ano e é o principal dirigente de times aliado a RT, sendo um dos principais responsáveis pelo racha no Clube dos 13 quanto à negociação dos direitos de transmissão das próximas três edições do Campeonato Brasileiro.
Vale lembrar que antes disso Sánchez apoiou Kleber Leite (aliás, senhores editores de radio “jornalismo” esportivo, cuidado com a ambição de certos setoristas, cuidado na hora de verem como que por milagre as placas de publicidade inflacionarem….), que era a indicação da entidade na eleição contra Fábio Koff. Em troca, foi o chefe da delegação brasileira na Copa do ano passado – deu no que deu colocar dirigente de clube em ano de centenário para tal atividade… – e foi o principal vencedor da picuinha que fará o nosso maior estádio particular ficar de fora do Mundial a ser realizado no Brasil. Se o sonho da Libertadores sempre se transforma em pesadelo, o novo estádio corintiano se transformará em (caríssima) realidade…construído em plena área de proteção ambiental….
Quem correria por fora é Joana Havelange, neta de João – que publicizou e transformou o marketing esportivo nos seus 24 anos à frente da Fifa – e filha de Ricardo, com seus quase 25 garantidos na CBF. A principal dirigente do Comitê de Organização Local da Copa de 2014 é apontada como uma alternativa para manter o “gene” da família mandando no futebol brasileiro.
Ainda não chegamos ao tempo de pensar em alternativas. Que a panela de pressão estoure – e logo, e seja realizada uma devassa na CBF e federações estaduais – mas que não sejam os torcedores a limpar o “montão” de sujeira.
EPÍLOGO
Prá não dizer que não temos seção nostalgia; no Rio, na Federação de Futebol protagonizada outrora por Otávio Pinto “Pantera cor de Rosa” Guimarães, Eduardo Caixa d’Água Viana (com um N só), dentre outros, estoura novo escândalo de acerto de resultados, dificultando a vida de alguns e facilitando a de outros. Na era do Real e da digitalização, voltam a surgir informações de bastidores a exemplo das papeletas amarelas de 1986….História que se repete como farsa para os crentes de versões oficiais.