1º de setembro de 2011, Bruno Lima Rocha
A deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) foi absolvida por seus colegas da acusação de quebra de decoro parlamentar. Nesta terça-feira, a filha do outrora todo poderoso chefe político do Distrito Federal fora perdoada por seus pares. Nunca é demais lembrar que a brasiliense fora filmada embolsando dinheiro vivo das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais de seu pai e de José Roberto Arruda, Durval Barbosa; e a quantia fora por ela assumida como recurso de campanha para deputada distrital (2006), quando então concorrera pelo PSDB. Tais imagens circularam em rede nacional e têm ligação com a Operação Caixa de Pandora, inicialmente apurando o episódio do Mensalão do DEM. Ou seja, não se trata de ilação criativa. É um flagrante, e foi perdoado.
O instrumento da votação secreta fora mais uma vez empregado para condecorar uma cumplicidade inconfessável. Esta também reflete os custos da tal da governabilidade. Nos três últimos governos, o Planalto exercera sua capacidade de construção de bloco de apoios negociando esta coalizão através de mecanismos vergonhosamente reconhecidos por toda a nação.
Não quero cair em dilema moralista, mas é impossível fugir do debate da ética. Certa feita, ao desenvolver este raciocínio em entrevista para uma rádio da capital paulista, quase me compliquei judicialmente. A âncora me perguntara se eu entendia como a missão principal da Mesa Diretora do Senado, assegurar transparência e defender a ética. Disse não, que era justamente o oposto. Ora, se a composição do grupo político do udenista José Sarney existisse para assegurar alguma transparência na coisa pública, já o teria feito quando ainda pertencia a ala bossa nova da agremiação golpista de Carlos Lacerda. Sua meta é ampliar o raio de poder, comportando-se conforme a ética prevalente entre os pares, que por sinal o elegem.
A história se repete. Jaqueline Roriz fora absolvida também porque seus pares vêem nela um espelho da própria conduta. O instrumento do voto secreto poupa declarações inócuas e custos políticos extras. No país onde a democracia depende de um Poder Legislativo cuja maioria de sustentação é negociada através de prebendas, espelha uma cultura política já muitas vezes aqui por mim “polidamente” retratada como paroquiana, fisiológica, patrimonialista, de clientela e atravessada por nepotismo e corrupção.
Os 265 votos contrários a cassação de Jaqueline Roriz, proclamam em silêncio cúmplice, um manifesto a favor dessa odiosa forma de fazer política.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat