30 de dezembro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Dessa vez é para valer. O Brasil foi considerado a sexta economia do mundo, atrás apenas de EUA, China, Japão, França e Alemanha.
A julgar pelo fato de que as duas últimas potências são o esteio da combalida zona euro; do Japão permanecer estagnado desde meados da década de e os Estados Unidos serem hoje o mais desigual e menos produtivo dos países desenvolvidos, temos esperanças de crescimento e projeção ainda maiores.
A partir deste fato inegável, cabe uma reflexão crítica, para além da crítica por direita ou do ufanismo oficial.
Se somos hoje a sexta economia do mundo em termos de volume de produção e riqueza circulante, estamos longe de ser o sexto país menos desigual e injusto do planeta. Nossa pirâmide social, ainda que com sensível diminuição da miséria absoluta, concentra renda e não distribui os benefícios da modernidade urbana. O problema é de fundo e implica uma opção não apresentada no cenário político profissional.
O crescimento brasileiro se dá em cima da exportação de comodities agrícolas em larga escala, do aumento do crédito para o consumo e da injeção de recursos estatais na economia.
Tudo iria relativamente bem (a exceção do modelo agro-exportador), caso não tivéssemos sob uma guilhotina chamada forma de financiamento.
O Brasil cresce através da rolagem de sua dívida, aumentando consideravelmente o papel do capital financeiro e comprometendo quase metade do orçamento executado pela União no ano de 2010.
Por um lado é verdade que a gestão do Banco Central no país é menos desreguladora do que na Europa e nos países anglo-saxões (e aumentara o controle sob a batuta de Alexandre Tombini), por outro é fato que ainda praticamos os juros reais mais elevados do mundo e que surfando na onda de nosso crescimento está o setor bancário, onde os bancos estatais praticam juros e taxas de administração na mesma escala dos comerciais.
A ciranda financeira alimenta o setor de crédito ao consumo e na ponta de cima da pirâmide, o Estado segue financiando a expansão privada, seja através de empréstimos a fundo perdido (como na fusão da Brasil Telecom com a OI), ou mesmo pela injeção direta nos consórcios público-privados (a exemplo da Usina de Belo Monte).
Somando esta injustiça estrutural com a carência do serviço público – estando a população brasileira sobretaxada e ainda não atendida de forma satisfatória – e temos o real “custo Brasil”.
Sobra para a maioria dos brasileiros pagar a conta da acumulação privada (oficializada) de recursos coletivos.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.