02 de fevereiro de 2012, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Dilma Rousseff e Raúl Castro foram guerrilheiros no período da bipolaridade. O atual presidente de Cuba é de uma geração anterior, pioneira e heróica para a época, inspirando a presidente do Brasil e seus correligionários. A revolução cubana marcou a mudança de um período, estraçalhou com os Acordos de Yalta e a política de detenção e fronteiras ideológicas estabelecidas pelas duas superpotências, EUA e URSS. Hoje Cuba permanece com o regime de partido único e estrutura de Estado com dominação burocrática, economia planificada (ou tentando ser) e política de direitos sociais e distributivos. A ilha é uma fonte permanente de polêmicas e não vou refugar destas.
A ex-militante da luta armada que não cantou ninguém quando presa nas masmorras de Sérgio Fleury viu-se diante de um problema. Numa ação midiática muito bem executada, a conhecida blogueira Yoani Sánchez chama a atenção do Itamaraty tentando pôr a chancelaria cubana e brasileira em saia justa. Não funcionou, pois Dilma esquiva-se do ponto da polêmica, relativizando o fato de que os direitos humanos são afrontados em todos os países (a começar pela imundície do sistema carcerário brasileiro), assim como o atentado contra a soberania, tais são as aberrações jurídicas da prisão e base estadunidense em Guantánamo e a presença inglesa nas Malvinas.
O problema desta relativização é mais uma vez evadir da polêmica real. Cuba é um regime fechado e se aproxima a cada dia da fórmula chinesa, onde há liberdade de mercado e ditadura política. Na ilha de Camilo Cienfuegos, há dissidentes e estes não são necessariamente mafiosos gusanos residindo na Florida (e apoiando a extrema-direita republicana). Digo mais, a parte majoritária da oposição cubana não é pró-EUA, não é liberal e uma parcela considerável está dentro do Partido Comunista de Cuba, na chamada linha crítica e no setor católico. Outra parte considerável (e esta sim perseguida) prega a democracia participativa e pode ser vista através da publicação Red Protagónica Observatorio Crítico. Uma preocupação constante deste último setor é desmarcar-se das viúvas de Fulgencio Batista e desassociar a liberdade política com a selvageria de “livre” mercado.
Não há novidade neste texto e sim a denúncia de ocultação. Infelizmente as informações aqui presentes, embora tenham circulação no pensamento latino-americano, simplesmente desaparecem da cobertura internacional da mídia brasileira. A quem interessa associar a oposição cubana somente aos gusanos de Miami?
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat