28 de março de 2012, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Na data de publicação deste artigo completa-se 44 anos do assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto. O extermínio “acidental” representou o momento em que a repressão política forçava a tensão interna da ditadura, passando para outro nível de violência contra as parcelas organizadas dos brasileiros.
Não sou a favor de ficar produzindo textos memorialísticos, mas, infelizmente, o caso da morte de um migrante paraense, nos corredores do extinto restaurante Calabouço (Centro do Rio), ultrapassa o martírio de 1968 e opera como baliza para movimentos estudantis pós-ditadura.
Particularmente me lembro da segunda metade da década de ’80, quando a Associação Municipal de Estudantes Secundaristas (AMES) promovia a Semana Edson Luís, reforçando a identidade dos jovens de então com o exemplo de “secundas” dos anos ’60.
À época, desenvolvia-se o discurso de que aquela morte se repetiria nos porões do regime. Essa mística retroalimentava a orgânica da entidade e sua postura não governista.
Passados quase um quarto de século da Marcha dos 10.000 de 1988 no Rio, vemos um desastre político-ideológico se consumando. Infelizmente, uma parcela daqueles ativistas hoje é gestor de governo, detentor de mandato e ajuda no pacto da tal da governabilidade a qualquer custo e com aliança ampla, geral e irrestrita.
Semanalmente a direita que não está no governo repete que a luta contra a corrupção e a moralidade pública deveria ser encabeçada pelos estudantes, sindicatos e movimentos sociais.
Também afirma que os setores organizados não o fazem porque se transformaram em grupos de interesse material na base do toma lá dá cá em relação ao governo de centro-esquerda.
Dessa vez a oligarquia na oposição está correta, embora se equivoque no remédio que gostaria ver empregado. Caso houvesse pré-disposição para a luta contra a cultura política hegemônica no Brasil (fisiológica, corrupta, patrimonial, de clientela e plutocrata), os canhões estariam apontados para dentro e fora do Palácio do Planalto.
A mística agregadora dos mártires involuntários e as bandeiras utópicas organizam o pensamento e o imaginário de quem está organizado. O resultado disso é antagonismo e pressão, muita pressão, de baixo para cima.
Mas, como disse uma velha raposa gaúcha cujo partido apoia o governo, hoje as centrais querem assento nos conselhos do FAT e FGTS e a entidade estudantil quer uma sede nova.
Sai barato ter apoio político-social no país do Golpe de 1º abril. Agora, matam Edson Luís por abandono.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.