Mais do que uma ação de governo, a estatização da YPF representa a soberania do povo argentino sobre o capital estrangeiro. - Foto:Terra
Mais do que uma ação de governo, a estatização da YPF representa a soberania do povo argentino sobre o capital estrangeiro.
Foto:Terra

20 de abril de 2012, Bruno Lima Rocha

A (re)-nacionalização da empresa Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) foi uma ação correta. O equivalente a Petrobrás argentina, privatizada a preços ínfimos e cuja compra fora com moeda podre foi retomada através do controle acionário por parte do Poder Executivo.

E, ao contrário do que por aqui foi veiculado sobre a espanhola Repsol, “dona” da YPF S.A., esta petrolífera não é necessariamente uma investidora.

Pouco ou nada foi realizado após sua aquisição no meio da farra de pizza com champanhe (em 1993), característica dos governos de Carlos Saul Menem. Aliás, foi o não cumprimento de metas contratuais o que oportunizara a presidente Cristina Kirchner executar uma vontade política das maiorias eleitorais da Argentina.

Só é possível compreender a dimensão das medidas de Cristina se houver algum conhecimento a respeito do significado para a sociedade argentina, tanto da Era Menem em geral, como da YPF em particular.

A petrolífera dos hermanos teve sua primeira versão no governo Hipólito Yrigoyen, no ano de 1922. Entre 1928 e 1930 a YPF se concretiza como empresa de petróleo, mas ainda sem o monopólio, e enfrentando a pressão da Standard Oil e da Shell.

A ação das transnacionais dera resultado, sendo fator determinante para o golpe de Estado de 1930. Como de hábito, um dos idealizadores do empreendimento nacional, a exemplo de Enrique Mosconi, renuncia ao seu cargo à frente da YPF e morre no ostracismo em 1940.

É somente em 1949 que o monopólio é assegurado, já no primeiro governo peronista. Isto dura até o auge da Era Menem, quando o Partido Justicialista (PJ) abandona as posições históricas.

Não é mensurável para nós os desmandos e a corrupção dos oito anos de Menem (1989-1998), o fracasso da Aliança (com De la Rúa) e os quase dois anos de governo tampão de Duhalde (2002-2003).

Se comparados com a Argentina, o livro de Amaury Ribeiro (Privataria Tucana, Geração Editorial, 2011) é um conto de fadas. Assim, retomar o controle nacional, respeitando as vontades manifestas pela maioria dos argentinos, é o mínimo que se espera de um governo eleito. Senão, seria apenas a cópia dos gerentes anteriores.

Para além das acusações de populismo e de ocultar uma “crise”, qualquer pessoa que conheceu a Argentina das décadas anteriores, sabe que hoje há tudo, menos crise!

É preciso entender que os argentinos foram saqueados nos anos ’90, derrotaram um projeto neoliberal através de uma rebelião popular (dezembro de 2001) e exigem medidas de retomada do patrimônio.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

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