04 de julho, coletivo NIEG
Em 2005, o Citigroup enviou três memorandos para seus investidores mais ricos. Nesses documentos constava a tese de que os EUA não eram mais uma democracia, e sim uma plutonomia, uma sociedade controlada exclusivamente por e pelo benefício do 1% que detém a renda mais alta da população, possuindo agora mais riqueza que os 95% restantes somados. O memorando exaltava a crescente diferença entre ricos e pobres, que agora favorecia os investidores como a nova aristocracia estadunidense.
Essencialmente, podemos dizer que essa plutonomia nasce quando há fatores como: ganhos extraordinários de produtividade, desregulamentação das atividades financeiras, desenvolvimento tecnológico a favor da financeirização e a legitimação das atividades através das empresas de mídia especializada.
A concentração nas mãos de 1% da população está relacionada não apenas à movimentação de capital a favor dos bancos, mas também aos próprios agentes que movimentam diariamente fortunas. Um corretor hipotecário, por exemplo, pode comprar facilmente um “empréstimo mentiroso”, recebendo por isso uma bonificação do banco detentor, porém futuramente não se responsabilizará sobre essa hipoteca. É estabelecido então o que chamamos de risco moral – o agente pode ser incentivado a apostar inapropriadamente sem ter responsabilidade sobre os efeitos negativos.
Os maiores bancos de investimentos – Goldman Sachs, J. P. Morgan, Merrill Lynch, Lehman Brothers e Bear Stearns – pagaram US$ 25 bilhões em 2005, US$ 36 bilhões em 2006 e US$ 38 bilhões em 2007, através de bonificação a seus funcionários, a relação entre bonificação e o salário base alcançou em 2006, 60% da remuneração total dos cinco maiores bancos de investimentos.
O Federal Reserve é o instrumento principal do governo para o controle da economia, em 1987 foi nomeado para o cargo de presidente ninguém menos que Alan Greenspan, o homem por qual tinha fascínio pelo poder do livre mercado. Após 4 meses de sua nomeação o mercado de ações entrou em colapso, caindo por terra a tese dos que defendiam a não intervenção do governo na economia.
A anulação da Lei Glass-Steagal, de 1933, deu início a um processo de desregulamentação com favorecimento de bancos comerciais, esses agora poderiam apostar com dinheiro de correntistas. O catalizador da revogação da Lei Glass-Steagall foi a proposta de fusão entre o Citicorp e o Travellers Group, um acordo de US$ 70 bilhões formando o Citigroup, o maior banco do mundo.
O mercado financeiro corre contra as imperfeições nas transferências de informação, pois é o principal meio por onde circulam dados. Para estabelecer esse equilíbrio, bancos utilizam as mais avançadas tecnologias para compensação, como o Sistema Swift. A principal função dessas TIs é diminuir os custos ligados à circulação de valores e o aumentar da produtividade, deslocando o lucro para a remuneração da força de trabalho dos agentes (bônus).
Os procedimentos de troca de informação se tornam essenciais para o entendimento da economia mundial, a preocupação aparece quando a utilização dessas redes é para especulação financeira. Essa evolução tecnológica internacionalizou a economia, reduziu as distâncias geográficas e inseriu novas formas de trabalho, baseadas na transferência de informação, porém esse avanço não contribuiu para a distribuição igual da renda.
Como legitimadores do capital financeiro, lideres de oligopólios midiáticos atuam conjuntamente com as políticas econômicas neoliberais. Organizações privadas que possuem status de liderança no mercado midiático, acabam por potencializar o pensamento neoclássico através de suas coberturas oficiosas sobre a economia nos EUA e zona do euro.
Mesmo sem força de decisão nas atividades econômicas, esses grupos reforçam e influenciam as decisões na esfera pública (desinformação estrutural), inserem os interesses do mercado financeiro em formato de terrorismo social.
Assim terminamos por concluir que a utilização do termo “plutonomia” pelo banco Citigroup é a articulação entre bancos de investimentos, desregulamentação das leis, tecnologia a favor da financeirização e cobertura midiática. Esses setores traduzem um ambiente onde não há racionalidade nas decisões que movimentam a economia mundial.
*Texto originalmente publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).