05 de julho, Anderson Santos (editor) & Bruno Lima Rocha
Já tratamos dele em meio a muitas polêmicas, mas sempre com sua sinceridade rotineira. O Corinthians ergue o troféu mais aguardado da sua história de 102 anos e não poderíamos esquecer de dizer que Andrés Navarro Sánchez tem muito a ver com isso. Se Tite montou um time taticamente muito bom, a ponto de ganhar a Copa Santander (!!!) Libertadores de forma invicta, foi por ter sido garantido na tragédia do ano passado, contra o Tolima.
O triunvirato formado por Andrés, Luiz Paulo Rosemberg (ex-diretor de marketing e atual vice de futebol) e Mário Gobbi (atual presidente) modificou o marketing futebolístico do país e acrescentou, e muito, à história do Sport Clube Corinthians Paulista.
Primeira parada, Porto Alegre
Em meio ao Campeonato Brasileiro de 2007, Alberto Dualib foi deposto (e esta é a palavra) do cargo de presidente do Corinthians, após todas as confusões de sua gestão, marcada por títulos importantes e pelo imbróglio, que ainda deve correr na justiça, com a MSI – causa esta até hoje não fechada…
Ex-aliado da maldição de Dualib, Sánchez assumiu o clube numa situação complicada, muito próximo do rebaixamento, que acabou se confirmando no dia 02 de dezembro de 2007. Mal sabiam os corintianos que a queda seria proporcional à alegria, no primeiro ano após a gestão deste ser humano sempre “super-sincero”, como gostamos de dizer nesta coluna.
Num Brasileiro da Série B impecável, o Corinthians foi campeão incontestável, voltando para o lugar que sua apaixonada torcida merece, entre os melhores do país. No mesmo ano, ainda houve a frustração da perda do título da Copa do Brasil para o Sport, mas aquele time comandado por Mano Menezes, com o eixo no meio-campo formado por Christian, Elias e Douglas, principalmente a dupla de volantes, daria a base para os times dos anos seguintes.
Uma parada fenomenal
No dia 12 de dezembro de 2008, Ronaldo Fenômeno anuncia a parceria, afinal foi mais que uma contratação, com o Corinthians. As dúvidas sobre o atacante, ainda maior artilheiro da história das Copas, explodiram. Seria mais uma jogada de marketing ou a maior contratação da história do clube? Os dois.
Ronaldo jogou muita bola, mesmo acima do peso, e deu ao Corinthians, junto com os seus companheiros, os títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista de 2009. Fora de campo, o Timão recebia projeção mundial e via no seu “uniforme” (um outdoor ambulante) a ajuda empresarial do Fenômeno, com o maior valor de patrocínio do Brasil.
2009 foi o ano que o Corinthians mostrou que estava entre os grandes do Brasil, mas o olho mesmo se situava além do horizonte.
No ano seguinte, ainda com Mano Menezes como técnico, o time foi eliminado nas oitavas de final para o Flamengo, numa partida em que abriu dois a zero, num primeiro tempo muito bom, mas cedendo o gol da eliminação numa das poucas jogadas do rival na segunda etapa. Roberto Carlos foi a grande contratação do ano.
Mano Menezes foi treinar a Seleção pós-Dunga e Copa do Mundo FIFA, e o Corinthians tinha dificuldades em encontrar um treinador que se encaixasse. A disputa pelo título no Brasileiro, que foi até a última rodada, acabou rendendo apenas uma vaga na Pré-Libertadores, graças a um empate no derradeiro jogo. O que pesou.
A parada mais difícil, Ibagué e o “Toliminado”
Mesmo após o empate em casa, ninguém imaginaria, nem os torcedores adversários, o que ocorreria no dia 02 de fevereiro de 2011. Ronaldo bem que tentou, mas o Corinthians tornou-se o primeiro time brasileiro a ser eliminado na fase preliminar da Copa Libertadores, ainda mais para o Tolima.
Tite, que assumira o time ainda em outubro de 2010, balançou no cargo. Além da Libertadores “ser obrigação” por conta da chacota dos rivais, perder do jeito que foi doeu aos corintianos. Ronaldo resolveu se aposentar, enquanto que Roberto Carlos “fugiu” à Rússia – largou da massa da Fiel para ser alvo de racismo nos confins das terras de cossacos.
Mesmo sob forte pressão de alguns diretores e conselheiros, Andrés resolveu manter Adenor Leonardo Bacchi no comando técnico da equipe. Segundo o ex-presidente corintiano, havia chegado a hora de os dirigentes brasileiros aprenderem a não acabarem com uma programação por conta de um resultado ruim. E como ele estava certo!
Com tempo para treinar para o Brasileiro, após a eliminação também no Paulista, o Corinthians começou “voando”, abrindo boa distância para os rivais, gordura que serviu no final do torneio, em meio à disputa ponto a ponto contra o Vasco. Por dois de vantagem, Tite e o Corinthians, ainda com Adriano, foram campeões brasileiros.
A dupla de destaque já estava definida. Após algumas formações, inclusive com Jucilei, Ralf e Paulinho tomaram conta do meio-campo e passaram a constituir a melhor dupla de volantes do Brasil.
Última parada: o grito que faltava!
04, para 05, de julho de 2012. Esta data ficará marcada na “alma” do corintiano. Por mais que Mário Gobbi sempre que pôde tenha desdenhado da Copa Santander Libertadores (eita como esse nome dói, os Libertadores da América com apelido de um banco ligado ao Estado Espanhol) – com algumas colocações boas, caso da premiação de valor baixíssimo paga pela Conmebol –, todo o torcedor de futebol, corintiano ou não, sabia da importância desse título para o time de Parque São Jorge.
Se em 2011 o Corinthians foi um fiasco, 2012 foi marcado por um campeonato praticamente sem falhas. Um torneio ganho de forma invicta, algo que não ocorria desde 1978!
O time, a grande força deste Corinthians, foi se firmando ao longo da competição. Adriano (peso morto) foi mandado embora após várias chances dadas, Chicão voltou a ser titular após um 2010 de brigas e discussões com Tite e o time se encaixou voltado à marcação – o que rendeu a reclamação de um “futebol feio” (feio é não ganhar jogo) – e que no final da Libertadores "seguiu" o Barcelona e jogou sem centroavante.
Nas oitavas de final, o único momento em que a pressão parece ter pesado. O confronto de ida contra o Emelec, que eliminou de forma “sensacional” o Flamengo, foi marcado por um time nervoso, que vivia reclamando da arbitragem. Na volta, um passeio, 3 a 0 e vaga garantida.
Nas quartas de final, o “grande confronto”. Após um Brasileiro disputado palmo a palmo, Corinthians e Vasco fizeram dois jogos emocionantes, definidos no “detalhe”, como gostam os “especialistas”. Na ida, 1 a 1 com campo encharcado.
Na volta, Cássio assumiu o gol corintiano após as falhas de Júlio César, que causaram a eliminação no Paulista, e também assumiu a “bronca”. Numa imagem repetida milhares de vezes, Diego Souza partiu sozinho num contra-ataque e parou na ponta dos dedos do ex-goleiro do Grêmio. Aos 43 do segundo tempo, Paulinho acerta a cabeçada e marca o gol da vitória.
Num momento espetacular, Tite comemora em meio à torcida, já que tinha sido expulso, e Paulinho abraçou um torcedor no alambrado. Muitos, inclusive estes articulistas, começavam a cravar, ainda que a contragosto, o Corinthians como campeão da Libertadores. Foi inevitável reconhecer que o coringão ia subir de nível, pois a conquista internacional aé então era o Torneio Eurico Miranda (aquele de 2000 em cima do Vascão do deputado federal pela UDN fluminense).
A seguir, o campeão do ano anterior. Teoricamente, o Santos tinha o estilo de jogo oposto ao corintiano, mesmo passando na “raça” pelos argentinos do Vélez Sarsfield. Neymar foi parado e Ganso, mais uma vez, nem precisou que alguém fizesse isso. 1 a 0 com golaço de Emerson, que seria expulso depois; e 1 a 1, com empate logo no início do segundo tempo, de forma a ninguém se desestabilizar.
Na final, “só” o Boca Juniors, time velho, ruim, mas que chegou com o peso da camisa e de um craque que deu um pouco dos seus melhores momentos: Juan Román Riquelme. Este Boca não se compara com o do início dos anos 2000 e com aquele de 2007 e o vareio que deram em cima da alucinação coletiva que tomara conta de Porto Alegre antes do jogo da volta da final… No final, nem as rezas de Odone e cia adiantaram. Agora, no Pacaembu, foi diferente.
No primeiro jogo, outra “dica” de que a tal “sorte de campeão” estava do lado – só que com muita competência, como diria Tite. Gol do Boca após tremendo bate e rebate. Romarinho, que não é filho do Romário, entra, recebe passe de Emerson, dá um toque na bola e empata o jogo. No final, o Boca mete uma bola na trave e Cvitanich perde sozinho o rebote, de frente ao gol.
Nesta quarta-feira, os corintianos estavam ansiosos. “O Boca é perigoso”, “o Riquelme joga muito em momento decisivo”, “argentino é catimbeiro”. Nada disso importava. A torcida do Corinthians estava ali para a partida da vida! E ela foi!
EMERSON, O Sheik corintiano
Após um primeiro tempo pegado, logo na primeira metade do segundo, falta de Riquelme na defesa. Justo ele, que pouco marca num time com três volantes. Tite discute com o craque argentino e diz que ele “fala muito” – é Felipão, não é só com você…
Falta batida, a bola vai e volta por cima, até chegar em Danilo, de costas para o gol. Até então “invisível” na partida, ele toca de calcanhar para Emerson ajeitar e colocar no fundo do gol. Vibração de todo o time do Corinthians, de toda a torcida no Pacaembu e em qualquer canto do mundo. A felicidade de 30 milhões, e desgraça de todo o resto, estava ficando mais perto.
Para começar a abrir as cervejas em todos os bares, foi a vez do outro veterano do grupo bostero, Schiavi, errar numa saída de bola. Emerson fez uma arrancada fulminante que só foi parar após pular a placar publicitária para comemorar o segundo com a torcida. Emerson ainda iria provocar um zagueiro argentino, para delírio de qualquer torcedor do mundo.
Sport Club Corinthians Paulista campeão da Libertadores de América (com o apelido do Banco Santander, que nojo!!!).
A imagem descrita de Andrés e Rosemberg abraçados antes do jogo, sem dizerem uma palavra sequer, representa o que é esse título. Não a melhor, mas a mais fascinante torcida do Brasil não irá se cansar de gritar: É campeão! As piadas acabaram…