11 de julho, Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes
A frase que dá título a esta coluna foi proferida por um trabalhador do ramo metalúrgico após cruzar com cerca de seis policiais militares dentro do refeitório da empresa. Fatos assim são decorrentes no cotidiano de qualquer cidadão neste país “livre” chamado Brasil.
Está coluna já tratou deste assunto, mas não somos nós os redundantes, e sim os mesmos fatos que ocorrem frequentemente. No de futebol parece existir uma espécie de igualdade entre os torcedores, onde todos são tratados como baderneiros.
Um dos articulistas desta coluna já foi chamado de vagabundo na porta do estádio, sem motivo algum. A organização de filas, ou até mesmo das acomodações dentro dos estádios, costuma ser, na "melhor" das hipóteses, com o cassetete. Melhor porque por vezes acontece com bombas de efeito moral, gás de pimenta ou tiros de borracha. Basta ver imagens da final da Libertadores no Pacaembu.
E a imprensa livre?
Muito se discute em terras tupiniquins sobre a liberdade de imprensa (leia-se, liberdade da empresa agir como quiser na radiodifusão), principalmente os programas de humor “jornalístico” (que em nossa opinião não há espaço para essa fusão), mas e a imprensa tradicional, como fica?
Um fato que consideramos, no mínimo, lamentável ocorreu na chegada do craque Diego Forlán a Porto Alegre, no sábado passado (07). A torcida colorada lotou o Aeroporto Salgado Filho. Grande parte da imprensa esportiva gaúcha estava presente no local, afinal o melhor jogador da última Copa do Mundo chegaria à capital do Rio Grande do Sul.
Tudo ocorria dentro da normalidade até que o repórter fotográfico do portal Sul 21 (o melhor noticioso do Rio Grande Sul), Ramiro Furquin diz ter sido agredido com uma tapa na nuca por um soldado da Brigada Militar, do 11º Batalhão. A tentativa seria a de abrir espaço para passagem do microônibus que carregava o jogador e que foi “interceptado” pelos torcedores. Mesmo se identificando como jornalista, o repórter voltou ser agredido pelas costas após fotografar o rosto do soldado.
Independente de o Ramiro estar ou não trabalhando, ser ou não profissional da imprensa (e ele é), de forma alguma deve-se agredir pessoas para abrir passagem para um microônibus! Ainda mais por ser uma demonstração de carinho com um jogador. Alguns chamam isso de despreparo por parte da corporação, mas esse tipo de atitude vai além disso: é uma falta de respeito com o direito do cidadão. Lembrando que ambos estavam no local a trabalho, sendo assim precisam ser tratados de forma igual.
Saída
Cada vez mais procuramos uma saída para esses fatos que mancham o futebol, mesmo que longe das canchas. Ocorre-se isso com um profissional de imprensa (não que estes merecem maior respeito, mas costumam estar identificados e são mais conhecidos), o que dirá o que ocorre com pessoas anônimas, sem espaço para defesa?
Até quando isso continuará impune? Todas as vezes que vemos um responsável pela Brigada Militar se pronunciar é prometida uma investigação, que duvidamos muito que ocorra, com os responsáveis punidos. Não só a quem comete estes atos, mas quem “cria” estes profissionais para isso.
Enquanto isso, o repórter vai para casa, divulga seu trabalho e espera pelo dia em que poderá trabalhar sem “sofrer censura” por parte de quem deveria estar lhe protegendo e dano total segurança para que exerça seu trabalho.
Não para por aí – I
No início da semana veio a notícia de que a Polícia Militar do Paraná proibiu a torcida do Coritiba de recepcionar o time antes do confronto final pela Copa do Brasil, nesta quarta-feira contra o Palmeiras.
A ideia dos torcedores era fazer um caminho com sinalizadores de cor verde em quatro quadras do lado de fora do Couto Pereira, com o nome de “Mauá em fogo”. O organizador reclamou que além de proibirem, os policiais ameaçaram ao dizer que usariam a força física para coibir tal ato.
Volta-se àquela velha questão, tratada aqui após a primeira final da Libertadores: querem proibir o torcedor de apoiar o time?
Lembramos ainda que os torcedores palmeirenses fizeram algo parecido em Barueri. Tirando as agressões a carros de reportagens, especialmente ao da Band, por conta do Neto, este processo foi tranquilo, sem “traumas”. Não foi isso que causou a situação de violência – que ainda contou, para variar, com a “participação” policial.
Não para por aí – II
Agora uma notícia que só sabemos porque um desses articulistas é alagoano – porque mídia nacional nada, né? Um torcedor do CRB foi morto com um tiro na saída do Estádio Rei Pelé após a vitória por 4 a 2 contra o América de Natal, pela Série B, “coincidentemente” também no último sábado (07).
O Comando de Policiamento da Capital (CPC) afirmou na segunda-feira que a Polícia Militar cometeu, em resumo, todos os erros possíveis e imagináveis. Ainda mais se pensarmos que no Norte, no Nordeste e no Sudeste há parcerias entre torcidas organizadas.
O comandante do Policiamento de Maceió disse que faltou a torcida do América solicitar a escolta policial, como fariam as outras, de forma que não se sabia quantos ônibus de torcedores sairiam de Natal – por mais que sites alagoanos e potiguares tenham exposto isto dias antes…
Os torcedores do América entraram no Rei Pelé sem uma revista correta, já que duas fortes bombas foram atiradas para o setor de baixo da arquibancada em que estavam. Só depois disso é que os torcedores foram devidamente revistados.
Na saída do estádio, as duas torcidas saíram no mesmo horário e sem qualquer isolamento para evitar confronto entre elas. No meio do tumulto, um “torcedor” (bote aspas nisso) americano puxou uma arma e deu o tiro que matou Jônatas Daniel dos Santos, de 24 anos.
Enquanto a polícia no Brasil não aprender sobre o que e como ela realmente deve trabalhar, casos como os que foram relatados nesta coluna continuarão a acontecer.
Chamar torcedor de "vagabundo", bater primeiro e perguntar depois quem é que estava brigando e coisas do tipo só espalha a violência, jamais controla.