18 de julho, Bruno Lima Rocha
Ainda estou boquiaberto com a declaração do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o bancário Vagner Freitas, de que a central poderia mobilizar-se pela garantia de um julgamento “técnico” dos réus do Mensalão.
Pouco tempo atrás publiquei um texto comparando a famigerada foto de Lula abraçado a Maluf como um atentado a memória dos contemporâneos de Luiz Inácio nas lutas históricas do ABC. Cheguei a afirmar ser o registro do pragmatismo político um segundo assassinato de Santo Dias, por sinal morto pela polícia militar então comandada pelo arenista hoje mui apreciado parlamentar federal.
Como tudo o que está ruim ainda pode piorar, agora cai por terra – talvez definitivamente – o último suspiro de independência de classe de uma central sindical que nascera durante a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) de1981, vindo a se constituir como o elo de força dos então autênticos em 1983.
Ao contrário dos analistas midiaticamente consagrados, não reclamo jamais quando os sindicatos detêm poder de barganha, organizam milhões e operam como panela de pressão na garantia dos direitos econômicos e sociais da maioria.
Justo ao inverso, enervo-me (e muito) ao ver o pouco de cultura de antagonismo que restara ser jogado fora por um jogo de pressões mal resolvido, entre as correntes político-sindicais que operam entre CUT e PT e a falta de correspondência no exercício do Poder Executivo em função do bloco governista.
Ou seja, qualquer pessoa com um mínimo de identidade militante considerará intolerável atirar no lixo o poder simbólico e os recursos da classe justamente para defender os líderes políticos que pactuaram com antigos inimigos para garantir a tal da governabilidade a todo preço (literalmente).
Não foi esta a primeira aproximação das bases cutistas para defender o governo de centro-esquerda “em disputa”.
Em 2005 saíram com timidez para as ruas, simultaneamente ao inesquecível depoimento de Duda Mendonça.
Se na época já não pegou bem, sete anos depois a imagem é ainda pior. Se o país mudou parcialmente para melhor – pagando o preço de compor forças com banqueiros, oligarcas, latifundiários e grandes empreiteiras – as seis centrais sindicais existentes pouco ou nada arrancaram de conquistas neste período.
Infelizmente o movimento sindical brasileiro tem de ser reinventado, renascendo bem longe de subordinações político-partidárias. Por mais “criativos” que sejam alguns dirigentes, discursos vazios se esgotam diante destas evidências.
Texto publicado originalmente no Blog do Noblat.