18 de julho, Bruno Lima Rocha
Escrevo de Durban, África do Sul, aonde vim a trabalho atender ao Congresso Mundial de Pesquisadores em Comunicação, em particular de seu grupo de Economia Política.
Nesta área, uma parte considerável de nós está se dedicando a estudar as relações da mídia especializada (“jornalismo” econômico) e a triangulação entre esses comunicadores, analistas de mercado (pró-mercado e contra os reguladores) e os jogadores (apostadores no cassino financeiro).
Particularmente, dedico-me ao tema desde setembro de 2008, havendo difundido nesta publicação as evidências dos estudos.
Infelizmente, estamos chegando à mesma conclusão em escala global, o que apenas indica o poder quase absoluto dos agentes financeiros nos dias de hoje. Como se sabe, a partir da década de ’70, com o desenvolvimento das telecomunicações por satélite, o fluxo de bens simbólicos, sejam notícias ou contratos de dívida no curto prazo, trafegam pela mesma infra-estrutura instalada.
Materializando, a mesma infovia que traz estas palavras faz trafegar transações financeiras, a maior parte destas sem lastro ou resgate possível. Por vezes, a velocidade transacional é simultânea da difusão destes negócios. Daí a espalhar boataria e plantar informação é um pulo, aliás, processo magistralmente narrado no filme Wall Street II.
Ou seja, os sistemas de informação e seus informantes se complementam.
O resultado é uma lacuna democrática, onde cidadãos de países inteiros não compreendem os enunciados e a maior parte das narrativas sobre a farsa com nome de crise (em escala mundial me refiro) sequer expõe as relações de causa e efeito.
Se fosse numa turma de redação jornalística I, todos seriam reprovados, por simplesmente não fazer um mísero lide, omitindo assim a fatos, aos responsáveis, o contraditório e as possíveis consequências.
Há um ano tive a oportunidade de expor o papel nefasto que o Wall Street Journal (News Corp) teve no ataque aos papéis gregos e agora apresentamos um estudo sobre como o semanário The Economist (fonte de sabedoria para os “especialistas”) simplesmente omitiu os porquês da “crise” no segundo semestre de 2008.
As consequências são desesperadoras. Em dados aproximados, hoje circulam pelo planeta em títulos, compromissos e obrigações financeiras (com ou sem lastro) valores 356% acima do PIB do planeta!
Já a “crise” que ninguém explica, e suas causas são omitidas, torrou US$ 17 trilhões de dólares, entre queima de capital e transferência direta dos Estados para os bancos privados.
Texto publicado originalmente no Blog do Noblat.