Boas estruturas e resultados diferentes. O problema do futebol é maior do que se comenta, o feminino que o diga - Foto:Edu Pitoresco
Boas estruturas e resultados diferentes. O problema do futebol é maior do que se comenta, o feminino que o diga
Foto:Edu Pitoresco

17 de agosto, Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

A derrota para a França na Copa do Mundo de 1998 serviu como um divisor de águas para a equipe nacional de futebol masculino. Reerguida a história canarinha nos Estados Unidos, em 1994, rapidamente virou-se para uma “SeleNike”, vendida, com direito a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre uma possível venda do título mundial para os franceses.

O que se descobriu, ao final do processo, foi que o problema era uma estrutura de comando viciada, com forte representação na entidade internacional, através de nomes como Ricardo Teixeira e João Havelange, mas nada foi feito para averiguar os casos. O Brasil venceu outro mundial em 2002 e falhou nos dois últimos. As desculpas se multiplicam, mas a mudança estrutural segue sem ocorrer, mesmo com a saída de RT. O “tão esperado ouro” não veio com uma equipe para lá de favorita, base do time “adulto”, e serviu como mais um capítulo para tirar o foco do problema maior do nosso (?) futebol: a direção.

Vamos mudar! Vamos?

Se após 2006 a “desculpa” oficial da CBF era que transformou-se em show o que deveria ser uma preparação para a Copa do Mundo – algo que ela mesma permitiu e, literalmente, vendeu –, após a fortaleza criada por Dunga na África do Sul, comandando um time de “confiança” do treinador, mudou-se o discurso. Era preciso renovação, e urgente!

No já longínquo ano de 2010, quando Mano Menezes fez sua estréia no comando da seleção brasileira, vencendo os Estados Unidos por 2 a 0, com boas atuações de Neymar, André e Ganso, a mídia tupiniquim exaltou o novo técnico. O futebol arte havia voltado. Tudo estava no seu devido lugar. Todos davam a entender que se seu antecessor tivesse feito o mesmo teria voltado da África do Sul meses antes com o hexacampeonato. A renovação estava sendo feita, os substitutos de R9 e R10 estavam aos olhos de todos, somente Dunga não havia visto o óbvio.

Mas bastou o primeiro tropeço para a rival Argentina para surgirem as primeiras contestações. Afinal, os adversários anteriores não eram considerados de primeira linha. O Brasil havia vencido o EUA por 2 a 0, o Irã por 3 a 0 e a Ucrânia, novamente por 2 a 0. Mas o trabalho seguia. A seleção canarinho não entraria mais em campo em 2010 e tropeços deveriam ocorrer com uma equipe renovada.

Veio 2011

2011 começou da mesma maneira que se encerrara o ano anterior, nova derrota por 1 a 0, desta vez para a carrasca seleção francesa – com um chute de quatro pontos de taekwondo de Hernanes ainda no primeiro tempo.

As vitórias nos amistosos contra Escócia e Romênia amenizaram os ânimos, até que veio a Copa América. Após uma pífia campanha na primeira fase, quando o Brasil venceu apenas um dos três jogos, a equipe foi eliminada nos pênaltis para a fraca, mas aguerrida, seleção paraguaia. Quer dizer, foi eliminada em sua melhor atuação no torneio, perdendo quatro dos quatro penais batidos.

O trabalho de Mano Menezes passou a ser muito contestado. Parte da imprensa pedia a queda do técnico brasileiro, pois este não sabia armar o time, não sabia convocar e passou a ser um péssimo treinador. Até Ronaldinho, xodó da imprensa nacional, não merecia sequer ser convocado, imagina titular e com a braçadeira de capitão!

É, algo estava muito ruim para o lado de Mano. Murici Ramalho, que negou o convite de forma estranha anteriormente, voltava a ganhar força, pois conseguia fazer Neymar jogar, e cada vez melhor. Ainda assim, o gaúcho Mano Menezes seguia firme no cargo, tinha o aval de Andres Sanchez, agora alçado ao posto de diretor de seleções.

A busca pelo ouro

2012 era ano olímpico, a medalha de ouro tão sonhada pelo Brasil no futebol estaria por vir, afinal a nova safra de jogadores de até 23 anos era muito boa. A seleção sub-20, com destaque para nomes como Neymar, Oscar e Lucas, ganhou os dois últimos torneios que havia disputado, o Sul-Americano e o Mundial da categoria, sob o comando de Nei Franco, que entregou o time a Mano Menezes pouco antes dos jogos de Londres.

Ainda que balançando no cargo após a saída de Ricardo Teixeira e a "paulistinização" do poder na CBF, com recuo da imagem de Andres Sanchez, Mano Menezes tinha as Olimpíadas como grande avaliadora de seu trabalho. Junto a Uruguai e Espanha, que caíram já na primeira fase, o time olímpico, base da seleção principal, era favorito ao título.

Mesmo sem encantar, a seleção brasileira chegou com certa tranquilidade à final, contando, inclusive, com uma ajudinha aqui e outra ali da arbitragem. Já na primeira partida, um sinal do que estaria por vir. Vitória por 3 a 2 para o Egito após fazer três gols em menos de meia hora e deixar-nos crer que o time poderia ser imbatível. Não era.

Na fase inicial, mais três gols contra Bielorússia e Nova Zelândia. Agora sem uruguaios e espanhóis, o caminho parecia muito, mas, muito mais fácil. Ainda assim não foi. Honduras ficou no caminho nas quartas de final graças a dois jogadores expulsos, e ainda de virada, 3 a 2.

Na semifinal, novos 3 gols, agora sem sofrer nenhum, contra a Coréia do Sul. A final contra o México trazia o time que tinha lampejos de “futebol brasileiro”, mas que chegara até ali mais graças ao oportunismo de Leandro Damião que às habilidades de Oscar (o novo 10 tão esperado, já que Ganso parece naufragar dia após dia) e Neymar.

O México vinha de vitórias sobre o Brasil nas últimas partidas, inclusive em mundiais das categorias de base. Porém, o pensamento geral era que Neymar, Oscar, Damião e cia. passariam fácil por eles. Tudo bem, temos que destacar que muitos torcedores acompanhavam a final torcendo para que perdessem. Afinal, o que esperar de um time que optou por se separar dos outros esportes, para que não o atrapalhassem? Fora se tratar, individualmente, de pessoas que ganham infinitas vezes mais que a soma de todos os outros esportes ditos “amadores”. Torcer para um time com a CBF tendo quem tem no comando também seria difícil…

O Brasil perdeu o jogo logo no início, antes de completar o primeiro minuto. Rafael tentou sair driblando, complicou uma defesa que já era complicada e Peralta abriu o placar, com 28 segundos.

Os novos craques brasileiros sucumbiam ao bom time mexicano, que suportou bem as investidas brasileiras e ainda conseguiu marcar o segundo gol, em bola parada, com nova falha bisonha da defesa. Peralta, autor dos dois gols, virará nome de rua no México, com todo o merecimento possível.

Críticas e mais críticas choveram aos jogadores brasileiros. Pouc@s tiveram a consciência de criticar o comando para além de Mano. No final, Hulk, a contestada aposta de mais de 23 anos do treinador, diminuiu o placar e Oscar teve a chance de empatar o jogo, levar à prorrogação e apaziguar os ânimos dos “revoltados de momento”. Mas não o fez.

O torcedor brasileiro mais uma vez viu o sonho do ouro olímpico escapar pelas mãos. Pela terceira vez a seleção canarinho voltou com a medalha de prata, e como para o futebol brasileiro só a vitoria interessa, estamos diante de um novo fracasso.

Enquanto isso…

Enquanto isso, o time feminino vinha a Londres numa fase ruim, com troca de treinador logo após o Mundial do ano passado, em que perdemos a vaga nas semifinais nos pênaltis contra os Estados Unidos.

A volta de Jorge Barcellos, agregada a um projeto para o futebol feminino vindo do Ministério dos Esportes, uma das grandes ações de Aldo Rebelo – que também foi o relator do nefasto e recente Código Florestal –, parecia que poderia gerar, finalmente, boas mudanças para a modalidade.

Desde 2004, quando as meninas perderam o ouro para as estadunidenses que a conversa é a mesma. Tod@s sabem que precisamos melhorar a estrutura para as jogadoras nacionais, mas quase nada é feito. Falamos em Atenas 2004, mas o Brasil participou das semifinais olímpicas de 1996 e 2000, com grande destaque para a meia Sissi, com importantes vitórias aparecendo ainda no final da década de 1990.

Porém, as invencionices continuaram. A lateral direita Maurine seguia na esquerda; a meia-atacante Érica seguia como líbero, ou seja, como zagueira; zagueira foi colocada na lateral posteriormente; e, para piorar, duas das três zagueiras titulares, dupla formada por Daiane Bagé e Aline Pelegrino, não iniciaram uma partida.

Na primeira partida, o diferencial de uma das craques do time. Cristiane entrou no segundo tempo e fez Marta jogar como sabe. Goleada de 5 a 0 sobre Camarões na rodada inicial. Depois, sufoco para vencer a Nova Zelândia por 1 a 0 e derrota para o Reino Unido por 1 a 0, o que forçou a equipe a jogar com as japonesas, atuais campeãs mundiais, já nas quartas de final – frisando que o Japão forçou um empate na última rodada contra a África do Sul para não pegar times mais “fortes”.

Começamos bem, marcando em cima e criando boas oportunidades, mas bastou sair o primeiro gol japonês para tudo mudar. Derrota por 2 a 0 para uma geração formada por craques como Formiga, Marta e Cristiane, que pode ter se despedido de grandes torneios. O que abre um grande problema para o futuro: como formar jogadoras de tão alto nível?

Ainda não temos a resposta. Érica e Maurine são grandes jogadoras, mas desde que em suas posições de origem. Thaís e Debinha – esta foi cortada e não participou dos Jogos – são habilidosas, mas precisam de um bom treinador para dosar técnica com inteligência para escapar das marcadoras. Mas é muito pouco.

Quem acompanha as meninas nos mundiais das categorias de base sabe bem o quão é difícil para elas. Os times “de baixo” geralmente não fazem boas campanhas, o que reflete a quase plena falta de estrutura, com mais times e nos mais diversos lugares do país, para gerar novas boas atletas. Ainda continuamos a ter abnegadas que entram em campo pelo amor ao esporte – como ocorre com tantos outros e outras atletas brasileiros.

No último ciclo olímpico, pudemos ver o Santos montando uma grande equipe, com a base da seleção, mas depois desistindo do projeto – mesmo que tenha aparecido apoio. Ao mesmo tempo, temos casos curiosos, como o do Vitória, de Santo Antão-PE, que tem no futebol feminino o principal negócio do clube; assim como o São José, de São Paulo, atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores.

Futuro?

Maluf Marín disse que Mano continua no comando da seleção masculina, mas nada falou sobre a seleção feminina.

Dá para confiar que o ex-técnico do Corinthians chega a 2014? Não. Até mesmo porque no ranking da Fifa o Brasil vai superando, mês após mês, a “pior colocação da história”. Resta saber se haverá paciência até, ao menos, a Copa das Confederações, já no ano que vem.
Vale lembrar também que o contrato de certo técnico, campeão mundial com a Seleção em 2002, acaba no final do ano.

Fato é que enquanto não criticarmos também as estruturas de poder que comandam da forma como querem o futebol no Brasil, independente de modalidade, a tendência é que os tropeços façam @s torcedores jogarem pedras n@s jogadores, enquanto que um título ou outro apague as críticas.

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