Até junho de 2012, o Goldman possuía ações no maior grupo comunicacional argentino - Foto:krachinfo.blogspot.com
Até junho de 2012, o Goldman possuía ações no maior grupo comunicacional argentino
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Coletivo Nieg-Cepos

O Brasil teve a sua primeira etapa de entrada de capital estrangeiro nos grupos de comunicação em 2002, com a autorização de 30% para a participação de entes de outros países no capital destas empresas, que viviam um momento de forte crise econômica, motivada, principalmente, pela grande desvalorização do real, que multiplicou em algumas vezes as dívidas. Só para citar um exemplo, o Grupo Abril vendeu 30% de suas ações para os sul-africanos do Naspers.

Na Argentina, a possibilidade de ingresso de capital estrangeiro ocorreu em 1999. Porém, a nossa surpresa foi verificar que de lá até junho deste ano, o banco Goldman Sachs, sobre o qual falamos de sua “onipresença” na coluna anterior, possuiu de 7% a 18% das ações do principal conglomerado de comunicação argentino, o Grupo Clarín S.A.

Na página do grupo na internet, há a explicação de que a associação, com participação de 18% nas ações, inscreveu-se no caminho proposto pelo Clarín, já em 1994, de começar a preparar sua estrutura para a entrada no mercado internacional de capitais, tendo o objetivo de abrir gradualmente seu capital e cotizar publicamente parte de suas ações.

Um caso “clássico” do que se chama na Economia Política da Comunicação de matrizes brasileiras de “Fase da Multiplicidade da Oferta”. Período, com início demarcado para a década de 1990, que se dá sob forte contexto de aplicação de políticas neoliberais, com o afrouxamento de normas, regulações e fiscalização sobre os mercados, que acaba por refletir a entrada de novos atores nos mais diferentes negócios. No caso da mídia, há uma maior participação de empresas estrangeiras e de fora deste mercado.

Tendo em vista a necessidade de “diálogo” de líderes nacionais com empresas transnacionais, principalmente em busca de recursos que permitam uma disputa com entes internacionais, com maior quantidade de receitas, o grupo argentino explica da seguinte maneira, em seu site, a importância desta associação com o Goldman Sachs:

“O Grupo Clarín contempla esta associação tanto em termos financeiros como em termos estratégicos. Além de seu aporte financeiro, Goldman Sachs aporta seu amplo conhecimento dos mercados de capitais globais e das indústrias de mídias, tecnologia e comunicacionais”.

As empresas que formavam esta espécie de “fundo de ações” no Clarín eram: GS Unidos, LLC; GS Private Equity Partners II Direct Investment Fund, LP; GS Capital Partners III; e GS Private Equity Partners 1999 Direct Investment Fund, LP.

Em junho deste ano, inclusive como reflexo das mudanças na comunicação argentina com a aprovação da Ley de Medios – e a consecutiva aprovação judicial de algumas de suas determinações –, os principais grupos comunicacionais precisam realizar movimentos de forma a “desmonopolizar” determinados produtos. O investidor estadunidense Ralph F. Booth adquiriu 9,11% do capital, que representavam 7,7% das ações, que possuía a Goldman Sachs.

Segundo o pesquisador argentino Mochkofsky, citado num artigo de Ezequiel Yebara sobre o programa “Fútbol para Todos”, uma das situações que gerou tensão entre o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e o Grupo Clarín – tensão esta que redundou na aprovação da Ley de Medios – teria sido a possibilidade de o então senador comprar os 18% das ações que pertenciam ao Goldman Sachs.

Portanto, mais um caso em que um banco de investimento deste porte passa a atuar num outro mercado, cujo “produto” é cada vez mais importante: a produção de informação e, consequentemente, o repasse da ideologia da classe hegemônica.

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