Jovens chilenos participam de movimentos sociais e resistem ao individualismo do modelo neoliberal que a ditadura de Pinochet instaurou no país. - Foto:Outras Palavras
Jovens chilenos participam de movimentos sociais e resistem ao individualismo do modelo neoliberal que a ditadura de Pinochet instaurou no país.
Foto:Outras Palavras

17 de setembro, Bruno Lima Rocha

A data de 11 de setembro é um marco na história contemporânea. Em 2001, o território dos EUA fora atacado diretamente, no maior atentado terrorista da história. Três décadas antes, o próprio Império operara um golpe de Estado contra o governo eleito do chileno Salvador Allende.

Na ocasião, duas máximas da análise política moderna foram confirmadas. A primeira reforçava a premissa que não há transição pacífica de um sistema social para outro. A segunda materializa o princípio neoliberal da “liberdade de mercado” como superior à liberdade política.

A ditadura de Augusto Pinochet tinha como estrutura de poder as forças armadas e de segurança, decretando Estado de Sítio interno e, para além de reprimir os partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares, dissolvia a estrutura econômica chilena (de base estatal e cooperativa), afirmando uma privatização selvagem e a falta absoluta de regulação das forças produtivas e de circulação de riquezas.

A carnificina dos campos de concentração vinha acompanhada da “novidade” oriunda da ascensão dos chamados Chicago Boys. Milton Friedman formara uma legião de seguidores, em especial a partir do convênio de intercâmbio (e lavagem cerebral) entre a faculdade de economia da ChicagoUniversity junto a Universidade Católica do Chile.

Esta nova camada de tecnocratas motivadas por ideologia neoliberal pensava em termos de equações matemáticas da teoria econômica neoclássica e dilacerava o patrimônio público.Os chilenos logo os apelidaram de “piranhas vorazes”, como um cardume de peixes carnívoros.

Mensurar as mazelas da ditadura de Pinochet vem sendo algo difícil em função do elogio ao “modelo chileno”. Três alvos deste “próspero” regime foram, de cara, a venda de empresas estatais, a poupança interna e privatização do sistema de previdência social.

Obviamente que o modelo de financiamento do Estado faliu no início dos anos ’80, logo após a Conferência da Sociedade de Mont-Pélerin, quando a gangue de Friedman se reunira em Viña del Mar (novembro de 1981), sendo que o próprio guru fora recebido pessoalmente por Pinochet.

Outra transformação, essa mais profunda, foi de base cultural. A ditadura conseguiu adeptos pela sua matriz econômica. Aplicando a fórmula de Schumpeter, as transformações nas bases das estruturas produtivas operam sobre a cultura e o mundo do trabalho. Isto leva, em termos concretos, ao individualismo crescente, estando a vida privada como valor primeiro, acima das formas coletivas associativas.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat.

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